terça-feira, 29 de agosto de 2017

CIÊNCIAS GRAMATICAIS DA POLÍTICA



zpbandeira@gmail.com

Vivemos na era da organização criminosa sociológica das ilegalidades dominantes: KRIMINOSTAT. A organização criminosa sociológica é um objeto, por excelência, do campo das ciências gramaticais da política.

Creio que o meio jurídico confunde organização criminosa PENAL com organização criminosa SOCIOLÓGICA

O multiculturalismo é a abertura de algumas comportas do desejo revolucionário republicano

Liberdade é a abertura das comportas do desejo revolucionário  republicano do direito  igual desejante na diferença LGBT.

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O multiculturalismo é a abertura de algumas comportas do desejo revolucionário republicano

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

REPÚBLICA, DEMOCRACIA, LIBERALISMO, AUTOCRACIA

José Paulo

DA FORMA DE GOVERNO E DO ESTADO



Como revolução do desejo, a América é uma revolução liberal e a França uma revolução republicana. 

A revolução republicana francesa se realiza contra o inimigo sociedade de estamentos e privilégios feudais. 

A revolução americana é revolução liberal ex nihilo feudal

No repouso do pós-modernismo, a verdade se tornou simulação e simulacro; agora é verdade verdadeira das massas e para as massas

A cultura de massa é uma organização autocrática que faz pendant com o sistema político autocrático

Verdade verdadeira das massas: revolução republicana do desejo cum democracia

O jornalista do Segundo Mundo pouco sabe de ciência política real: exercício da ciência do real da política

A democracia no partido moderno é o sucedânio da democracia direta da antiguidade

Sistema partidário autocrático traz a política autotélica da classe política

...estamento para designar política partidária: ideologia socioólogica que oculta os interesses de classes do parlamento

O parlamento é condensação de interesses de classes (econômico, político, cultural)

O Brasil nunca teve um Estado liberal = Estado mínimo + Estado de direito. Teve um Estado mínimo no Império e na Velha República

Em 1930, Getúlio começou a construir um Estado máximo sem Estado de direito ou Estado mínimo


Estado máximo é Estado burocrático de direitos das massas.

O Estado mínimo de tarefas não precisa de Bürokratie; basta a administração liberal

O Estado liberal mínimo pede um governo para poucos: Estado burguês = comitê central da burguesia

Estado liberal de direito é Estado de direito do indivíduo burguês


A realidade atual suprassumiu todas as ideias aqui expostas? Ideias do passado moderno!

A ciência política moderna é ciência do passado; ela é uma ideologia ou fantasma da era moderna?

O liberalismo diz: o governo na sua melhor forma é um mal necessário; na sua pior, é insuportável. Marx pensa assim

Em Marx, a ditadura do proletariado (Comuna de Paris) é a forma para destruir qualquer forma de governo

Periodizando a forma de governo liberal 1988. Ela deixou de existir, pois, não há magistratura independente do poder político

Nas nossas "repúblicas", a magistratura não possuía autonomia relativa ao poder político; grau zero de Estado liberal

A democracia moderna é uma ideia da revolução americana e da revolução francesa: ideia da soberania popular nacional

Se o neoliberalismo do globalismo destrói a ideia de nação, ele evapora a ideia de soberania popular nacional

A ideia de democracia procedural é aquela de uma democracia desvinculada do passado moderno das revoluções da modernidade. Democracia sem a tradição revolucionária e sem soberania popular nacional. Trata-se de um corpo político representativo sem a alma da nação; forma representativa sem conteúdo metafísico de um povo, em geral 


O neoliberalismo do globalismo é a força cultural política econômica de dilapidação da democracia representativa nacional

O neoliberalismo do globalismo é a força cultural política econômica de dilapidação da democracia representativa nacional

O governo neoliberal brasileiro não representa a nação; representa interesses particulares dominantes privados

O governo neoliberal (presidência + congresso) não representa a soberania popular nacional; não representa a nação gramatical


Diante da situação exposta aqui, os políticos privatizaram a política como esfera pública. Frações do judiciário fizeram o mesmo

Passagem dos DONOS DO PODER para os políticos DONOS DA POLÍTICA. Não é estamento ou corporação, e sim organização burocrática

O furor de governar é considerado desejo patológico do governante contra o qual o povo-nação deve buscar se proteger

O governo brasileiro = presidência + congresso + jornalismo eletrônico (representante da cultura de massa em geral)

O furor de governar do jornalista eletrônico é um anelo moral de cultura política: CONCUPISCÊNCIA

Se a democracia se sustenta pela fim atingido como governo da economia (leitura economicista da política mundial), o desejo da democracia neoliberal é a realização da satisfação do desejo de destruir o Estado máximo 

A crise política é crise entre forma política e conteúdo econômico.

Em Dilma, a economia neoliberal (conteúdo) pôs em cheque a forma política democrática 1988

A economia neoliberal empurrou Dilma para a experiência de construção de uma forma política autoritária do bolivariano

Com Dilma Rousseff, a cultura de massa tomou uma inclinação para uma autocracia de massas do bolivariano.

Com Dilma, o PT, o PMDB carioca e a televisão carioca, o caminho era construir a forma autocrática de governo do neoliberalismo econômico: forma política AUTOCRACIA NEOLIBERAL

Michel Temer não cai. Por quê? Porque ele é a forma democrática adequada à economia neoliberal: DEMOCRACIA NEOLIBERAL

terça-feira, 22 de agosto de 2017

EDITORIAL – da decadência política-1988

José Paulo

EDITORIAL – populismo e 1988

O Estado militar 1964 foi um momento de decadência (corrupção) historial e relação ao Estado democrático (1946-1964). Chamá-lo de Estado populista (democracia populista) foi o ato de criar uma linguagem sedutora para destruir uma corrente política poderosa na política nacional: trabalhismo getulista.

A linguagem do populismo lançou uma confusão na nossa política. Ela permitiu que o Estado militar não fosse considerado como um momento de decadência ou corrupção da política nacional. Assim, economistas falam de um governo Geisel que não se encaixa na ideia de decadência ou corrupção da política nacional. Dilma Roussef tomou o governo Geisel como modelo de política econômica e sabe-se lá mais o quê! Lula e o PT não enxergam o Estado militar como um momento de decadência da nossa história política pós-II Guerra Mundial.

Todo o esforço moral e intelectual -que desaguou em uma política de destruição do Estado militar – para reverter a decadência da política militar tem no Legislador-1988 (Assembleia Nacional Constituinte) seu ponto de excelência. 1988 não significa um novo começo da política nacional como uma reviravolta em relação à corrupção da política militar?

Quando 1988 deu seus primeiros sinais de decadência? Golpe de Estado branco de FHC para se reeleger, mudando a natureza da Constituição como Ordem Política na qual não cabia o estatuto da reeleição. Criação da Okhrana em 1999, por FHC. Corrupção criminosa policial do 1°governo Lula no caso da Petrobrás. Corrupção criminosa policial de todo o sistema político no 2°governo Lula e nos dois governos Dilma Rousseff. Participação direta do PMDB no poder nacional como governo Temer.            

O país se encontra em um momento de decadência da política-1988. Se os políticos fazem leis corruptas na reforma política, tal fenômeno é um efeito da decadência da política-1988. Se o PMDB troca de nome para MDB isto não significa a volta do MDB original que foi uma parte importante do esforço intelectual e moral para a desmontagem do Estado militar negro 1968 (que veio depois do Estado militar liberal 1964).

Não há no horizonte fenômenos políticos que poderiam ser tomados como partes do esforço intelectual e moral para encerrar (na cultura política e na política tout court) o ciclo de decadência ou corrupção da política-1988. Não há nada que se assemelhe as correntes políticas antidecadência do momento 1964-1987 representadas na política por partidos políticos como PMDB e PT movido pela ética pública.


As eleições de 2018 estão mais para um episódio de coroamento da decadência-1988 do que para uma reviravolta que ponha um fim à decadência-1988?

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

SADE - DA REVOLUÇÃO REPUBLICANA PERMANENTE

José Paulo


No a Filosofia da alcova, O Marquês de Sade se interroga, para além da libertinagem narrativa livresca, sobre um objeto, a revolução?

Se a revolução é Ding (uma coisa no sentido da língua alemã [Heidegger: 16] que é debate jurídico ou debate em geral, ainda mais duelo, combate, coisa como luta em outras línguas), Ding pode ser a coisa-combate do espaço público procedural hegeliano: Ding e diálogo. Na revolução, o diálogo costuma ser excluído do agir revolucionário contra a ordem vigente ou ancien régime. A revolução é apenas Ding, a Coisa em questão.

A revolução permanente republicana de Sade é a lei do gozo para todos. Uma captura do Imperativo moral kantiano (para os distraídos) no sentido da ética sadiana de abrir todas as comportas do desejo humano? A ética sadiana tem das Ding (o objeto-em-luta) no lugar de um agir universal e infinito? Em Sade, das Ding é a lei universal do direito ao gozo para todos? O discurso de Sade faz do gozo de Ding uma subversão da Lei que limita o desejo de prazer em relação ao Ding?

 Não gozar com das Ding é a definição da Lei em geral. Gozar remete para a relação de prazer do bebê com a Mãe-objeto de desejo do bebê? Não transformar prazer em gozo é a lei universal da passagem da natureza para a cultura que constitui o homem! Pois, das Ding é a Mãe (Lacan. S.7: 90).  
Lacan diz:
“la mère reste interdite. Notre verdict est confirmé sur la soumission de Sade à la Loi. (Lacan. 1966: 790). É possível ir mais longe e dizer que a função do mal leva-o ao reconhecimento indireto da Lei na cultura: L’apologie du crime ne le pousse qu’à  l’aveu détourné de la Loi. L’Étre suprême est restauré  dans le Maléfice”. (Lacan. 1966: 790).

Submissão à Lei de Ding não significa submissão à lei jurídica! Ding é combate, luta, revolução republicana permanente em Sade. Trata-se da submissão à lei de Ding ou ˂tirer les choses au clair> ou que ˂Bonne chose a besoin de temps> revolucionários!         

Sade se submete à Lei moral de interdição do incesto que não é um dos 10 mandamentos nomeados da narrativa judaica. Este mandamento é a falta de um significante na cadeia dos significantes da moral judia-cristã, significante que articula, de modo latente e ausente, aos 10 mandamentos à passagem da natureza à cultura. A moral em tela já é um puro artefato cultural, fato da cultura moral que trabalha fazendo pendant com o natural recalque (fato comum recalcado na cultura) do gozo de Ding.

A revolução permanente republicana tem uma Lei: não gozar com o objeto revolução como objeto substituto da mãe-Ding. A revolução republicana não é o direito ao gozo integral e infinito! A ética da revolução republicana é abrir muitas comportas do desejo, mas não todas.

De qualquer modo o panfleto Franceses, mais um esforço para serem republicanos faz o pacato Lacan falar de política revolucionária francesa, europeia:
“Após esse apelo, suposto ser colhido por um movimento de folhetos que se agitam nesse momento na Paris revolucionária, o marquês de Sade nos propõe como máxima universal de nossa conduta, visto o que, nas premissas desse livro, consiste a ruína das autoridades, o advento de uma verdadeira república, o contrário do que pôde ser até então considerado como o mínimo vital de uma vida viável e coerente.
E, na verdade, ele não sustenta nada mal isso. Não é absolutamente por acaso que encontramos inicialmente na Filosofia na alcova um elogio da calúnia. A calúnia, diz-nos ele, não poderia, em nenhum caso ser nociva – se ela imputa o nosso próximo algo muito pior do que se pode com razão atribuir-lhe, ela tem por mérito alertar-nos contra suas empreitadas. E prossegue deste modo, justificando ponto por ponto o derrubamento dos imperativos fundamentais da lei moral, e preconizando o incesto, o adultério, o roubo e tudo o que vocês podem acrescentar. Peguem o contrário de todas a leis do Decálogo e terão a exposição coerente de algo cujo móvel final articula-se em suma assim – Tomemos como máxima universal de nossa ação o direito de gozar de outrem, quem quer que seja, como instrumento de nosso prazer! ”. (Lacan. S. 7: 100). Claro que Lacan já disse que excetuando a mãe!

Com efeito, a revolução republicana permanente trata do gozo entre homens revolucionários libertinos e belas mulheres:
“Sade demonstra, com muita coerência, que uma vez universalizada essa lei, se ela confere aos libertinos a livre disposição de todas as mulheres indistintamente, consentido elas ou não, libera-as inversamente de todos os deveres que uma sociedade civilizada lhes impõe em suas relações conjugais, matrimoniais e outras. Essa concepção abre as comportas que ele propõe imaginariamente no horizonte do desejo, cada um sendo solicitado a levar a seu extremo as exigências de sua cobiça e de realizá-las”. (Lacan. S. 7: 100-101).

Contra a revolução republicana permanente sadiana imaginária ou real, as feministas se levantam como um só homem. Toda a articulação de uma sociedade de polícia e seu aparelho de Estado feminista se ergue contra o libertino, consciente ou inconsciente, que considera que pode dispor das mulheres sem o consentimento delas. Trata-se da transdialética gramatical sadiana às avessas que põe de um lado a forma homem animal despótico vocal e de outro o conjunto mulheres.               

Uma comporta a ser aberta na gramática transdialética em tela é a da apologia da CALÚNIA.  Transdialética entre a cultura de massa moderna (vigilância da calúnia) e da cultura de massas sadiana na Internet: realização do desejo-liberdade de caluniar.  Tal desejo nos remete para o Jesus Cristo de Renan!

O crime de Jesus não foi a poderosa e divina eloquência satírica com a qual ele ataca a classe sacerdotal judaica ultrajando-a na zombaria e no ridículo, como frisa Lacan:
“Mais s’il vous faut um coeur bien accroché pour suivre Sade quando il prône la calomnie, premier article de la moralité à instituer dans sa republique, on préférerait qu’il mit le piquant d’un Renan. ˂Félicitons-nous, écrit ce dernier, que Jésus n’ait rencontré aucune loi qui punît l’outrage envers une classe de citoyens. Les Pharisiens eussent été inviolables> et il continue: ˂ Ses exquises moqueries, ses magiques provocations frappaient toujours ao coeur. Cette tunique de Nessus du ridicule que le Juif, fils des Pharisiens, traîne en lambeaux aprés lui depuis dix-huit siècles, c’est Jésus qui l’a tissée par un artífice divin. Chef-d’ouvre de haute raillerie, ses traits se sont inscrits en ligne de feu sur la chair de l’hypocrite et du faux dévot. Traits incomparables, traits dignes d’un Fils de Dieu! Un Dieu seul sait tuer de la sorte. Socrate et Molière ne font qu’efflereur la peau. Celui-ci porte juaqu’au fond des os le feu et la rage>”. (Lacan. 1966: 788).     

A eloquência dialética de Jesus era feita de calúnias que jogava na lata de lixo teológica a própria narrativa judaica como um todo:
“ Coitados de vós, escribas e fariseus hipócritas. Pois vós limpais o exterior da taça e do prato, mas o interior, que está cheio de rapina e cupidez, vós nem reparais. Fariseu cego, primeiro lava o interior, para depois pensar na limpeza do exterior.
Coitados de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pois vós pareceis sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos, mas que, por dentro, estão cheios de ossos de mortos e de toda espécie de podridão. Aparentemente, vós sois os justos; mas no fundo, estais cheios de fingimento e pecado.
Coitados de vós, escribas e fariseus hipócritas, que ergueis os túmulos dos profetas, e enfeitais os monumentos dos justos, e que dizeis: ‘ Se nós tivéssemos vivido no tempo de nossos pais não teríamos sido cúmplices nas mortes dos profetas’. Ah! Vós pretendeis ser filhos dos que mataram os profetas. Pois bem, acabai de acumular a medida de vossos pais. A sabedoria de Deus bem teve razão em dizer: ‘Eu vos enviarei profetas, sábios, doutos; vós matareis uns, perseguireis outros de cidade em cidade, para que um dia caia sobre vós todo o sangue inocente que foi espalhado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que vós matastes entre o templo e o altar. Eu vos digo: é nesta presente geração que todo esse sangue será cobrado”. (Renan: 328-329)       

O crime que condena Jesus é o artigo jurídico sedução:
“O procedimento adotado pelos sacerdotes contra Jesus estava de acordo com o direito estabelecido. O processo contra o ‘sedutor’ (mesith), que busca atentar contra a pureza da religião, é explicado no Talmude com detalhes cuja ingênua impudência faz rir. A cilada judiciária ali é tomada como parte essencial da instrução criminal. Quando um homem é acusado de ‘sedução’, instalam-se duas testemunhas por detrás de uma parede; arruma-se um jeito de atrair o acusado para um quarto contíguo, onde possa ser ouvido pelas testemunhas, sem que as percebas. Acendem-se dois candeeiros perto dele, para que fique bem constatado que as testemunhas ‘o veem”. Em seguida, faz-se o acusado repetir sua blasfêmia. Ele é levado a se retratar. Se ele persistir, as testemunhas que o ouviram levam-no ao tribunal e ele é apedrejado. O Talmude acrescenta que foi dessa forma que procederam com Jesus, que ele foi condenado sobre o depoimento de duas testemunhas, e que o crime de ‘sedução’ é, em suma, o único para o qual se preparam testemunhas dessa forma”. (Renan: 358-359).    

Trata-se da política do partido sacerdotal que usa uma artimanha jurídica teológica menor, quase pessoal, para condenar e crucificar. Renan diz que essa é a política de todos os tempos ocidentais para tratar com os revolucionários espiritualistas ou materialistas:
“Certamente, as causas que deveriam levar Jerusalém à ruína, 37 anos mais tarde, estavam fora do cristianismo nascente. Contudo, não se pode dizer que o motivo alegado nessa circunstância pelos sacerdotes estivesse completamente fora de propósito para que se veja nele má-fé. Num sentido geral, Jesus, se triunfasse, realmente levaria a nação judaica à ruína. Partindo de princípios admitidos de improviso por toda a antiga política, Hanan e Caifás tinham então, o direito de dizer: ‘Mais vale a morte de um homem que a ruína de um povo’. Esse é um raciocínio, para nós, detestável. Mas este raciocínio foi o dos partidos conservadores desde a origem das sociedades humanas. O ‘partido da ordem’ (tomo essa expressão no sentido estrito e mesquinho) foi sempre o mesmo. Pensando que a última palavra do governo é impedir as comoções populares, ele crê praticar um ato de patriotismo ao prevenir com um homicídio jurídico a efusão tumultuosa do sangue. Pouco preocupado com o futuro, ele não imagina que, ao declarar guerra a qualquer iniciativa, ele corre o risco de frustrar uma ideia destinada a um promissor triunfo. A morte de Jesus foi uma das mil aplicações dessa política. O movimento que ele dirigia era apenas espiritual; mas era um movimento, desde então os homens da ordem, persuadidos de que o essencial para a humanidade era não se agitar, deviam impedir a expansão do novo espírito. Jamais se viu, por meio de um exemplo mais chocante, como tal conduta vai contra seu objetivo. Se deixado livre, Jesus ter-se-ia esgotado numa luta desesperada contra impossível. O ódio ininteligível de seus inimigos decidiu o sucesso de sua obra e selou sua divindade”. (Renan: 338-339).

Hoje, nos encontramos longe do direito sacerdotal judaico arcaico? Certamente, o presidente Temer nada tem de comum com Jesus. Mas não foi preparada uma cilada farisaica e hipócrita para ele na situação de ‘sedução’ da empresa Fri boi que pode ser uma semblância ou algo real? Qual a distância do nosso direito do direito judaico arcaico, direito do Urstaat judaico? Qual a distância da política brasileira em relação à política do ‘partido da ordem’ (Renan) desde os tempos arcaicos?

A política do partido da ordem não faz pendant com a revolução permanente republicana do Marquês de Sade? Tal evolução não avança sobre os corpos das mulheres através de libertinos arcaicos republicanos?    

                                                                     REVOLUÇÃO REPUBLICANA PERMANENTE

Sade começa o panfleto Français, encore un effort si vous voulez être républicains com uma fantasia do futuro (Marx):
“Je viens offrir de grandes idées: on les écoutera , elles seron réfléchies; si toutes ne plaisent pas, au moins en restera-t-il quelques-unes; j’aurai contribué em quelque chose au progrès des lumières, et j’en serai contente”. (Sade: 187).

A liberdade é o significante-mestre da revolução permanente do republicanismo. A liberdade liga o republicanismo ao Esclarecimento. Sade expõe um conjunto de ideias, mas sua revolução republicana estará em curso permanente se algumas dessas ideais se tornarem a prática política no real da sociedade moderna ou pior no século XXI...

A primeira ideia do republicanismo é aniquilar o cristianismo na cultura Europeia, pois, a revolução é europeia: Si, malheureusement pour lui, le Français s’ensevelissait encore dans les ténèbres du christianisme, d’um côte l’orgueil, la tyrannie, le despotisme des pêtres, vice toujours renaissants dans cette horde impure, de l’autre la bassesse, les petis vues, les platitudes des dogmes et des mystères de cette indigne et fabuleuse religion, en émoussant la fierté de l’âme republicaine, l’auraint bientôt ramenée sous le joug que son énergie vient de briser”. (Sade: 188)

A religião faz pendant com a tirania civil em todas as épocas:
Ne perdons pas de vue que cette puérile religion était une des meilleures armes aux mains de nos tyrans: un de ses premier dogmes était de rendre à César ce qui appartient à César; mais nous avons détrôné César et nous ne voulons plus rien lui rendre”. (Sade: 188).  

A religião invade o real da sociedade política dos significantes (Lacan. S. 18: 18); ela não é uma ideologia política simples qualquer constituída por juízos de opinião para a vida do senso comum do homem; mas sim uma ideologia sem objeto que, no entanto, subjetivam os significantes reais, peixes que voam na superfície do oceano da tradição (camponeses); ela é um sucedâneo de ideologia gramatical. O republicanismo deve ser também uma ideologia gramatical para as massas:
“; les paysans n’ont-ils pas senti la nécessité de l’anéantissiment du culte catholique, si contraditoire aux vrais príncipes de la liberte? N’ont-ils pas vu sans effroi, comme sans douleur, culbuter leus autels et leurs presbytères? Ah! Croyez qu’ils renonceront de même à leur ridicule dieu. Les statues de Mars, de Minerve et de la Liberté seront mises aux endroits le plus remarquables de leurs habitaions; une fête annuelle s’y célébrera tout ans; la couronne civique y sera  décernée au citoyen qui aura le mieux mérité de la patrie”. (Sade: 196).

O republicanismo deve ser uma correlato pagão de cristianismo?

A felicidade é o sujeito gramatical do republicanismo revolucionário permanente:
“faites-leur sentir que ce bonheur consiste à rendre les autres aussi fortunés que noud désirons l’être nous-mêmes”. (Sade: 199).

A felicidade faz pendant com a felicidade de Freud?

A felicidade faz pendant com a moral kantiana-sadiana:
“Disons que le nerf du factum est donné dans la maxime à proposer sa règle à la jouissance, insolite à s’y faire droit à la mode de Kant, de se poser comme règle universelle. Énonçons la maxime: ˂ J’ai le droit de jouir de ton corps, peut me dire quiconque, et ce droit, je l’exercerai, sans qu’aucune limite m’arrête dans la caprice des exactions que j’aie le goût d’y assouvir > ”. (Lacan. 1966: 768-769).

Freud diz: “O que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de necessidades representadas em alto grau, sendo por sua natureza, possível apenas como uma manifestação episódica”. (Freud. XXI: 95).

Uma comunidade intelectual atravessa épocas e faz a ligação neurônica-significante ente Sade-Kant-Freud?

A arte é insuficiente para a obtenção da felicidade. A sublimação da realização da satisfação dos desejos necessita fazer pendant com a sociedade narcose para evitar o progresso e a expansão do republicanismo revolucionário permanente? Freud diz:
“As pessoas receptivas à influência da arte não lhe podem atribuir um valor alto demais como fonte de prazer e consolação da vida. Não obstante, a suave narcose a que arte nos induz, não faz mais do que ocasionar um afastamento passageiro das pressões das necessidades vitais, não sendo suficientemente forte para nos levar a esquecer a aflição real”. (Freud. XXI: 100).

A aflição real é aquela que se constitue como motor moral do republicanismo revolucionário. Temos aí a substituição da ideologia gramatical pela moral de gramaticalização das aflições reais.

Das Ding é o objeto supremo da aflição moral real. A religião (Deus) pode dar conta desse objeto? Para Sade, a religião é uma ideologia sem objeto, uma ideologia da representação onde o objeto escapa de ser representado, a não ser como ficção:
Toutes nos idées sont des représentations des objets qui nous frappent; qu’est-ce qui peut nous représenter l’idée de Dieu, qui est évidemment une idée sans objet”. (Sade: 200). Trata-se de um fantasma (Sade: 195).

O fantasma é o sujeito gramatical, por excelência, da ideologia:
Gespenst Nr. 1 (Fantôme n° 1: l’être suprême (dans höchste Wesen), Dieu. On ne perd pas une minute à parler de cette ˂ incroyable croyance >, note Marx. Ni Stirner ni Marx ne s’arrêtent d’ailleurs sur l’essence du croire, ici de la foi par excellence, qui ne peut jamais croire qu’à l’incroyable, et ne serait pas ce qu’elle est sans cela, au-delà de toute ˂preuve de l’existence de Dieu > ”. (Derrida. 1993: 227).

Em Marx, a ideologia econômica põe a mercadoria no lugar de Deus. Trata-se de uma ideologia materialista sem objeto:
“O esquema fantasmal parece, desde então, indispensável. A mercadoria é uma ‘coisa’ sem fenômeno, uma coisa em fuga que passa os sentidos (ela é invisível, intangível, inaudível e sem odor); mas essa transcendência não é toda espiritual, ela conserva esse corpo sem corpo de que havíamos reconhecido que ele fazia a diferença do espectro para o espírito. O que passa os sentidos passa ainda diante de nós, na silhueta do corpo sensível que, no entanto, lhe falta ou nos permanece inacessível. Marx não diz sensível e insensível, sensível mas insensível, diz: sensível insensível, sensivelmente supra-sensível. A transcendência, o movimento em supra, o passo além (über, epekeina) se faz sensível no excesso mesmo. Torna o insensível sensível (...) A mercadoria obsidia assim a coisa, seu espectro trabalha o valor de uso”. (Derrida. 1994:  202).

A transdialética da ideologia materialista gramaticaliza o mundo do valor de uso no real como coisa-fantasmal. Passagem do idealismo do mundo para o materialismo da coisa sem fenômeno. Trata-se da moral capitalista capaz de pôr um freio no republicanismo revolucionário? Marx viu na moral socialista exposta no Crítica ao Programa de Gotha um meio de desviar o republicanismo revolucionário? O fracasso tanto do socialismo da URSS como do capitalismo americano permitiu à moral do republicanismo sadiano retomar seu desenvolvimento e expansão na física gramatical?  
                                                             SADE, MEU PRÓXIMO MORAL

A moral sadiana dos costumes é um passo além da ideologia gramatical materialista de Marx. Passemos a ela.

Deus é o objeto fictício ou oco de uma ideologia religiosa; Deus é esse ridículo fantasma da imaginação das massas. Em Ding (duelo com Deus) não se deve usar a cólera, e sim a brincadeira gozosa:
“Français, plus de dieux, si vous voulez pas que leur funeste empire vous replonge bientôt dans tout les horreurs du depotisme; mais ce n’est qu’en vous en moquant que vous les détruirez; tout les dangers qu’ils traînent à leurs suíte renaîtront aussitôt en foule si vous y mettez del’humeur ou de l’importance. Ne revenserz point leurs idoles en colère: pulvérisez-les em jouant, et l’opinion tombera d’elle-même”. (Sade: 206).

Espanto liberal! A lei do Estado revolucionário republicano não dobra aquele que não se submete à lei:
Or, quel sera le comble de votre injustice si vous frappez de la loi celui auquel il est impossible de se plier à la loi!”. (Sade: 208).

Aquele que não se dobra à lei é o revolucionário do republicanismo. Curioso que Jesus poderia ser considerado um revolucionário do republicanismo se sua revolução fosse materialista. Hegel diz sobre o indivíduo revolucionário de todos os tempos ocidentais:
“uma modificação pela qual o indivíduo, como efetividade especial e como conteúdo peculiar, se opõe àquela efetividade universal. Essa oposição vem a tornar-se crime quando o indivíduo suprassume essa efetividade de uma maneira apenas singular; ou vem a tornar-se um outro mundo – outro direito, outra lei e outros costumes, produzidos em lugar dos presentes – quando o indivíduo o faz de maneira universal e, portanto, para todos”. (Hegel. 1992: 194).        

Freud trata como gramática moral ilógica o credo quia absurdum, do primeiro padre da Igreja atribuído a Tertuliano, que sustenta que as ideologias religiosas estão fora da jurisdição da razão (Freud. XXI: 40-41). Quanto ao amar o próximo como a ti mesmo, eis o credo cria absurdum fazendo pendant com Sade:
“Acho que agora posso ouvir uma voz solene me repreendendo: ‘É precisamente porque teu próximo não é digno de amor, mas, pelo contrário, é teu inimigo, que deves amá-lo como a ti mesmo’. Compreendo então que se trata de um caso semelhante ao do Credo quis absurdum”. (Freud. v. XXI: 132).

Sade desmonta o Credo quia absurdum com uma grande simplicidade argumentativa:
Il ne s’agit pas d’aimer ses semblables commme soi-même, puisque cela est contre toutes les lois de la nature, et que son seul organe doit diriger tout les actions de notre vie; il n’est question que d’aimer nos semblables comme des freres, comme des amis que la nature nous donne, et avec lesquels nous devons vivre d’autant mieux dans un État republicain que la disparition des distances doit nécessairaiment resserrer les liens”. (Sade: 207). 

Não tem descanso! Sobre o conceito delito criminoso: “Le législateur, dont toutes les idées doivent être grandes comme l’ouvrage auquel il s’applique, ne doit jamais étudier l’effet du délit qui ne frappé qu’individuellement; c’est son effet en masse qu’il doit examiner”. (Sade: 212).

A burocracia republicana revolucionária é a Bürokratie de Marx no lugar do significante burguês liberal administração de Hegel. (Marx. 1982: 357). No Brasil, uma Bürokratie revolucionária republicana se põe e repõe como freio à revolução da moral republicana dos costumes:
Quoi qu’il en soit enfin, les forfaits que nous pouvons commettre envers nos frères se réduisent à quatre principaux: la colomnie, le vol, les délits qui, causés par l’impureté, peuvent atteindre désagréablement les autres, e le meurtre. Toutes ces actions, considérées como capitales dans un gouvernements monarchique, sont-elles aussi graves dans un État républicain? (Sade: 210)      

Encerro! E convido o leitor a continuar a gramaticalização do inconsciente do discurso do político do marquês de Sade! 

DERRIDA, Jacques. Spectres de Marx. Paris: Galilée, 1993
DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx. RJ: Relume-Dumará, 1994
FREUD. Obras Completas. v. XXI. RJ: Imago, 1974
HEGEL. Fenomenologia do Espírito. Parte I. Petrópolis: VOZES, 1992
HEIDEGGER. Qu’est-ce qu’une chose? Paris: Gallimard, 1962
LACAN, Jacques. Écrits. Paris: Seuil, 1996
-------------------- O Seminário. Livro 7. A ética da psicanálise. RJ: Jorge Zahar Editor, 1991
------------------- O Seminário. Livro 18. De um discurso que não fosse semblante. RJ: Zahar, 2009
MARX e Engels, Carlos e Federico. v. 1. Marx. Escritos de Juventud. México: Fondo de Cultura Económica, 1982
RENAN, Ernest. Vida de Jesus. SP: Martin Claret, Sem Data
SADE. Marquês. La philosophie dans le boudoir. Paris: Gallimard, 1976