quinta-feira, 28 de abril de 2016

DESTRUIÇÃO DO ESTADO NACIONAL/GOVERNO MICHEL TEMER (FHC)


A desvinculação de receitas da União (DRU) foi adotada em 1994, pelo governo neoliberal autárquico de Fernando Henrique Cardoso, quando da implementação do Plano Real. O seu objetivo principal é: aumentar a flexibilidade para que o governo use os recursos do orçamento nas despesas que considerar de maior prioridade. A desvinculação de receitas da União é uma ideia do PSDB de FHC. Este foi o conceito miraculoso econômico do Plano Real que salvou o capital dependente e associado paulista! Porém, chutou a crise estrutural da economia brasileira para a atual conjuntura cultural política econômica!   
Artigo 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultantes de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
O artigo 212 condensava a vontade cultural política dos constituintes. Tal vontade pensava e escrevia na Constituição a relação do Estado com as massas em termos de construção do Estado Nacional 1988. Dirigindo os trabalhos da Constituinte, o PMDB se apresentava como classe política das massas nacional-popular. Vincular receitas à previdência e à esfera da Saúde apontava para o vínculo essencial nacional-popular com as massas sujeito zero ditatorial em um sentido inverso ao do Estado militar retratado no livro de Octávio Ianni “A ditadura do grande capital” dependente e associado paulista.
Tal ditadura foi também a ditadura das altas classes médias eleitas por uma economia subcapitalista oligárquica como a sociedade de consumo brasileira de produtos de luxo, como mostrou Celso Furtado no seu esplendido livro “Criatividade e dependência na civilização industrial”. Tais massas de classe média eram as massas-apoio do Estado militar nacional. Quando elas foram atingidas pela crise econômica se constituíram nas primeiras massas nas ruas do Rio a exigir o fim da ditadura militar. Sua lealdade ao Estado militar Nacional era meramente economicista.
Os governos de FHC estavam preocupados com a indústria paulista. O Plano Real foi feito para salvar tal indústria da crise econômica destruidora da década de 1980. Em aliança com o capital fictício financeiro mundial, a indústria paulista continuou a dominar a economia brasileira e a nossa política nacional. O Estado nacional de FHC é um Estado paulista industrial desligado das massas populares e que jamais se preocupou com a Nação. Logo, é um Estado nacional fictício!
A era Lula teve a preocupação de integrar no Estado nacional as massas lumpesinais, principalmente, do Nordeste de onde sai a classe política federal que dirige o pais a partir do Senado Federal, pois, tal Senado se recusa a ser um Senado Nacional. O Estado nacional de Lula e do PT foi, essencialmente, um Estado nacional nordestino lumpesinal.
Com Lula e o PT a política se transformou no real que significa, por definição, destruição de cultura política intelectual (destruição econômica e biológica das massas sujeito zero morte), e, por tabela, destruição da cultura política econômica industrial paulista, do setor de serviços e do capitalismo de commodities, que não se mantém mais sobre as próprias pernas por causa da crise chinesa -  mercado das commodities brasileiras.      
A jornalista Andreia Sadi da Globo News deu a notícia que a burguesia paulista e os oligarcas do agronegócio esperavam ansiosamente. A desvinculação das receitas da União será geral e irrestritas. Trata-se de uma exigência do banqueiro Henrique Meireles (que adora tomar leite nas tetas do Estado) para assumir o comando da economia. No comando do PSDB, Aécio Neves queria manter o partido fora do governo Temer. Isolado no partido, FHC resolveu apoiar Temer para retomar o comando do partido mesmo que isso signifique a destruição do Estado nacional. Assim, ele completa a obra de 1994, cujo objetivo perseguido era a instalação do Estado mínimo neoliberal paulista - grau zero do Estado nacional. Para isso é preciso destruir o Estado nacional e também a essência da Constituição de 1988.
 A destruição do Estado nacional parece ser um mecanismo de autodestruição da classe política nacional. Por que, para que ela vai continuar existindo se não terá um Estado para governar e nem massas intelectuais ou populares para gerir? O governo temer mantém a ideia do Estado lumpesinal nordestino como representante da nação. Trata-se de uma excrecência lulo/petista que não evitará a lógica do pior! Hoje, tal Estado lumpesinal é a cultura política de gestão trans-subjetiva das massas sujeito zero democrático nordestino pela velha oligarquia dos coronéis do "Sertão" da política. O capo de tais coronéis é Renan Calheiros!   
De onde Temer extrai a legitimidade para destruir o Estado e o espírito da Constituição de 1988? Ele, FHC, José Serra, Aloysio Nunes Ferreira, Ronaldo Caiado (antigo chefe-guerreiro da UDR, um bandeirante do Centro-Oeste), o poeta do colégio São Vicente (Rio) Cássio Cunha Lima creem na legitimidade adquirida junto às massas paulistas de classe média alta que querem derrubar Dilma Rousseff. Mas elas querem também ver Temer longe do governo nacional.
Rigorosamente, Temer e seu bando oligárquico-burguês de políticos não tem legitimidade junto às massas paulistas. O passo que eles querem dar pode acabar em rebelião popular e em ditadura fascista eletrônica oligárquica-paulista. A ditadura fascista eletrônica seria a continuação por outros meios da ditadura militar, do Estado militar sem Estado.
A destruição do Estado nacional atual significa que não haverá dinheiro para pagar juízes, políticos e militares, também! É o fim das grandes carreiras públicas nacionais. A classe política vive o tempo de Hamlet: “The times is out of joint”. O tempo da política enlouqueceu. A classe política enlouqueceu. Temer é apenas um Hamlet verdadeiramente louco!
O país está nas mãos de uma classe política que sofre de um delírio psicótico de grandeza, como seu mestre FHC!   
A arrogância narcísica psicótica de FHC sempre foi conhecida. Na universidade ele se autodenominava o Príncipe da Sociologia latino-americana. A ideia do Estado fascista eletrônico paulista saiu da cabeça dele, não saiu dos cérebros de Serra, Aécio ou Temer. Ele faz tudo isso com medo da velhice e da morte, com medo de morrer tendo ao seu lado na cama apenas sua jovem mulher e os parentes. Ele só se consola com um enterro de estadista. Seu medo faz da política uma máquina de guerra de destruição do Estado Nacional e das massas intelectuais e populares da terceira-idade.
Com o bando de FHC/Temer o pais mergulha na parte escura da crise brasileira que pode resultar ou na ditadura do funcionalismo público judiciário/militar ou na ditadura das massas semelhante à ditadura das massas da minha cidade no século XIX: CABANAGEM! Mas como vocês sabem nada da cultura política do Norte, ignoram o que as massas cabanas fizeram com a elite aristocrática de Belém do Pará!
A política devora seus próprios filhos!    
             

                       

sábado, 23 de abril de 2016

FILOSOFIA POLÍTICA ECLÉTICA (PRIMEIRO TEXTO)


A republica romana é a forma mista de governo articulada a partir das três formas de governo mais reconhecidas da cultura política universal: monarquia, aristocracia e governo popular (das massas sujeito zero social).
O que se observa no texto de Cícero é a articulação de uma linguagem política banhada a ouro pelo princípio do narcisismo aristocrático. Nenhum sistema político sério sobrevive na cultura política universal se a energia mítica narcísica não se condensa na classe governante (classe necessariamente aristocrática verdadeira). Tal axioma tem que ser observado na tela gramatical plástica da política, conceito de Cícero que faz pendant como o significante cultura política. Passemos para o texto de Cícero.
A tela política gramatical plástica está exposta sem subterfúgios:
“ Assim, antes da nossa época, vemos a força dos costumes elevar varões insignes, que por sua parte procuravam perpetuar as tradições dos seus antepassados. Nossa idade, ao contrário, depois de ter recebido a República como uma pintura insigne, em que o tempo começara a apagar as cores, não só não cuidou de restaurá-la, dando novo brilho às antigas cores, como nem mesmo se ocupou em conservar pelo menos o desenho e os últimos contornos. Que resta daqueles costumes antigos, dos quais se disse terem sido a glória romana? O pó do esquecimento que os cobre impede, não já que sejam seguidos, mas conhecidos. Que direi dos homens? Sua penúria arruinou os costumes; é esse um mal cuja explicação foge ao alcance da nossa inteligência, mas pelo qual somos responsáveis como por um crime capital. Nossos vícios, e não outra causa, fizeram que, conservando o nome de República, a tenhamos já perdido” (Cícero: 183).
O nome República conservado no discurso político não significa garantia da ex-sistência do fenômeno republica. Hoje no Brasil, o discurso político se refere insistentemente ao nome República. Mas o fenômeno ex-siste na realidade dos fatos? Cícero é o mais reconhecido nome da filosofia eclética da antiguidade romana. Espantem-se! Ele foi o primeiro escritor a apresentar na tela gramatical política da filosofia eclética verdadeira (pensamento político da antiguidade após Platão e Aristóteles) o significante República. Para diluir o ceticismo dos filósofos modernos oferecemos o texto ciceroano:
“ I. ‘Se Roma existe, é por seus homens e seus hábitos’.
- A brevidade e a verdade desse verso fazem com que seja, para mim, um verdadeiro oráculo. Com efeito: sem nossas instituições antigas, sem nossas tradições venerandas, sem nossos singulares heróis, teria sido impossível aos mais ilustres cidadãos fundar e manter, durante tão longo tempo, o império de nossa República” (Idem: 183).

A cultura política é instituição, tradição (que pesa como chumbo no cérebro dos vivos), heróis singulares, fundação e conservação da política. Ela é a articulação de processos trans-subjetivos (tradição), forma objetiva (instituição) e biografias heroicas (interseção da subjetividade com o trans-subjetivo). Meus contemporâneos podem não acreditar, mas este significante se define como cultura política universal.
A propósito, há uma afluição intensa de energia narcísica mítica banhando a cultura política intelectual universal da história mundial condensada no significante virtude: “ o que pode haver de mais belo e preclaro do que a virtude governando a República? ” (Cícero: 157).
Montesquieu estabelece a virtude como um significante trans-subjetivo da cultura política universal: “ A virtude é tão necessária no governo popular quanto na aristocracia. É verdade que aqui ela não é tão absolutamente requerida” (Montesquieu: 146). O Estado popular é o Estado das massas sujeito zero estrangeiro: “ Libânio afirma que em Atenas um estrangeiro que se imiscuísse na assembleia do povo era punido com a morte. É que tal homem usurpava o direito de soberania” (Idem: 132) das massas sujeito zero ditatorial.
Há uma distinção entre formas de governo definitiva: “ Para que o governo monárquico ou despótico se mantenha ou se sustente não é necessário muito de probidade. A força da lei em um, o braço do príncipe sempre erguido no outro, ajusta ou contém tudo. Mas, em um Estado popular, se faz necessário uma força excedente, que é a virtude” (Idem: 144). O muito de probidade não necessária significa o quase grau zero trans-subjetivo na monarquia e na forma de governo despótico. É preciso não confundir a forma política objetiva despotismo com o campo de poder fático ditatorial. Neste há efetivamente processo de trans-subjetivação ditatorial das massas sujeito zero democrático.
O Estado popular é o Estado ligado diretamente ao processo trans-subjetivo das massas. Como trans-subjetividade ethos da polis, a virtude das massas é aquilo que separa a democracia da ditadura das massas. Hoje, há esta repetição incessante de um discurso político que domina, afirmando que vivemos em uma democracia que só ex-siste pelo nome Democracia na Constituição e em tal discurso político. O nome na cultura política pode ser uma simples semblância inautêntica. Não se trata das ilusões naturais e inevitáveis do nosso aparelho sensorial iludido naturalmente com o movimento do Sol levantando-se pela manhã e pondo-se ao entardecer” (Arendt: 31).
A leitura do funcionamento do significante na filosofia política eclética é de difícil compreensão para a filosofia moderna ou pós-modernista. A razão é que, sobretudo, o significante é um trans-significante pelo seu deslizamento do campo da filosofia para a superfície da cultura política intelectual. Tal deslizamento estava esperando alguém que fosse capaz de demonstrar tal fenômeno. Trata-se de alguém no platô da física geopolítica lacaniana.
O uso da tradução portuguesa não impede que a leitura seja realizada. Nos remetemos para o texto de Cícero que é um diálogo e um confronto com o livro A República de Platão: “ – Luta sem descanso para consegui-la – respondeu-me – e fica sabendo que não és mortal, mas teu corpo, porque não és o que pareces por sua forma. O homem está na sua alma, e não naquela figura que com o dedo se pode mostrar. Fica, pois, sabendo que é Deus, se Deus é quem pensa, quem sente, quem recorda, quem provê, quem rege, modera e move o corpo, de que é dono como Deus do mundo, quem, como eterno Deus soberano, move o universo e seu corpo mortal com as energias de seu espírito” (Cícero: 188). Como transformar esta ideia sublime e intrigante para o cérebro do nosso pobre intelectual do século XXI em um problema de cultura política? Deus é a trans-subjetividade como RSI (Real/Simbólico/Imaginário).
O que é a alma associada a Deus como significante da cultura política. O Deus é o Deus de Platão? Deus é o trans-significante RSI (Real/Simbólico/Imaginário) que pensa, sente (campo dos afetos), que guarda a memória cultural política, que provê a riqueza, que rege a política, modera o corpo político e o move em direções que só o trabalho do significante pode realizar. Porém o RSI não é o trabalho sobre a interseção do Real com o SI na articulação da realidade do real (dos fatos) como lógica de sentido semântico, e sim como lógica de sentido gramatical: tela gramatical. Mostrarei isso em um outro texto!
A cultura política é a articulação da lógica de sentido trans-subjetiva das massas sujeito zero semântico. Deus move a política com a energia espiritual narcísica gramatical. A política é articulada trans-subjetivamente por um processo regulado pelo princípio do narcisismo gramatical fazendo pendant com o princípio da realidade freudiano e o princípio do prazer utilitarista (Bentham: 9-11).  
A alma é a própria trans-subjetividade em ação, ou melhor, trans-subjetivação:
“ Uma vez afirmada e demonstrada a eternidade do ser que se move por si mesmo, quem pode negar que a imortalidade é um atributo da alma humana? Tudo o que recebe impulso externo é inanimado, todo ser animado deve ter, ao contrário, um movimento interior e próprio; esta é, pois, a natureza e a força da alma. Com efeito, se somente ela, em todo o Universo, se move por si só, é certo que não teve nascimento e que é eterna. Exercita-a, pois nas coisas melhores, e fica sabendo que nada há de melhor do que o que tende a assegurar o bem-estar da pátria; agitado e excitado o espírito nessas coisas, voará veloz para este santuário, que deve ser e foi sua residência, e ainda virá mais depressa se, em sublimes meditações, contemplando o bom e o belo, romper a prisão material que o prende. A alma dos que, abandonados aos prazeres voluptuosos e corporais, foram, na vida, servos de suas paixões e, obedientes ao impulso se sua voluptuosidade libidinosa, violaram as leis divinas e humanas, vagam errantes, uma vez quebrada a prisão dos corpos, ao redor da Terra, e, só depois da agitação de muitos séculos, tornam a entrar nestes lugares” (Cícero: 188). A trans-subjetividade da cultura política romana pode se tornar de um modo diferente e lúdico uma parcela da trans-subjetividade da cultura política do século XXI? Talvez, se a soberania do mundo-da-vida privado sobre a política deixar de ser o centro da cultura política intelectual mundial. 
Há uma transdialética materialista entre a trans-subjetividade e o corpo como reino dos desejos? A ética do desejo lacaniana é a ética do corpo em um contraponto à trans-subjetividade da alma? A ética material do desejo em Cícero (que faz o homem escravo de suas paixões) põe o corpo em uma antinomia com a alma no significante trans-subjetividade? A trans-subjetividade não é a alma sem corpo político desejante definido como pathos. Rios de sangue correram na batalha pelo significante trans-subjetividade na história universal. A cultura política cristã realizou banhos de sangue das massas sujeito zero cristã para assegurar a separação entre corpo e alma.
A ética do desejo lacaniana é a formulação de um trans-subjetiviação olhada de um platô do mundo-da-vida separada da do mundo-da-vida político?  Lacan definiu a ética como um problema de cultura política sem o dizer com todas as letras: “ Em torno desse suporte, falei-lhes do serviço dos bens que é a posição da ética tradicional. Depreciação do desejo, modéstia, temperança – essa via mediana que vemos tão notável em Aristóteles, trata-se de saber do que ela toma a medida, e se a medida pode ser fundamentada”. (Lacan, S. 7: 377).
A ética só pode ser fundamentada como um problema cultural político na física lacaniana da política: “A moral de Aristóteles – vejam de perto, vale a pena – se funda inteiramente numa ordem certamente arrumada, ideal, mas que responde, contudo à política de seu tempo, à estrutura da Cidade. Sua moral é uma moral do mestre, feita de virtudes do mestre, vinculada a uma ordem de poderes. A ordem de poderes não deve ser absolutamente ser desprezada - não se trata aqui, de modo algum, de afirmações anarquistas -, é preciso simplesmente conhecer o limite disso no que se refere ao campo aberto à nossa investigação” (Idem; 377). Em ação o discurso do mestre do Seminário 17.
Tal campo é aquele da física lacaniana da política, não? A moral do campo de poder da distribuição da riqueza em relação aos desejos foi modificada pelo discurso do analista? A moral do poder é aquela de uma superfície ditatorial em relação aos desejos: “ A moral do poder, do serviço dos bens é – Quanto aos desejos, vocês podem ficar esperando sentados” (Idem: 378). Na década de 1980, Lacan metabolizou a derrota da hegemonia do discurso do analista na cultura política intelectual mundial!  
O problema da semblância no trans-subjetivo em Cícero exige um texto específico. No entanto, em Platão não há semblância em Deus (Platon: 933-935). Deus não é idêntico ao trans-subjetivo. Logo, se não há o mundo da aparência no RSI, Deus não é o RSI, é apenas o simbólico. Separação entre Deus e alma.
Com efeito, o imaginário lacaniano é um conceito incompleto quanto ao mundo das aparências e da semblância. Lacan retomou este problema como cultural político no Seminário 18, pensando no discurso que não fosse semblante: o discurso do analista. O mundo das aparências (e da semblância) é o mundo fenomênico impresso como imagem na trans-subjetividade como coisas da tela perceptiva sensorial, como esclarece Austin:
“ A doutrina geral, enunciada na sua generalidade, apresenta-se assim: nós nunca vemos, ou, de outro modo, percebemos (ou ‘sentimos’), ou, de qualquer maneira, nunca percebemos ou sentimos diretamente objetos materiais (ou coisas materiais), mas somente dados dos sentidos (ou nossas próprias ideias, impressões, sensa, percepções sensíveis, perceptos, etc.) " (Austin: 9). Tal doutrina tem por pressuposto que os fatos não são verificáveis (Idem: 156). Trata-se de fatos em geral. Mas os fatos precisam de substantivos.
Meus fatos são aqueles da cultura política. Para verifica-los é preciso uma epistemologia política (“a melhor posição possível de fazer qualquer afirmação”) que leve ao enunciado: “ Uma vez abandonada a ideia de que existe um tipo de frase especial que é incorrigível enquanto tal, podemos muito bem admitir (o que, de qualquer forma, é obviamente verdadeiro), que muitos tipos de frases podem ser utilizados para enunciados afirmativos que são, de fato, incorrigíveis – no sentido em que, ao serem formulados, as circunstâncias são tais que esses enunciados são completa, definitivamente e irrevogavelmente verdadeiros” (Idem: 151). A teoria verdadeira é a ciência do real catastrófico. Esta é a circunstância dos enunciados irrevogavelmente verdadeiros.                   
Lacan pensou a semblância em relação ao herói trágico (Édipo): “Se ele se arranca do mundo pelo ato que consiste em cegar-se, é que somente aquele que escapa das aparências pode chegar a verdade. Os antigos sabiam disso – o grande Homero é cego, Tirésias também. ” (Lacan. S. 7: 371). A verdade é um problema cultural político que articula ao RSI a estética e o cérebro atormentando pelo pesadelo da tradição? Novo conceito de história!    
II
O princípio do narcisismo é necessário para a ex-sistência de qualquer classe política. A vaidade é o significante que Cícero usa para inscrever em sua teoria tal princípio: “ porque as riquezas, o nome ilustre, o poderio, sem a sabedoria que ensina os homens a governar e dirigir os outros, nada mais são do que uma vergonhosa e insolente vaidade; não há no mundo espetáculo mais triste que uma sociedade em que o valor dos homens é medido pelas riquezas que possuem. Ao contrário, que pode haver de mais belo e preclaro do que a virtude governando a República? “ (Cícero: 157).
O princípio do narcisismo é real, a virtude é ficcional. O princípio do narcisismo condensado em grande escala no rei, na aristocracia e nas massas sujeito zero ditatorial pode significar a passagem para, respectivamente, o tirano, a oligarquia e as massas ditatoriais. Trata-se da física da economia política da hybris narcísica. A temperança narcísica define a classe política como aristocracia verdadeira em um contraponto à aristocracia vulgar. Princípio do funcionamento normal da energia narcísica.
O princípio narcísico ex-siste na transdialética materialista da cultura política universal que articula forma política objetiva e trans-subjetividade cultural política. A energia narcísica mítica estabelece a distinção entre rei e falso rei aristocrata (rei vulgar/tirano), entre a aristocracia verdadeira e a falsa aristocracia (aristocracia vulgar/oligarquia), entre a plebe aristocrática (massas democráticas) e a plebe vulgar (massas ditatoriais). As formas políticas vulgares respectivas são tirania, oligarquia e ditadura das massas. Nesta, trata-se do funcionamento extraordinário do princípio narcísico, ou seja, do apogeu permanente do surto narcísico! 
A tradição bela da cultura política romana é a articulação do rei aristocrata, da aristocracia como tal e das massas aristocráticas. Então, o que é a aristocracia? Por que o significante vulgar ditadura se forjou em tal cultura política?
Para as massas vulgares, a falsa aristocracia tem o direito natural ao poder político (governo central). Trata-se da aristocracia dos homens que são poderosos, os mais ricos, e das mais antigas famílias oligárquicas. Para Cícero, a verdadeira aristocracia é aquela na qual os políticos são versados em problemas de cultura política nacional e mundial. Isto significa o governo dos vivos, dos mortos (fantasma do passado/ e do presente) e dos que ainda vão nascer (fantasma do futuro).
O princípio do narcisismo ex-siste e funciona pela relação do governante com a tela política gramatical. Tal relação deve ser aquela da temperança. Na fábula de Narciso, este ao se apaixonar pelo que está na tela natural (espelho d’água) definha e morre. Princípio da transformação do rei em tirano, da aristocracia em oligarquia e das massas democráticas em massas ditatoriais. A energia narcísica mítica existe na relação da classe política com a tela política gramatical. A morte de Narciso é a passagem do poético/aristocrático para o prosaico vulgar.
O mito de Narciso é o paradigma de todos os modelos de tela política gramatical na cultura política intelectual universal.    

AUSTIN, j. L.. Sentido e percepção. SP: Martins Fontes, 1993
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. Os Pensadores. SP: Abril Cultural, 1974
ARENDT, Hannah. A vida do espírito. O pensar, o querer, o julgar. RJ: UFRJ Editora e Relume Dumará, 1992
CÍCERO. Da República. Os Pensadores. SP: Abril Cultural, 1973
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. RJ: Jorge Zahar Editor, 1991
MONTESQUIEU. De l’ esprit des lois. v. 1. Paris: Flammarion, 1979
PALTON. Oeuvres Complètes. v. 1. Paris: Gallimard, 1950    
         

                    
      
                                        
  

                               



               
 

   

segunda-feira, 18 de abril de 2016

POLÍTICA E ESPANTO (thaumazein)

18/04/2016
Sou um anão intelectual que sobe nos ombros de um Deus (Hannah Arendt) para escrever mal traçadas linhas. Mas antes me socorro no pensamento de Nietzsche que me é um espanto aporein (o estar perplexo devido à própria ignorância, que pode ser rompida pelo conhecimento): “Nossas mentes rechaçam a ideia do nascimento de uma coisa que pode nascer de uma contrária, por exemplo: a verdade do erro, a vontade do verdadeiro da vontade do erro; o ato desinteressado do egoísmo ou a contemplação pura do sábio da cobiça”. Mais adiante a citação vai revelar todo o seu poder bárbaro! 
Lendo Hannah descubro que a política só é possível com o dom da fala, e, com ele, o dom do argumento racional e o da resposta argumentada. Trata-se da cultura política oral da democracia grega (politeia). O mensageiro dos deuses semelhante a Íris trouxe para o homem tais dons. 
A política foi uma doação dos deuses como a filha daquele que espanta, aquilo que liga a terra ao céu. A paixão da política (pathos) é o espanto (thaumazein) admirativo que na cultura política da polis (politeia) é o espantar-se com os homens semelhantes a deuses (sofistas). Na cultura política aristocrática era o espantar-se, o admirar-se com o aparecimento de um deus. O espanto não é algo que os homens possam evocar por si mesmos, como os agentes políticos que conjuram espectros do passado para lhes dar uma força que eles não possuem, em épocas revolucionárias. O espanto é um pathos, algo sofrido, e não-produzido. Em Homero, a ação é algo reservado aos deuses, e aos homens cabe suportar sua aparição, e não dela fugir. Deuses nos religa ao Grande Outro (campo simbólico) condensado na sociedade de significantes - à ação de poder do significante. 
O espanto é admiração pela maravilha da fala, o dom de Íris. Para a cultura política grega, o logos não era apenas a fala, mas o dom do argumento racional que os distinguia da cultura política bárbara. Trata-se do espanto da manifestação da harmonia do invisível no reino das aparências do mundo sensível desarmônico. Quando a política religa a terra ao céu, ela faz isso se autoconstruindo como das Ding Bela. Se a terra é o mundo das aparências sensíveis (da lógica particular dos interesses egoístas, por exemplo), o céu é o invisível harmonioso e belo.  O bárbaro se definia como o ser desprovido de logos! 
A política é o reino das ideologias (das ideias desligadas da lógica dos interesses pessoais), é o céu que deve subjugar a pessoalização egoísta da política. Marx criou o significante técnico ideologia (isso era apenas uma palavra), que passou a articular a política com Lenin. Esse pensador russo fez de toda luta política uma luta entre ideologias de classes sociais. Estas são do reino do céu enquanto os indivíduos são do reino da terra. Há uma concepção da política leninista como uma atividade bela, que seduziu o planeta no século XX, e continua espantando Marcelo Lins. Confira as massas assassinadas em nome da luta política, que se transforma em credo quia absurdum! Por que Lenin assinou o documento para a execução infame, desnecessária e criminosa da família real tzarista? 
Nosso herói eletrônico só vê a política como um deve ser belo. Ele tem assistido ao espetáculo da tela gramatical eletrônica do impeachment da senhora Dilma Rousseff e foi possuído por uma repugnância provocada pela intervenção no microfone da Câmara Nacional do capitão deputado Bolsonaro que elogiou a ditadura militar e um coronel Brilhante Ustra, reconhecido torturador que gozava no sangue derramado e na carne destroçada da esquerda guerrilheira pela ditadura militar. A repugnância (asco) de Marcelo é uma recusa de vivenciar intencionalmente a política como um espetáculo da tela gramatical  eletrônico-política na estética do feio, do sujo, do mal. A tela gramatical não pode lembrar na política o discurso do Marquês de Sade que tem como objeto o belo corpo da mulher aristocrática. Para o capitão Bolsonaro e o torturador Brilhante os corpos dos guerrilheiros equivalem ao corpo da bela aristocrata! Na atualidade brasileira, o ersatz de corpo aristocrático feminino da cultura política francesa é o belo corpo aristocrático da jovem jornalista eletrônica!     
O espetáculo do impeachment está espantando a classe simbólica jornalística mundial. Esta diz que criminosos estão depondo uma mulher honesta. Agora lembrem de Nietzsche: “uma coisa pode nascer de uma contrária”. O jornalismo mundial e Marcelo veem Eduardo Cunha como criminoso, feio, mal. No pensamento metafísico deles o belo não pode nascer do feio, o Bem do Mal, nada de bom pode nascer do crime (Sade discorda veementemente ao defender a bárbara revolução republicana permanente). Este é o pensamento Ocidental, e o contrário dele é o pensamento bárbaro: o belo nasce do feio... A revolução republicana é o belo como ideologia e terror! 
O bárbaro é o nada impensável, inconcebível. Mas Nietzsche pensou barbaramente um experimento de pensamento cuja pungência reside na conexão íntima que liga o pensamento da physis política (a physis como totalidade das coisas que não são feitas pelo homem, nem criadas por um artífice divino, a não ser que este artífice seja a sociedade de significantes) ao pensamento bárbaro do nada. Aqui a necessidade da fé perceptiva na política não surge da admiração grega pela beleza (do jornalismo internacional dos EUA e da Europa, que não entende nada do nosso espetáculo político) e pela harmonia invisível que reúne a diversidade infinita das coisas particulares (não como lógica privatista da política), mas o simples fato de que ninguém pode pensar a physis política sem ao mesmo tempo pensar o nada, a barbárie, ou pensar no significado sem pensar na futilidade, na vaidade e na ausência de um processo de significação! O discurso político é uma porta para o Real. 
Enfim, a própria atividade do pensar político já pressupõe a existência da physis, que é esse estar aí completamente sem sentido que faz o nosso herói jornalista estrangeiro exclamar: “Imundice. Quanta imundice... mas ela estava lá, firme, e era tanta, tons e mais tons da existência [política], infinitamente”.
Querido Marcelo (e queridos jornalistas internacionais), Eduardo Cunha é um significante bárbaro nietzschiano. Ele é o feio que cria o belo (pela primeira vez a nossa política como um Sistema Político). Ele é o erro que cria uma verdade: Dilma Rousseff adeus! Ele é o ato vil egoísta que cria o ato desinteressado. Isso é a existência da physis política, pois, o herói ou o anti-herói são criaturas da sociedade de significantes. 
Perceba Marcelo, eles não são criaturas da bela sociedade de significante grega da antiguidade que contínua nos espantar com as massas-sonho sujeito zero grego

domingo, 10 de abril de 2016

A VELHA CIÊNCIA POLÍTICA


A velha ciência política é realista. No Brasil, nos EUA e na Europa, a política é a ditadura dos partidos. No final, os caciques do Partido Republicano vão escolher o candidato republicano, e Hillary Clinton será a candidata democrata. Para tal ciência política, o namoro das massas eleitorais com Donald Trump e Bernie Sanders são quimeras, ou melhor, fantasias americanas de uma era de circunstâncias anormais. Assim, a ditadura partidária prevalecerá, apesar da insensatez circunstancial das massas sujeito zero partidário.
E a velha ciência política americana pode dormir tranquila por mais quatro anos. Pois para ela, a cultura política se reduz à forma política objetiva. O processo de trans-subjetivação das massas sujeito zero não é um problema do campo político ditatorial objetivo. Mas os EUA não estão vivendo uma crise política catastrófica!   
No Brasil, a velha ciência política crê que as massas sujeito zero jamais usarão da violência política contra a partidocracia na forma do partidarismo. No final, elas se submeterão docilmente a sua própria implosão econômica e cultural política, que a ditadura do PSDB/PMDB promoverá. A velha ciência política crê piamente que a partidocracia é uma terceira via de poder hierocrático? Ela crê que a tela eletrônica é um modo de transformar o partidarismo em poder hierocrático? Tal poder hierocrático eletrônico fará para sempre a gestão da violência das massas? Desviará a violência política das massas para o interior delas?   
Os dois clássicos poder hierocrático são: a) do soberano sacerdotal, esteja este legitimado como encarnação ou como soberano querido por Deus; b) do soberano que ocupa o cargo sacerdotal, exercendo como sacerdote também as funções do rei. O poder hierocrático sempre se definiu por evitar o surgimento de poderes seculares com intenções emancipatórias. Ele é da ordem do sagrado da cultura política mitológica. Mas tudo se passa em um campo de luta entre formas políticas objetivas de poder vividas pela classe política-  forma hierocrática versus secular racional? Ao contrário, aliás, as massas sujeito zero hierocrático sempre foram o objeto, por excelência,  do poder hierocrático!  
A partidocracia seria o poder secular emancipatório da sociedade política moderna versus a sociedade religiosa. Notem que nada nessa velha ciência política relaciona o campo de poder com os processos (e estados) de trans-subjetivação das massas sujeito zero ditatorial. Todo estudante da velha ciência política aprende que as massas são apenas massas disponíveis para a política da partidocracia. Fora disso, elas significam o caos, a desordem, a ingovernabilidade. O partidarismo significa a inscrição nas massas imprevisíveis (pois irracionais) da razão política. Para a velha ciência política ou a política é racional ou não é política.
Weber diz: “Por isso, partidos somente são possíveis dentro de comunidades que, por sua vez, constituem, de alguma forma, uma relação, associativa, isto é, que possuem, alguma ordem racional e um aparato de pessoas dispostas a pô-la em prática, pois o objetivo dos partidos é influenciar precisamente este aparato e, se possível, compô-los com seus adeptos”. Porém, a velha ciência política odeia Weber, pois está claro que ele está mais próximo da física geopolítica historial (nova ciência política) do que dela.
No conceito de partidarismo de Weber, há o problema da crise da partidocracia. Quando a ORDEM RACIONAL se estiola permanentemente, a partidocracia entra em colapso. A velha ciência política torce o nariz para tal fenômeno cultural político. No entanto, ordem racional não pode ser apenas aquela do funcionamento objetivo da forma política objetiva e do aparato burocrático, que seja. Ela tem que existir minimamente como trans-subjetividade das massas. Pois, trata-se da relação associativa racional de comunidades compostas por massas sujeito zero irracional. O eleitor tem que ser um ser racional! Como ser racional se o partidarismo é um significante literário técnico que desliza facilmente para uma ordem irracional - credo quia absurdum?              
Weber define o partidarismo assim: “Em todos eles, porém, mesmo nos mais puros, de classe, costuma ser também decisivo para a atitude dos líderes e do quadro administrativo o interesse próprio (ideal ou material) em termos de poder, cargos e garantia de existência, enquanto que a defesa dos interesses de seus eleitores só se realiza na medida em que seja inevitável, para não pôr em perigo as possibilidades de reeleição. Este último fator é uma das razões que explicam a oposição ao partidarismo”. A manipulação eleitoral das massas é a lógica dos políticos no partidarismo.
No Brasil, tal lógica é a causa da crise global - crise econômica, política e ética, pois, a ética da classe política passa a ser a ética do partidarismo. Só em situações excepcionais as massas sujeito zero são associadas à alguma espécie de ética articulada a partir da trans-subjetividade delas. A ética do partidarismo é uma ética privatista. A classe política crê que tem o direito de se apropriar privadamente dos bens públicos que a política torna disponíveis, e danem-se as massas do cotidiano da cidade e do campo. Assim, chegamos a situação política na qual a maioria das massas da pesquisa de opinião não querem Dilma Rousseff ou Michel Temer no poder nacional.
A solução STE (Superior Tribunal  Eleitoral) significa que o juiz ultra conservador Gilmar Mendes (presidente do Tribunal) vai ditar o andar da carruagem na cassação da chapa Dilma/Temer? O cálculo político desse juiz burguês do PSDB será o da melhor decisão em consonância com os interesses de tal partido. Trata-se da eleição direta em 2016 para presidente do regime 1988? Considerando a desmoralização do PSDB junto às massas, tal hipótese não é lógica. Porém, o STE é um aparato atravessado por linhas de força divergentes, e uma delas é a linha peemedebista. Para o PMDB, o melhor é a eleição indireta para presidente de um candidato seu em 2017, em aliança com o PSDB. Tal lógica do partidarismo tem uma fé islâmica de que as massas sujeito zero representativo já esgotaram sua energia narcísica para uma intervenção na política em 2016! Portanto, não é preciso um grande esforço imaginativo para ver que se trata da ditadura dos partidos sobre a vontade das massas em abril de 2016.            
No caso brasileiro, não se constituiu na era 1988 uma ética pública das massas sujeito zero. Tal ética é uma ética vivida e gerada na atividade política democrática. A velha ciência política brasileira se lixa para tais problemas culturais políticos. Para ela, o realismo político que a conduz espera que o partidarismo abra mão de sua essência weberiana circunstancialmente para colocar o país nos trilhos.
A velha ciência política é cínica e vê a política como um campo de poder objetivamente instrumental. Ela não consegue metabolizar que sua concepção da política é pura trans-subjetividade instrumental de massas intelectuais sujeito zero democrático. Hoje, até as crianças brasileiras sabem que tal concepção de mundo é uma parte importante da crisbrasile aguda do partidarismo e também da Nação. A velha ciência política é a ideologia científica do campo de poder ditatorial, instrumental, do partidarismo.  
A questão estratégica/fatal cultural política brasileira hoje é se a própria forma-partido se tornou dissipativa como auto-organização que se produze longe do equilíbrio e como fenômeno irreversível (Ilya Prigogine & Isabelle Stengers).                    
   
           
    
             

    

sexta-feira, 8 de abril de 2016

NOVA CIÊNCIA POLÍTICA

  

DO CESARISMO AO TRANSCESARISMO
Com a entrada na era transaristocrática houve a aceleração da desterritorialização da nação. Tal processo teve como motor inicial o capital eletrônico corporativo mundial associado à cultura política freudiana americana que preparou o território existencial da trans-subjetivação sedutora das massas sujeito zero (MSØ) weberiano. A sedução trans-subjetiva substituiu a ética weberiana do capital (do capitalismo).
Com a entrada na cena mundial do capital corporativo mundial digital, a cultura política da sedução eletrônica se tornou insatisfatória no processo trans-subjetivo da hegemonia do capital mundial sobre as MSØ nacional. A desterritorialização da trans-subjetividade nacional das MSØ parecia o caminho lógica para o estabelecimento da hegemonia mundial do capital. Porém, o movimento efetivo do capital se constituiu como a assunção real das massas à cultura política lumpesinal mundial. Assim, a ética do capital foi trocada pelo phatos lumpesinal do capital.
Weber fala do capital como a ética da razão instrumental, como burocracia moderna ética. Então temos as teorias dos valores aristocráticos que, de algum modo, estavam associados a ideia ética do capitalista como personificação do capital. O Estado nacional era parte da trans-subjetivação aristocrática da cultura política mundial. O avesso de tal trans-subjetivação ética aristocrática do capital é a trans-subjetivação do capital como corrupção. O capitalista mundial passou a ser a personificação da corrupção do capital. Tal fenômeno foi exportado para a vida da classe política no século XXI.
Tal fenômeno é uma causa suficiente para abalar a reprodução ampliada do capital produtivo (que produz a riqueza) em uma escala planetária. AS formas especulativas do capital fictício digital (capital cassino) se estabelecem na adjunção à cultura política do dinheiro digital, concorrendo para a transição da cultura política da sedução eletrônica para a cultura política da sedução digitalis como modo de constituição da hegemonia no bloco-no-poder mundial. Tal fato levou a uma desterritorialização da nação como se fosse um fenômeno natural. E é! Trata-se de um fenômeno da physis do capital mundial inspirado na relação sociedade capitalista versus Estado americano.
A cultura política freudiana americana já é desterritorialização da trans-subjetivação nacional. A exportação dela para o mundo é a mais cabal prova disso.  Nessa era, os EUA começaram a enfrentar um fenômeno perturbador, ou seja, a cultura política lúmpen republicana (Tea Party) e o lúmpen fundamentalismo evangélico inscrito ora no mundo-da-vida, ora na política como tal.
O lúmpen cultural político é um significante criado por Marx que significa uma adjunção de estética com história na cultura política francesa bonapartista. O significante deslizou do mundo-da-vida artística (Paris bohème) para o mundo-da-política com Luís Bonaparte.  MSØ burguês vitoriano transformam-se em um fenômeno político trans-subjetivo ditatorial: a biografia grotesca/ditatorial de Luís associada à ditadura de Bonaparte. Se o bonapartismo é um fenômeno ditatorial ele é a condensação na cultura política moderna do cesarismo-  da cultura política cesarista universal. O cesarismo é lúmpen antes do lúpem bonapartista?      
“ César, Napoleão I, Napoleão II, Cromwell e outros. Compilar um catálogo de eventos históricos que culminem numa grande personalidade heroica” (Gramsci: 1619). O cesarismo exprime uma solução de “arbitral” confiada a uma grande personalidade histórica, de uma conjuntura cultural política caracterizada por um equilíbrio de forças de perspectiva catastrófica. Gramsci diz que existe o cesarismo progressista e o reacionário. E que a significação exata de cada forma de cesarismo só pode ser reconstruída pela história da cultura política concreta, e não por um esquema sociológico qualquer.
O cesarismo é progressista quando a intervenção ajuda a força progressista a triunfar, mesmo com certos compromissos e medidas que limitem a vitória; é reacionário quando a sua intervenção ajuda a força reacionária a triunfar, também neste caso com determinados compromissos e limitações que têm um valor, um alcance e um significado diversos, opostos aos do cesarismo progressista. Napoleão III e Bismark foram cesarismo reacionário.
Em uma era dominada pela cultura política lumpesinal ainda é possível pensar em cesarismo progressista? Pois, o modelo de cultura política mundial é bonapartista (Napoleão III). Os países que caem sob o jugo da cultura política bonapartista acabam vendo suas forças militares regulares ou de fileira constituírem um elemento decisivo para o advento do cesarismo, que se verifica através de golpes de Estado precisos, de ações militares. A existência de partidos políticos e MSØ cesaristas complicam o discurso político cesarista. Isso é capaz de evitar a ditadura militar transcesarista?
É possível haver uma solução cesarista mesmo sem um César, sem uma personalidade heroica/ditatorial e representativa. O sistema parlamentar criou um mecanismo para tais soluções de compromisso. Ele está associado ao serviço estatal destinado à repressão da delinquência no mundo-da-vida articulado à delinquência na política: bonapartismo de Napoleão III. Assim é o transcesarismo, pois o significante cesarismo deslizou da superfície bonapartista para a superfície política moderna dos partidos políticos, do aparelho de Estado executivo para o parlamento. Isso é homólogo ao transliterário que significa o deslizamento do significante literário para a superfície da psicologia (Bakhtin: 29) ou da cultura política. Neste transcesarismo, inteiros partidos políticos e outras organizações econômicas ou de outro gênero devem ser consideradas instituições de polícia política, e de caráter investigativo e preventivo.
Na era lúmpen mundial, o capital corporativo eletrônico age como uma organização econômica transcesarista: polícia política. Ele é o fenômeno transcesarista mais visível e catastrófico. Parece que os partidos políticos não conseguem dar o passo necessário para se transformarem em partido transcesarista? Eles não são instituições de polícia política e de caráter investigativo e preventivo? No entanto, eles são articulados pelo processo de corrupção trans-subjetivo. Aliás, o partido dominante de Estado se transforma em polícia política, em uma força investigativa e preventiva. O bolivarianismo é transcesarista com sua brutal “Hegemonia Petista”.  
No século XXI, os fenômenos do cesarismo são inteiramente diversos, tanto daqueles da espécie progressista César/Napoleão, com também da espécie Napoleão III, embora se aproximem desta última. Assim, o equilíbrio com perspectivas catastróficas não se verifica entre forças que, em última instância, poderiam se fundir e se unificar, mesmo depois de um processo fatigante e (sangrento), mas entre forças cujo contraste é insanável na superfície cultural política intelectual, e que se aprofunda com o advento de formas transcesaristas. A ideia de Lula de se fundir com FHC e Temer é um sonho de uma noite de verão do Sertão!  
Na crise catastrófica transcesarista mundial, há a possibilidade marginal de desenvolvimento ulterior e organizativo de uma força que vai contra à sua fraqueza relativa, especialmente, de força progressista antagonista, devida à sua natureza e ao seu modo de vida particular, fraqueza que deve ser mantida como algo que não usa o campo de poder ditatorial: por isso afirmou-se que o transcesarismo mais do que militar é policial-jurídico. Tal fenômeno não é progressista ou reacionário, pois, é intermediário catastrófico.    
O transcesarimo é um objeto mundial da nova ciência política da cultura política catastrófica. O Brasil aparece como um caso de transcesarismo bolivariano catastrófico irredutível à política. A desarticulação do modo de produção subcapitalista (“subcapital industrial sem capitalismo como ersatz de capital industrial moderno”) faz pendant com a desterritoriaização da trans-subjetividade nacional e, por consequência, com a lógica da ruína do Estado nacional. Tais fenômenos ex-sistem em uma Banda de Moebius que faz deslizar da superfície da cultura política econômica para a superfície da cultura política como tal o significante catástrofe. Como terceiro excluído, a cultura política lumpesinal mundial fez um acabamento da classe política como estado permanente de trans-subjetivação corrupta. Assim o país foi empurrado para a situação de equilíbrio catastrófico transcesarisita de duas forças que não são nem reacionárias nem progressistas. O que elas são essencialmente?
A força do impeachment é um simulacro de simulação de força progressista. Ela é uma força burguesa lumpesinal que crê na destruição do Estado nacional como a única saída para a solução da crise econômica. Trata-se do burguês que é a personificação do subcapital industrial que está em seus últimos suspiros. Tal força burguesa ouve o discurso econômico mitológico da lumpenintelectualidade que só existe na cultura intelectual graças ao capital corporativo eletrônico mundial condensado, especialmente, no Grupo Globo. Tal corporação é o habitat de um intelectual coletivo articulado como cultura política eletrônica lumpesinal. Trata-se de uma força catastrófica que faz uma gestão inercial da miséria cultural política tran-subjetiva das MSØ malicioso. Como forma mais acabada de biografia lumpesinal jornalística eletrônica global, Merval Pereira (da ABL) é incomparavelmente imbatível! 
O bolivarianismo é a força reacionária como motor trans-subjetivo político da situação catastrófica. Ela não é um simulacro de simulação de reacionarismo; ela é a reação intransigente e irremovível que assinala a impossibilidade da solução da situação catastrófica. Em última instância, as biografias individuais petistas (personalidades nanoheroicas) em uma simbiose com a personalidade heroica cesarista de Lula da Silva (e por tabela Dilma Rousseff) constituem a última causa da catástrofe política.
Um cesarismo intermediário floresceu na comunidade jurídica desde o presidente do STF Joaquim Barbosa. Hoje, Sérgio Moro e Janaína Paschoal são a prova de que a solução para o equilíbrio catastrófica de força passa pela eleição direta para a presidência em 2016. Marina Silva como primeira colocada nas pesquisas eleitorais significa que a trans-subjetivação das forças marginais nas MSØ participativo pode ser expandida em um curto espaço de tempo se o alto comando do lumpesinato político que domina a cultura política nacional (fazendo pendant com o lumpencapital eletrônico global) ir contra a sua natureza lumpesinal catastrófica.
Qualquer observador estrangeiro já sabe que o Brasil caminha para um ponto de fusão nuclear. E que único modo de evitar o deslocamento e condensação das contradições para o ponto de fusão é realizar o programa mínimo: eleição presidencial junto com a eleição para vereadores em 2016.
A eleição presidencial associada à eleição para vereadores pode ter o poder de uma reterritorialização trans-subjetiva da nação e ser um começo de discussão sobre a forma do nosso Estado nacional no século XXI. A cultura política é a articulação da forma política objetiva com o processo permanente de trans-subjetivação das MSØ. O mundo não se deixa entender por linguagens simplórias!      
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. SP: Martins Fontes, 1992
GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere. v. 3. Quaderni 12-29 (1932-1935). Torino: Giulio Einaudi Editore, 1977