quarta-feira, 21 de junho de 2017

A GRAMÁTICA DIALÉTICA DA TECEDURA DA POLÍTICA


José Paulo

A política é tecedura. (Platão: 238).

Há uma divisão do trabalho; máquina; fio sólido e fio flexível; tração da tecedura ou divisão do trabalho; fabricação da urdidura; entrelaçar na urdidura e resistir às trações da tecedura = fios da trama, fabricação da trama NARRATIVA DA POLÍTICA; tem torção (e distorção); operação da reunião (parte do trabalho de lã) entrelaça a urdidura e a trama para formar o tecido ou vestimenta de lã narrativa; é a arte da tecedura e de evitar a torção da urdidura.

Vestimenta é a espécie de 2° objeto vasilhame (Platão: 242) que conserva a política. Qual é a vestimenta, a roupagem, a plumagem da política? As culturas políticas e a ideologia gramatical dominante no real.  Esse é o meu caminho do método de gramaticalização do “Politico”.

                                                             POPPER

Começar por Popper significa dizer que o problema do texto POLÍTICO é o do totalitarismo e do caos do povo das raças demoníacas regendo a cidade atual em choque virtual com a gramática em narrativa dialética da polis como tecido da política?

O ponto de partida desse meu texto é uma ideia de Popper. Popper identificou o totalitarismo em Platão (que ele designa por método historicista ou essencialista); e o método de Popper é arrancar da filosofia magistral de Platão essa ideologia gramatical totalitária que invade o real do pensamento da política do platonismo durante séculos.

Trata-se de um projeto ambicioso e narcísico, mas que organiza os problemas da ciência real platônica, ciência do governo dos homens na polis, elemento primário para o entendimento da política: “conhecimento de coisas e como manifestação de FORÇAS e como aparência – Erscheinung – governada por Leis” (Inwood: 79, 169). Na ciência gramatical da política, trata-se de pensar a política no campo de forças, (e/ou poderes) e atores, campo regido e regulado por um significante gramatical e seus feitos nos sujeitos gramaticais deste campo. Platão se diferencia de Lacan, pois, para ele o sujeito não é um efeito do determinismo do significante. O sujeito tem livre arbítrio relativo ao significante. É a ideia de Popper de mecânica social (Popper: 47-50).  

Há totalitarismo em Platão? Há uma Ideologia gramatical totalitária no Platão do texto POLÍTICO?

Há político totalitário que se liga à tradição totalitária da tradição, inclusive, democrática da polis e da politeia. O assassinato de Sócrates pela politeia é passagem ao ato totalitário da história universal (Fédon). Popper diz que Platão viveu mal e sofreu muito na democracia, o pior dos governos entre os governos com lei, o melhor dos governos entre os governos sem leis.

Platão era da família de dois tios tiranos (Crítias e Cármides) que governaram na era da forma de poder impolítico conhecida como governo dos Trinta Tiranos e tinha parentesco com Solon, o legislador de Atenas (Popper: 34). Viveu em uma época na qual as formas de poder significavam o real da realidade das coisas sensíveis. A forma política de governo é mais real que o real das coisas sensíveis. Ela é a forma que faz da vida o impossível de ser suportável pelo sofrimento que é capaz de causar.  
: “Consideremos que a diagnóstica psicanalítica se insere no quadro maior
de uma metadiagnóstica da modernidade. Esta metadiagnóstica supõe a
existência de um elemento comum, que caracteriza antropologicamente e
define historicamente os modos de subjetivação que chamamos de modernidade.
O centro sem substância dessas formas de vida seria composto por
narrativa, discursos e teorias acerca da perda da experiência (Ehrfahrung).
Segundo Honneth (2006), há uma dupla interpretação da modernidade,
a partir da antropologia filosófica, de Montaigne a Rousseau, e a partir da
filosofia da história, de Hobbes a Hegel. Ambas partilham a ideia comum
da perda da experiência, entendida alternativamente como incapacidade do
sujeito de reconhecer-se em sua própria história particular ou como dificuldade
de estabelecer formas sociais universalmente compartilháveis. Alienação
e fetichismo seriam duas figuras fundamentais de nomeação desse bloqueio
da experiência. (http://www.scielo.br/pdf/ts/v23n1/v23n1a06).
O real do sofrimento funciona como sofrimento pelo bloqueio (alienação e fetichismo) da relação do sujeito gramatical com o significante gramatical, pois, ele é impedido de metabolizar, verdadeiramente, o real da sociedade política como mundo das coisas sensíveis (significantes gramaticais como coisas sensíveis ou melhor, a forma de poder político sensível (governo, poder, Estado) quanto mais a forma de poder impolítico do mundo insensível (. Popper: pp 45).

A IMPOLÍTICA COMO GRAMÁTICA EM NARRATIVA ILÓGICA DO (in.sen.sí.vel), das massas insensíveis: multidão sgrammaticatura da percepção sensível da polis, da cidade, mais rigorosamente, pois a polis se transforma em cidade econômica, por exemplo, perdendo seu caractere virtude política.
1. Que não tem ou não demonstra sensibilidade (sujeito insensível)
2. Que não tem sensibilidade física: O cientista só trabalhava com matéria insensível.
3. Que demonstra dureza de sentimentos (assassino insensível)
4. Que se mostra indiferente aos valores da beleza, da arte: Era insensível à música.
5. Que não se sensibiliza com nada; a quem nada inspira ou causa emoção, comoção; APÁTICO; INDIFERENTE; IMPASSÍVEL
[F.: Do lat. insensibilis, e. Ant. ger.: sensível. ]

 O Supracitado reunido conjunto de sentidos do significante forma de poder insensível sobre o sujeito gramatical insensível que se condensa na forma de poder (ou forma de governo do mundo do significante insensível): a insensibilidade política; a matéria subjetiva insensível; o sujeito apático (ou indiferente ou impassível) em relação ao modo de agir da impolítica.

A leitura de Popper de Platão com Lacan põe e repõe o problema do dualismo essencialista versus nominalismo metodológico. Platão é um essencialista metodológico com a separação da realidade em realidade inteligível e realidade sensível. A teoria das formas e ideias fazendo pendant com a realidade inteligível real e a teoria do simulacro com a realidade do mundo sensível: da fantasia, do fantasma, da ilusão.

No livro Político, a gramática da tecedura da sociedade política pode criar uma interseção entre ambas teorias, ambas realidades? Sociedade quer dizer história heraclitiana, fluxo temporal das coisas sensíveis, das cópias, dos 6 simulacros da 7°espécie de forma de poder político ou constituição de governo. As 6 formas-simulacros são similares ao original ou 7°forma de poder político.

SE a natureza, a estrutura do significante gramatical virtual da 7°forma é totalitário, as 6 cópias também serão, por similitude, formas de poder governamental totalitários. Este problema é extraído, não de Popper, mas do próprio Platão. Houve uma época para a qual o único interesse em Platão consistia em investigar sua ideologia gramatical totalitária.

Há várias passagens em Platão sobre o totalitarismo do mundo sensível similar à única forma de poder governamental virtual-real, verdadeira, justa. A espécie sétima. Cito:
“É indiferente também que eles sejam obrigados a matar ou exilar alguém a fim de purificar e sanear a cidade; que exportem emigrantes como exame de abelhas, para tornar menor a população, ou importem pessoas do estrangeiro, concedendo-lhes cidadania, a fim de torna-las maior. Enquanto se valerem da ciência e da justiça, a fim de conservá-la, tornando-a a melhor possível, e por semelhantes termos definida, uma constituição deve ser, para nós, a única constituição correta. Quanto as demais, que mencionamos, acreditamos não serem constituições legítimas, nem verdadeiras: não passam de imitações que, se produzem boas leis, é por serem cópias dos melhores traços desta constituição correta, e, em caso contrário, por copiar-lhe os seus piores traços”. (Platão: 250).

Quais são os melhores ou os piores traços? O uso da ciência e da justiça pelo chefe real em posse (monarca real em contraposição ao monarca tirano) da arte de governar os homens e a polis define os melhores traços da 7°forma de poder governamental. O que define os piores traços?
O monarca real se distingue do TIRANO pela posse do saber da ciência da gramática tecedura narrativa real da sociedade política. O tirano detém a posse do saber simulacro de ciência da arte de governar os homens e a polis:
ESTRANGEIRO
“- Necessariamente, pois, parece que entre todas as constituições, esta será a absoluta e unicamente exata, na qual os chefes seriam possuidores da ciência verdadeira e não de um simulacro de ciência; e esses chefes, quer se apoiem ou não em leis, quer sejam desejados ou apensa suportados, pobres ou ricos, nada disso assume a menor importância na apreciação da norma exata”. (Platão: 250).

A posse da ciência real verdadeira em um contraponto ao simulacro de ciência real faz do exercício do poder totalitário uma forma de poder governamental justa (forma legítima na tradução moderna do texto Político). Copiar os piores traços é copiar a narrativa retórica das fábulas (Platão), colocando-as no comando da sociedade política.  A retórica das fábulas é parte da ciência real, mas como subsunção real à filosofia do monarca-filósofo. A retórica das fábulas é o governo das massas pela imaginação da ciência real, mas ela não pode deter o comando da arte de governar e dirigir o homem real e muito menos o homem político (Platão: 251).

A narrativa é extraída da arte do paradigma da gramática da tecedura virtual-real encarnada no filósofo-rei (Platão232, 258):
“- o que aconteceria a tudo isso, conduzido pela sorte, regido pela escrita em lugar de orientado pela arte?
SÓCRATES, O JOVEM
- É claro que veríamos desaparecer todas as artes, sem esperança alguma de retorno, sufocadas por essa lei que proíbe toda pesquisa. E a vida que já é bastante penosa, tornar-se-ia então totalmente insuportável” (Platão: 256).

A forma de poder político baseado na lei escrita só poderá ser uma forma totalitária?

O ESTRANGEIRO DIZ:
- Portanto, em qualquer domínio em que se estabeleçam leis e códigos escritos, impõem-se, em segundo lugar, jamais permitir ao indivíduo ou à massa qualquer ato que possa infringi-los, no que quer que sejam”. (Platão: 256).

O insuportável (definição de real de Lacan) e o desagradável (um insuportável que não é ainda o real da forma de poder totalitária perfeita, como desejava o fascista alemão) é a questão mais estratégica do campo do agir:

ESTRANGEIRO
“- Qual é pois, entre essas constituições imperfeitas (as seis formas de poder simulacros do único original), aquela onde a vida é menos desagradável – pois é desagradável em todas – e qual é a mais insuportável? Eis o que nos é necessário ver, ainda que isso tenha pequena importância com relação ao nosso assunto atual. Mas talvez, de um modo geral, é essa a questão que domina todas as nossas ações”. (Platão: 258-259).

Os governos de um só, de alguns ou da multidão constituem as três grandes formas de poder governamental. Divide-se cada uma delas em duas partes, formando seis, e ainda temos de lado virtual a sétima forma de poder, a única verdadeira. O par se divide pelo governo da lei ou da falta de lei.

Entre as formas imperfeitas de poder: “A monarquia unida a boas regras escritas a que chamamos leis, é a melhor das seis constituições, ao passo que, sem leis é a que torna a vida mais penosa e insuportável”. (Platão: 259). A forma de poder mais insuportável é o grau zero da felicidade e o grau máximo do realmente insuportável. Lacan Com Platão significa que o real é a forma de poder sensível governamental do TIRANO. Trata-se do simulacro de forma de poder do original monárquico real como o mais real que o próprio real que é o real da forma de poder racional.

O poder racional é o poder da teoria gramatical da tecedura do rei-filósofo:
“Mesmo quando o chefe único possui verdadeiramente a ciência, nós lhe daremos, sem hesitar, esse mesmo nome de rei, pois o conjunto das constituições que distinguimos aqui não comporta mais de cinco”. (Platão: 258).

Até aqui para Platão a democracia não é par é ímpar. Prosseguindo, a democracia é dividida em duas formas: governo da multidão com lei e sem lei:
“Finalmente o da multidão é fraco em comparação com os demais e incapaz de um grande bem ou de um grande mal, pois nele os poderes são distribuídos entre muitas pessoas. Do mesmo modo, esta é pior forma de constituição quando submetida à lei e a melhor forma quando estas são violadas. Estando todos elas fora da restrição da lei, é na democracia que se vive melhor (observem o caráter totalitária da lei às avessas); sendo, porém, todas bem ordenadas esta é a última que se deveria escolher. Sob este ponto de vista a que nomeamos em primeiro lugar é a melhor (monarquia constitucional) de todas exceto a sétima, pois ela se assemelha a um deus entre os homens e é necessário colocá-la à parte de todas as demais constituições”. (Platão: 259-260).

A democracia sem lei é a melhor forma de poder governamental entre as formas sem lei. No conjunto com lei, a monarquia do chefe real é o melhor modo de vida da sociedade política. A democracia sem lei é o avesso da tirania? A tirania é governada pela realização da satisfação dos desejos do tirano, do ponto de vista da relação da forma de poder governamental com o princípio do prazer fazendo pendant com o princípio de realidade (forma de poder governamental).
A democracia sem lei é o melhor modo de vida (em geral, ela é a felicidade freudiana), pois, ela é a realização da satisfação dos desejos ilimitados circunstancialmente da multidão que governa. Em geral ela é a expressão da felicidade freudiana dos indivíduos e das massas da sociedade narcose (Freud: 100).

Popper estabelece uma ligação dualista entre teologia/episteme (teoria das formas e ideias) e formas de poder governamental (que serve especialmente para pensar a democracia como pior ou melhor modo de vida para o indivíduo e a multidão que governa:
“A ideia platônica é o original e a ordem das coisas é a racionalidade, a razão de sua existência a; o princípio estável e sustentador em virtude do qual ela existe. É a virtude da coisa, seu ideal, sua perfeição“. (Popper:42).

Este enunciado laico tem parentesco com a teologia:
“Poderá contribuir para a compreensão da teoria das Formas ou ideias de Platão uma comparação com certas crenças religiosas gregas (...) Em consequência certas tribos e famílias levavam sua ancestralidade até um ou outro dos deuses. (Diz-se que a própria família de Platão ligava sua origem ao deus Poseidon). Basta-nos considerar esses deuses são imortais e perfeitos – ou muito perto disso – enquanto os homens comuns se envolvem no fluxo e refluxo de todas as coisas, sujeitos a decadência (que em verdade é o derradeiro destino de cada indivíduo humano), para ver que esses deuses se relacionam com os homens do mesmo modo que as Formas ou ideias de Platão se relacionam com aquelas coisas sensíveis que são suas cópias”. (Popper: 43). 

Para não ficarmos só nesse plano teológico político, vejamos a teologia secular da queda:
“como Santo Agostinho e os primeiros autores patrísticos, Platão admite o valor relativo das instituições que pertence à humanidade decaída, e que estão a ela ajustados”. (Barker: 331).

A queda e a degeneração podem ser evitadas pelo agir parar a mudança. Para tal feito, é preciso arte e engenho, ciência real do rei-filósofo associada a um campo de poder onde reine o estadista (ou político) que faz parar o fluxo das coisas sensíveis, das cópias, dos simulacros que dominam a sociedade política:
“A arte do estadista é conhecimento verdadeiro: a única forma genuína de governo é aquela em que os governantes são sábios (293B); e o único Estado verdadeiro é o dirigido por tais governantes. Em outras palavras, o Estado não pode ser uma sociedade política a não ser mediante a unidade que lhe dá poder coordenador da arte do governo baseada no conhecimento verdadeiro (de outro modo não passará de uma facção política); e este conhecimento só pode ser alcançado por uma pessoa, ou no máximo por algumas pessoas. A massa não pode ter acesso à ciência política (292B), e o estadista verdadeiro é sempre um dos poucos que chegaram a adquirir conhecimento daquela ciência”. (Barker: 333).

A imagem platônica de Sir Ernest Barker faz pendant com a relação elite e massas da teoria das elites? Trata-se de uma imagem totalitária como fantasia lacaniana do passado no século XX? Na década de 1950, o mais notável dos elitistas possuía uma imagem quase digestível do totalitarismo platônico, que teria existido como cidade-estado em uma época longínqua, quando reinava ainda no mundo da idade do ouro, que foi substituída pela idade da prata, era da timocracia na qual os guerreiros se teriam tornado superiores aos sábios:

Na idade do ouro: “Bem entendido, a educação deve tender a desenvolver os sentimentos elevados e sobretudo a fazer com que o cidadão abandone qualquer sentimento egoísta e esteja sempre pronto a sacrificar-se pelo bem do Estado. Este deve ser considerado como uma grande família, pois o número de cidadãos não deve ultrapassar um certo limite. A cidade não deve ser construída à beira-mar, a fim de evitar os contatos com os estrangeiros que poderiam tornar-se perigosos introduzindo novos costumes e alterando a unidade moral dos cidadãos”. (Mosca: 48). O estrangeiro significa mudança!

Em Barker, o totalitarismo platônico é pintado com fortes pinceladas:
“Que dizer, então, das leis e do consentimento, como princípios políticos e elementos do Estado? Trata-se de fatores irrelevantes e desnecessários, responde Platão: na verdade, as leis são mesmo prejudiciais. Em sua essência a arte do estadista é uma ciência do tipo imperativo, revestida de controle soberano; é uma arte, e é essencial a toda arte que o seu praticante a exerça soberanamente, livre de quaisquer regras que determinem os seus métodos de trabalho (embora todos os demais artistas, exceção feita ao estadista, trabalhem sob controle deste, e portanto não sejam soberanos) ”. (Barker: 333).

Quanto as leis da polis Platão se refere a cidade histórica grega regida por uma ordem escrita totalitária com uma tradição de costumes que podem ser considerados absolutistas (Platão: 266).

Barker é fiel ao texto platônico sobre a lei da polis:
"É possível que o temor platônico à rigidez das leis seja excessivo, mas é preciso não esquecer o caráter das leis em que ele estava pensando: a Lei grega era um corpo fixo de preceitos, praticamente estático. Os estados helênicos valorizavam o instinto de obediência (‘eunomia’) a essa lei fixa, e temiam as inovações”. (Barker: 336).           
                                                                PLATÃO COM FREUD E KELSEN
                                                                                                          
Platão com Freud é o início do fim do dualismo essencialista de Platão? O paradigma da gramática da tecedura das formas de poder da sociedade política (= história) associados ao princípio da realidade e ao princípio do prazer nos permite pensar com um Platão monista?

Em sua leitura de Freud, o jusfilósofo neokantiano Hans Kelsen abre esta porta para nós:
“Do ponto de vista da crítica do conhecimento, faz-se particularmente necessário remover o método teológico das ciências do espírito e sobretudo das ciências socais – aniquilar o sistema dualista. E a análise de psicológica de Freud prestou um importantíssimo serviço em seus elementos psicológicos individuais as hipóstases de deus, da sociedade e do Estado, não obstante a carga mágica de sua terminologia centenária”. (Kelsen. 1993: 343).

                                                                    ...E POPPER             
Entre os destacados interpretes do totalitarismo platônico, Kelsen diz, ao contrário de Popper, que a justiça do chefe único real autocrata absolutista não é dita (ou definida) por Platão em toda a sua obra (Kelsen. 1995: 498). Ao contrário, Popper define a justiça totalitária em uma leitura sociológica moderna de Platão que liga justiça totalitária com sociedade de classes.

A justiça totalitária popperiana é anti-igualitarista, anti-individualista e anti-humanista. O objetivo dela é o governo da classe dirigente ou governante como está claro na página 103:
a)            A classe governante é aquela dos pastores e cães de vigia, que deve ser inteiramente separada do gado humano: indivíduo e/ou massas
b)           Deve zelar pela identificação do destino do Estado com o da classe governante.
c)            A classe governante tem o monopólio das virtudes, adestramento militar de comando, o direito ao monopólio das armas, de receber educação de qualquer espécie.
d)           Deve haver censura de toda atividade intelectual da classe dirigente e uma propaganda contínua para que ela metabolize a ideologia gramatical dominante. Qualquer inovação em educação, legislação e religião deve ser evita ou suprimida.
e)           O Estado deve ser autossuficiente, uma autarquia econômica. Deve haver uma autonomia absoluta do estado em relação à economia mercantil, economia dominante quase burguesa na antiguidade.
f)            O significante gramatical da ideologia gramatical dominante é: PARAR A MUDANÇA. (Popper: 102).

Não há no monumental A sociedade democrática e seus inimigos especialmente na parte dedicada a justiça em geral (105-107) e na parte sobre a justiça em Sócrates (Popper:145-151), não há a ideia de justiça gramatical de Sócrates: não prejudicar (Platão. A República: 20, 23) em contraposição à justiça gramatical do sofista Trasímaco, ou seja, justiça oligárquica: fazer o bem para o amigo, o mal para os outros. Para Sócrates a sua deveria ser a justiça da politeia democrática virtual socrática em contraposição à justiça da tradição totalitária escrita da democracia que o condenou a beber cicuta por causa de sua prática de demolição crítica dos líderes democráticos (Popper: 146).

A definição de justiça do lado direito (Sócrates) e do lado avesso (Trasímaco) põe uma dívida razoável quanto a afirmação de Kelsen de que em Platão não há nada dito sobre o significante gramatical justiça. Se o rei é o filósofo socrático, isto é, o amante da sabedoria em incessante autocrítica, Lenin fez do partido bolchevique o rei-filósofo socrático. Porém, a justiça leninista não pode ser a justiça socrática, pois, a luta de classes não o permite. É impossível praticar o não prejudicar movido por uma ideologia gramatical de guerra capitalista entre as classes.

O rei-filósofo de Platão é aquele chefe único real perfeito da justiça socrática? Para Platão, a justiça socrática é um impossível sujeito gramatical em uma sociedade política em fluxo historial das formas de poder. Então, parar a mudança, parar o fluxo das coisas sensíveis de se inscrever no real só substituindo tais simulacros pela sétima espécie de forma de poder governamental imutável e perfeita como Deus (Platão: A República: 78). Aí seria atualizável e possível a justiça socrática? No entanto se trata da passagem da história para a teologia platônica. Toda a crítica a sétima espécie de forma de poder governamental como autocracia absoluta, em Kelsen, se faz no território da sociedade política e pelo esquecimento da teologia política de Platão. 

Quanto a atualização do totalitarismo sociológico nominalista de Platão para o século XXI, Popper esquece que a política da sociedade civil pode ser, justamente, o estabelecimento de controles, incluindo aí como ator gramatical as massas, da sociedade civil sobre a classe governante. A própria classe simbólica (intelectual) pode agir como instância de controle sobre a classe governante, sendo ele parte da classe dirigente. A atualização do totalitarismo sociológico platônico popperiano não precisa ser naturalmente totalitário ou autocrático absolutista.

Sobre a inexistência de uma ciência real, Kelsen não leu no Político a ciência real como paradigma gramatical da tecedura da sociedade política em narrativa retórica e/ou gramática lógica dialética filosófica:
“Resulta daí, entretanto, que a arte de governar caracterizada por Platão como um saber ou uma ciência – visto que ele declara ser a razão o seu fundamento –, na verdade não e saber ou ciência alguma, nem tem coisa alguma a ver com razão, em seu sentido racional”. (Kelsen. 1995: 500). A razão para Kelsen não inclui o caminho do logos para a gramática em narrativa dialética da sociedade política.   

Kelsen está falando da razão científica moderna (modelo para ser ler a razão da antiguidade na era da modernidade liberal do século XX em luta mortal contra o totalitarismo) e não na razão gramatical dialética da tecedura da sociedade política, claramente exposta, em detalhes, e sentido geral, no Político. A profundar tal questão só recorrendo a Heidegger, no seu Metafísica de Aristóteles Ɵ 1-3. Sobre a essência e a realidade da força, nas páginas 13-14).

                                                                    BOBBIO E LACAN
Bobbio escreveu um livro para os departamentos de ciência política da Itália sobre as formas de governo. Na tipologia geral tem-se três formas boas no lado direito (monarquia [governo de um só], aristocracia [governo de alguns] e democracia positiva ou politeia [governo da multidão com leis) e no lado anverso três formas más (democracia [governo da multidão sem lei], oligarquia e tirania [governo sem lei, da arte do simulacro, do uso violência sem limite, governo baseado na realização da satisfação dos desejos tirânicos do tirano]). Este último governo é a forma real de poder lacaniana, impossível de ser suportada. E a democracia negativa de Bobbio, pois, sem lei, é a melhor forma de poder para o indivíduo viver, pois, regida pelo princípio do prazer. Uma o avesso da outra!
Mas Bobbio diz que Platão acompanha a tipologia geral diferindo as 3 formas boas das 3 formas más.
Ele usa dois critérios:
“Relendo a passagem citada (nas quais Platão distingue as formas boas das más), veremos que esses critérios são, em substância, dois: violência e consenso, legalidade e ilegalidade. As formas boas são aquelas em que o governo não se baseia na violência e sim no consentimento ou na vontade dos cidadãos: onde ele atua de acordo com leis estabelecidas, e não arbitrariamente”. (Bobbio: 46).

O critério de Platão no Político não é se a forma é boa ou má, mas se o exercício do poder da forma de governo é real, mais real ainda, ou mais real que próprio o real. Todas as formas simulacros propiciam uma realidade desagradável (mais ou menos desagradável) ou impossível de ser suportado. E isto não tem a ver com a forma obedecer a lei escrita. A democracia com lei pode ser a forma de poder mais desagradável para se viver só sendo suprassumida pela tirania do chefe único da arte de governo pelo simulacro que torna a vida no mundo-da-vida mais real que o real, e, portanto, mais insuportável que o insuportável.

Como governo da multidão baseada na arte de governar os homens e a polis pelo princípio do prazer (algo próximo da ordem lacaniana regrada pela ética lacaniana do prazer), a democracia é a melhor forma de governo para o indivíduo viver, pois, aí predomina a sociedade da felicidade do político, parodiando pedestremente Freud.
                                                                                 REI-FILÓSOFO
No Capítulo 8. O Rei-Filósofo cujo objeto gramatical é o rei-filósofo como forma de poder pessoal gramatical governamental, Popper faz sua leitura marxista do platonismo. Ei-la!

O poder pessoal do rei-filósofo é o poder pessoal de Platão que esperava ser conclamado para reinar em Atenas (Popper: 171-174). O poder pessoal é um poder totalitário, pois, o rei-filósofo tem o direito –dado pela posse da ciência real ou gramática em narrativa da tecedura retórica – de mentir como remédio forte parte do uso da medicina política, uso do mercado de cada curandeiro:  “a venda de feitiços, de encantamento criadores de raças, em troca de poder sobre seus cidadãos”. (Popper: 174).

Popper usa a ideia de rei-filósofo para fazer emergir a classe simbólica (classe do intelectual ou filósofo-rei) em sua relação com a classe política. Para o Platão de Popper, a classe dirigente deve ser a junção da classe simbólica com a classe governante ou política: “- A menos – diz Sócrates -, em suas cidades, os filósofos sejam investidos do poder dos reis, ou que aqueles chamados reis e oligarcas se tornem genuínos e plenamente qualificados filósofos; a menos que estes dois poderes, o político e o filósofo, se fundam ( ao mesmo tempo que  sejam eliminados pela força os muitos que hoje seguem suas naturais inclinações apenas por um dos dois), a menos que isso aconteça, meu caro Glaucon, não poderá haver repouso; e o mal não cessará de agitar as cidades, nem creio eu, a raça dos homens”. (Platão: 169-170).

Platão-Sócrates fala da instabilidade política da forma de poder governamental da realeza, da oligarquia, da aristocracia, da democracia, enfim, da relação da classe simbólica com todas as formas de poder governamental. A intercessão entre o poder político e o poder simbólico ou cultural define a política como um modo eficaz de evitar a mudança da forma constitucional, pondo-a em repouso. A política é definida como interseção entre política tout court e as culturas políticas da classe simbólica condensadas em uma ideologia gramatical da cidade-estado (polis da antiguidade grega).

Entre as culturas políticas da classe simbólica se encontra aquela que faz uso da mentira como forma de enganar as massas e a própria classe política. Talvez, a classe simbólica seja o próprio estadista como efeito do significante-mestre rei-filósofo que é personificado por Platão. O estadista tem o privilégio de mentir para o inimigo, o povo (seus concidadãos) e, inclusive, para a própria classe política ou governante constituídas de homens livres e normais (Popper: 155, 157, 159).

Dizer a verdade é sempre a melhor política para as massas, mas para o estadista, o uso da mentira para governar os homens e a polis é uma necessidade cultural política e elemento gramatical da ideologia dominante. Popper crê que Platão inventou a propaganda totalitária stalinista ou hitlerista, pois, Lenin diz que a melhor política é aquela que diz a verdade para as massas. Para Platão, a classe simbólica ou classe cultural tem como primeiro compromisso o repouso da forma de poder governamental, ou seja, evitar por todos os meios táticos e estratégicos a mudança da constituição governamental. Se isso não parece da produção do contemporâneo, então, observem a forma de poder governamental, isto é, o campo de poder governamental constitucional dos Estados Unidos e da Inglaterra e outros campos de poder europeus.

 Uma outra forma de campo de poder político/poder cultural encontra-se em Kant. Para Sócrates e para Kant, a classe cultural é constituída por sujeito-ator gramatical frágil (efeito em parte do significante estadista e em parte livre-pensador), “todos, frágeis seres humanos”. (Popper: 174). Nem todos que pertencem à classe simbólica pode ver o seguinte: “ Aquele que pertence a esse pequeno grupo pode ver a loucura dos demais e a corrupção geral dos negócios públicos” (Popper: 172). No século XXI, a fração da classe cultural especializada na loucura se amplia em uma reprodução ampliada impressionante, mas ela nada entende da arte de governar os homens livres e a polis. Só as ciências gramaticais da política fazem a interseção entre poder político e poder cultural para efeito de investigação da política tout court e da política como interseção de poder político gramatical com poder simbólico lacaniano.

Encontramos em Kant o seguinte texto citado por Popper: “Não é provável suceder que os reis se tornem filósofos ou, os filósofos reis; nem seria isso desejável, visto como a posse do poder invariavelmente rebaixa o livre julgamento da razão. É, porém, indispensável que um rei – ou um povo real, isto é, que se governe a si mesmo, - não suprima os filósofos, mas lhes deixe o direito de se manifestarem em público”. (Popper: 170).

As formas de poder governamental totalitárias querem tratar o poder cultural do estadista ou como parte da cultura política witz de um povo de homens livres e normais (tratá-lo como uma infame paródia de estadista) ou, calá-lo pelo uso da força física ou simbólica ou até assassiná-lo:
“Algumas vezes, pelo menos, Platão esperava que fossem ter com ele, que o êxito de sua obra, a fama de sua sabedoria os atrairia. Outras vezes, sentia que só poderiam ser incitados a furiosos ataques, que tudo quanto atrairia sobre si mesmo seria ‘um rumor de gargalhadas e difamação’, talvez mesmo a morte”. (Platão: 173).

A política platônica é aquela da dialética entre o original e a cópia, o mundo inteligível e o mundo das coisas sensíveis do simulacro, entre duas formas de linguagem (Platão: 163). Dialética entre a política racional e a política real do racional mais racional que o racional, enfim, política do simulacro de simulação na gramaticalização pós-modernista que Baudrillard faz do significante guerra (stásis e pólemos) e/ou do significante poder cultural de Popper/Platão, (Baudrillard: 89, 119, 177).

A política do simulacro de simulação de um simulacro de classe simbólica faz do agir estratégico a essência de seu agir causando uma profunda mudança na política tout court e na política como fusão e poder político com poder cultural. A política se transforma em um campo puramente do agir estratégico:
“Pero Habermas considera las formas ˂estratégicas> de comunicación (tales como mentir, despistar, enganar, manipular, etc.) como derivadas; implican la suspension de ciertas pretensiones de validez (especialmente de la de veracidad), son parásitas del habla orientada al entendimiento genuíno”. (MacCarthy: 333).

Michel-Pierre Edmond confronta o problema do dualismo platônico cristão. Entre Deus e o mundo sensível se encontra o demiurgo. A filosofia platônica cristã estabelece que: Le philosophe, par la contemplation des idées, se rende semblable au divin et peut espérer aprés as mort la fusion de som âme, ansi transformé, avec lui. Cette interprétation fait de l avie comtenplative l’idéal religiuex et mystique de cet homme d’élite que’est le philosophe; elle privilégie le seul perfectionnement de l’individu et rebaisse considérerablement la visée du perfectionnement des hommes dans e par la vie politique”. (Edmond: 9).

O rebaixamento da vida política faz do filósofo um organizador dos meios materiais, terrestre da vida contemplativa. O filósofo demanda unicamente à cidade a garantia de sua própria segurança, de o deixar viver em paz. O filósofo se dedica ao exercício da episteme da investigação das formas e ideais reunidas no reino celestial em um antagonismo radial ao mundo doso homens e das coisas sensíveis. O homem existe no real investido por sua natureza divina. Tal fato intelectual assinala claramente o dualismo divino/animal do homem e o divino regula o agir do homem na construção de uma cidade justa.

O cristianismo platônico possui dois mundos. Um divino outro humano, congelados e fechados sobre si próprios. Do mesmo modo, isto torna aleatória toda atividade mediadora que religue um ao outro. Se concebe a passagem de um ao outro como um vôo. O abismo do dualismo  cristão pode ser gramaticalizado a caminho do monismo platônico: “Or Platon fait de Socrate un personnage qui mime Éros, ce petit dieu mobile qui lie le ciel à la terre et la terre au ciel. Lier implique une activité de liaison qui suppose un sujet ou um auteur. A cet auteur, Platon donne le nom de démiurge. (Edmond: 10).

No entanto, ligando o céu a terra, o demiurgo é um sujeito gramatical da teologia naturalis de Platão. Com o rei-filósofo se dá a passagem da teologia para a história? Passagem da teologia platônica para a teoria gramatical platônica secular.

O demiurgo é uma peça mestre da filosofia teológica de Platão. Ele é o tornozelo obreiro do trabalho do divino: “Le ˂Dieu n’ést pas cause de tout>ne sert pas seulement à innocenter le divin vis-à-vis du mal que font les hommes. Il indique aussi que si nous étions ˂intelligibles> ou dans ˂intelligible>, il n’y aurait pas besoin de démiurgie”. (Idem: 11).

Se o Deus cristão cria diretamente o mundo, o mundo em Platão é criado via intermediação do demiurgo entre as formas, as ideias (faz pendant com o mundo divino) e os simulacros. Não é o mundo divino ou aquele das ideias que produz esta ordem diretamente: “Il faut un médiateur. Il en est de même pour le dialecticien et pour le philosophe-rei, ces demiurgie politiques. On voit bien que la dévalorisation du thème démiurgique pae le platonisme chrétien conduit à l’idée du Dieu créateur, au rebaissement de la fonction du philosophe-roi. Si Le philosophe  a sa vraie vie dans le monde divin, il n’a pas du tout besoin de jouer les démiurges”. (Edmond: 11).

A definitiva passagem da teologia cristã platônica para a história da teoria política gramatical define o estatuto da cidade platônica:
A – Si les hommes qui apprennent à se reconnaître dans la figure du philosophe-rei, doivent se livrer au travail démiurgique, c’est parce qu’ils n’ont pas au départ de nature: nulle nature humaine inscrit dans un cosmos qui leur donnerait initialement identité propre et orientation (...) Les hommes, pour Platon, sont dans le flou, l’indétermination, l’etrangeté, ce dont rend compte la mobilité tous azimuts de leurs âmes. Ils sont à la recherche d’un lieu, d’un statut, d’un office à remplir e ils ne pourront satisfaire cette quête par la constituicion d’ordes. L’instituition de la cité correspondra à celle de leur propre identité. C’est là les sens de la fameuse correspondance entre l’âme e la cité”. (Edmond: 12).

O verdadeiro antagonismo gramatical não é entre o mundo divino ou das ideias e o mundo terrestre, mas entre o primeiro e aquele mundo das coisas sensíveis, dos simulacros que fazem do mundo-da-vida um estado caótico se comparado ao mundo da forma de poder político da realeza-filosófica. A forma de poder rei-filósofo é a encarnação do mundo das ideias realeza filosófica da gramática em narrativa tecedural da sociedade política.         

A sociedade política é feita de sujeitos gramaticais enérgicos e moderados em excesso. Isto é o real da realidade da sociedade política que equivale à história do homem real e do homem político:
Se na história não são escravos, os homens: “Quanto aos demais suficientemente bem-nascidos para que uma boa formação possa levá-los às virtudes generosa e para que um método hábil possa amalgamá-los uns aos outros, se inclinarem mais para a energia, pela rigidez de seu caráter, a ciência real marcará um lugar na urdidura; os outros se inclinam mais para a moderação constituem, para essa mesma ciência, e prosseguindo em nossa comparação, o tecido flexível e brando da trama. Sendo opostas suas tendências, a política se esforça por uni-los e entrelaça-los da seguinte maneira.
- Reúne, em primeiro lugar, seguindo as afinidades, a parte eterna de sua alma com um fio divino, e em seguida, depois dessa parte divina, une a parte animal com fios humanos” (Platão: 266-267).

Assim, o sujeito da cidade platônica é um sujeito gramatical em narrativa amálgama divina e animal em uníssono, longe de viver em um mundo de formas de poder governamental que lhe beneficia com a felicidade. Aliás, Santo Agostinho sabe que na cidade platônica sensível, os corpos políticos existem para governar e dirigir homens livres e a polis, em estados desagradáveis ou insuportáveis, ao contrário da cidade de Deus: “todas as partes do corpo incorruptível, agora destinadas a certos usos necessários à vida, não terão outra função que não seja o louvor divino, porque já não haverá necessidade então, mas perfeita, certa, inalterável e eterna felicidade”. Santo Agostinho. v. 1: 634).     
     
A política amálgama da classe dirigente se faz de antagonismos que ela mesma entrelaça via a fusão do poder político com o poder cultural. Ao contrário da cidade-simulacro, temos uma cidade da felicidade platônica na terra platônica, finalmente:
“Eis, pois, terminado em perfeito tecido o estofo que a ação política urdiu quando, tomando os caracteres humanos de energia e moderação, a arte real congrega e une suas duas vidas pela concórdia e amizade, realizando, assim, o mais magnífico e excelente de todos os tecidos. Abrange, em cada cidade, todo o povo, escravos ou homens livres, estreita-os todos na sua trama e governa e dirige, assegurando à cidade, sem falta ou desfalecimento, toda a felicidade de que pode desfrutar”. (Platão: 269).

Assim, Platão conclui a sua gramática monista em narrativa dialética da forma de poder governamental que governa e dirige o todo (a polis) e as partes os sujeitos gramaticais homem real e homem político.

Trata-se da GRAMÁTICA DA TECEDURA NARRATIVA DA POLIS E DA POLÍTICA exposta no Político!

BARKER, Sir Ernest. Teoria política grega. Brasília: UNB, 1978
BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris, Galilèe, 1981
Bobbio, Norberto. A teoria das formas de governo. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1980
EDMOND, Michel-Pierre. Le philosophe-roi. Platon et la politique. Paris: Payot, 1991
FREUD. Obras Completas. O Mal-Estar na Civilização. (1930 [1929]). RJ: Imago, 1974
HEIDEGGER, Martin. Metafísica de Aristóteles Ɵ 1-3. Sobre a essência e a realidade da força. Petrópolis: VOZES, 2007
INWOOD, Michael. Dicionário Hegel. RJ: Jorge Zahar Editor, 1997
KELSEN, Hans. A democracia. SP: Martins Fontes: 1993
KELSEN, Hans. A ilusão da justiça. SP: Martins Fontes, 1995
McCARTHY, Thomas. La teoria de Jürgen Habermas. Madrid: Tecnos, 1992
MOSCA E BOUTHOUL, Gaetano e Gaston. História das doutrinas políticas. Desde a Antiguidade. RJ: Zahar Editores, 1975
PLATÃO. Diálogos. III. A República. Edições de Ouro. RJ: Editora Tecnoprint, sem data
PLATÃO. Político. Pensadores. SP: Abril Cultural, 1972
POPPER, Karl R. A sociedade democrática e seus inimigos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959

SANTO AGOSTINHO. A cidade de Deus. Parte I. Petrópolis: VOZES, 1989

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