quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

DA PRUSSIA GRAMATICAL-LACANIANO AMERICANA

 José Paulo

                                                                                           I
A cultura de massa americana é obcecada por temas que falam do fim da civilização americana. O fim da humanidade americana e macacos governando a América. O macaco é uma metáfora grosseira dos povos do terceiro mundo (tratada com simpatia) - governando o território trans-subjetivo América.  

Na tela gramatical invisível da América, a metáfora supracitada é o signo de um Estados Unidos governado por macacos americanos. Trata-se da transformação dos americanos em macacos, isto é, em um povo do terceiro mundo, um povo que criou uma maravilhosa civilização capitalista democrática e regrediu para a barbárie de uma vida de macacos que falam, claudicantemente, inglês, mas não escrevem em inglês; é um povo que perdeu para sempre o poder gramatical de usar a língua escrita para articular uma sociedade de comunicação da civilização ocidental. Eu não odeio os americanos!

Depois da II Guerra, a América se construiu como uma civilização cuja articulação da hegemonia da política ficava, em grande parte, nas mãos dos políticos em coalizão com o jornalismo impresso, televisivo, radiofônico. Muitos cientistas políticos viram aí a civilização democrática de massas, quando era apenas uma cultura política de massa industrial. Tratava-se da grande indústria cultural de Adorno.
Marxista alemães e americanos viram na cultura de massa industrial um meio potente de mudança da vida espiritual americana. A indústria cultural aprofundava e intensificava o americanismo definido por Heidegger:
“A maquinação é o acabamento incondicionado do ser como vontade de poder. Mas mesmo a maquinação como essência do ser tem ainda um inessência.
A inessência da maquinação exige uma humanidade que não desertifique toda tradição, mas propague para além da desertificação, isto é, para o interior de sua inessência, justamente uma tradição desertificada da metafísica (e, isto é, da história ocidental), essencialmente sem raízes. Esta instauração da inessência da maquinação está reservada ao americanismo.
Mais tenebroso do que toda e qualquer selvageria asiática é esta ‘moralidade’ desenraizada e alastrada até o engodo incondicionado.
Somente aqui o abandono do ser alcança a condição extrema de uma constância.
Será que reconhecemos suficientemente que tudo o que há de tenebroso reside no americanismo e de modo algum no mundo russo? ”. (Heidegger: 157).

Heidegger compara a América com o totalitarismo russo. O americanismo é o caminho dos Estados Unidos para fora da história ocidental. O caminho para fora do Ocidental e Heidegger o vivenciou no totalitarismo fascista alemão; o totalitarismo americano (pois, se trata de comparar realidades gramaticais totalitárias) é desprovido de metafísica, e, portanto, é uma “moralidade” sem raízes metafísicas e propagada como um artifício, uma isca, para atrair e enganar, simular, dissimular, sugestionar, mentir, manipular incondicionalmente.

Não há como pensar o surgimento da nefasta elite do poder (Wright Mills) sem a grande indústria cultural de massa. Elite do poder significa uma elite industrial que usa a violência industrializada gramatical (cultura de massa) ou real (Guerra internacional, guerra civil racial, guerra civil sexual (mulher versus homem) sem limite:
“Nenhuma classe dominante fixa, baseada na vida agrária e florescendo na glória militar poderia deter na América o impulso histórico do comércio e da indústria, ou subordinar a si a elite capitalista – como os capitalistas se subordinaram, por exemplo, na Alemanha e no Japão. Nem poderia semelhante classe, em parte alguma do mundo, conter os capitalistas dos Estados Unidos, quando a violência industrializada (grifo meu) passou a decidir a história. Basta ver a sorte da Alemanha e do Japão nas duas guerras mundiais do século XX – e também a da própria Grã-Bretanha e sua classe dominante modelar, quando Nova York tornou-se a capital econômica inevitável, e Washington a capital política do mundo capitalista”. (Mills: 22).   

O totalitarismo americano industrializado ou americanismo é o avesso da democracia da civilização ocidental; ele é homólogo à via prussiana que levou a Alemanha ao nazismo (Lukács: 41). O totalitarismo alemão foi um efeito, em parte da via industrial prussiana. A violência da técnica industrial via prussiana pesa como chumbo no cérebro do americano do americanismo. Há porém a via prussiana da América Latina

Norbert Elias descreveu a associação da via prussiana com a embriaguez mitológica da hegemonia (febre de hegemonia na política mundial) e como perda de sentido gramatical da realidade dos fatos política. (Elias: 41). Elias viu na tradição gramatical da via prussiana da técnica industrial alemão nazista um passado que Marcuse (e W. Mills) vê se articular na América, na década de 1960:
“Além disso, o que, na nossa memória, torna o nacional-socialismo, ainda hoje, tão intolerável não é simplesmente a brutalidade dos seus representantes. Brutalidades de toda a espécie são, no nosso mundo, uma coisa trivial. O que ainda hoje assusta é, por um lado, a edificação minuciosa, quase racional ou realista, de uma grande organização e da utilização de tecnologias científicas e, simultaneamente, a neutralização e a anulação radicais da consciência face ao sofrimento e à morte de milhões de homens, mulheres e crianças – de seres humanos que não representavam qualquer perigo para o grupo dominante, que não possuíam quaisquer armas e que foram chacinados pior do que reses num matadouro, de uma maneira abominável”. (Elias: 49).

A guerra civil racial do americanismo liga-se, de algum modo, a ideia de guerra civil racial bio-histórica nacional-socialista? Os arianos americanos não são sucedâneos (no plano das ideologias políticas como manifestação organizada e sistematizada da cultura política gramatical) dos arianos germânicos? :
“Os indivíduos de raça germânica eram chamados pela natureza e ´pela história a constituir um escol de senhores, uma espécie de aristocracia da humanidade. As outras raças, sobretudo Judeus e os Negros, eram inferiores e, por isso, inimigos naturais. O melhor seria exterminá-los”. (Elias: 49). 
   
                                                                                        II
Há toda uma literatura sociológica que fala de países desenvolvidos convivendo com o subdesenvolvimento em seu próprio território. Virou modo no jornalismo brasileiro dizer, corriqueiramente, que países da Escandinávia escapam a tal classificação. Aí neste território europeu não-industrial a civilização ocidental mantém seu caráter de países puramente desenvolvidos, países não assolados pela peste do terceiro mundo. Quanto aos EUA, França, Inglaterra e Alemanha temos países desenvolvidos com subdesenvolvimento. Trata-se de uma regressão na civilização europeia democrática e capitalista tout court.

A regressão é um modo negativo de falar do acontecimento em tela; o modo positivo é dizer que se trata da via prussiana americana. Há vestígios na literatura sociológica ou filosófica sobre o passado da Prússia Americana?

Na década de 1960, Herbert Marcuse registrou a regressão da civilização americana democrática a uma espécie de totalitarismo industrial do americanismo heideggeriano. Ele viu no domínio da técnica industrial americana o motor da articulação de uma sociedade gramatical de significantes prussiano totalitária:
“A análise é focalizada na sociedade industrial desenvolvida, na qual o aparato técnico de produção e distribuição (com um crescente setor de automação) não funciona como a soma total de meros instrumentos que possam ser isolados de seus efeitos sociais e políticos, mas, antes, como um sistema que determina, a priori, tanto o produto do aparato como as operações de sua manutenção e ampliação. Nessa sociedade, o aparato produtivo tende a tornar-se totalitário (grifo meu) no quanto determina não apenas as oscilações, habilidades e atitudes socialmente necessárias, mas também as necessidades e aspirações individuais. A tecnologia serve para instituir formas novas, mais eficazes e mais agradáveis de controle social e coesão social. A tendência totalitária (grifo meu) desses controles parece confirma-se ainda em outro sentido – disseminando-se pelas áreas menos desenvolvidas e até mesmo pré-industriais e criando similaridades no desenvolvimento do capitalismo e do comunismo”. (Marcuse: 18).

Desenvolvido na América, o totalitarismo da técnica industrial do americanismo tende a se tornar uma articulação da hegemonia da cultura política mundial com similaridades com o totalitarismo russo asiático da URSS. Revisitado o significante via prussiana, sua gramática em narrativa lógica não se refere mais a Alemanha nazista, e sim a totalidade da história da segunda metade do século XX, entrando no século XXI. Como a Inglaterra foi o objeto empírico-formal econômico de O capital, a França o objeto-formal da política do século XIX (O 18 Brumário de Luís Bonaparte) e Paris a capital cultural do século XIX (Benjamin: 35-37), a América é o objeto gramatical do totalitarismo do século XX e XXI.

O totalitarismo do americanismo é um acontecimento do campo simbólico-gramatical da linguagem
“Esse tipo de bem-estar, a superestrutura produtiva sobre a base infeliz da sociedade, penetra o ‘meio’ que medeia entre senhores e seus dependentes. Seus agentes de publicidade moldam o universo da comunicação no qual o comportamento unidimensional se expressa. Sua linguagem testemunha a identificação e a unificação, a produção sistemática de pensamento e ação positivos, o ataque concertado às noções transcendentes e críticas. Nas formas predominantes da palavra, o contraste aparece entre os modos de pensar dialéticos bidimensionais e o comportamento tecnológico ou ‘hábitos de pensar’ sociais.

Na expressão desses hábitos de pensar, a tensão entre aparência e realidade, fato e fator, substância e atributo, tende a desaparecer. Os elementos de autonomia, descoberta, demonstração e crítica recuam diante da designação, asserção e imitação. Elementos mágicos, autoritários e rituais invadem a palavra e a linguagem. A locução é privada das mediações que são as etapas do processo de cognição e avaliação cognitiva. Os conceitos que compreendem os fatos, e desse modo transcendem estes, estão perdendo sua representação linguística autêntica. Sem tais mediações, a linguagem tende a expressar e a promover a identificação imediata da razão e do fato, da verdade e da verdade estabelecida, da essência e da existência, da coisa e da função”. (Marcuse: 93). 

Usando Lenin, Lacan fala de uma verdade verdadeira das massas, em um contraponto com a verdade do homem unidimensional. Este não é capaz de usar a interpretação para abordar a realidade dos fatos como verdade verdadeira:
“A interpretação não é submetida à prova de uma verdade que se decida por sim ou não, mas desencadeia a verdade como tal. Só é verdadeira na medida em que é verdadeiramente seguida”. (Lacan. 2009: 13).

Baudrillard retoma Marcuse na linguagem da sociologia do pós-modernismo:
“Par une opération circulare d’ajustement expérimental, d’interférence incessante, comme ceux d’influx nerveux, táctiles et retractiles, qui explorent un objet à force de brèves séquences perceptives, jusqu’à l’avoir localisé et contrôlé – ce qu’ils localisent ainsi et structurent, ce ne sont pas de groupes réels et autonomes, mais des échantillons, c’ets-à-dire socialement et mentalement modellisés par um feu de batteries de messages. L’ ˂opinion publique> est évidemment le plus beau de ces échantillons – non pas une substance politique irréelle, mais hyperréelle, l’hyperréalité fantastique qui ne vit que du montage et de la manipulation testuelle”. (Baudrillard. 1976: 99).             
Na linguagem totalitária da gramática em narrativa lógica da língua inglesa industrial, a problemática da aparência da semblância e realidade dos fatos é obnubilada, obliterada. A coisa em si kantiana é foracluída da alta cultura dos campos de saber do americanismo. A problemática gramatical crucial da diferença entre fato e artefato (Lacan. 2009: 9-21) é subtraída na ciência política e na sociologia do americanismo. A verdade é abandonada na lata de lixo da cultura do simulacro de simulação (Baudrillard. 1981: 177). A verdade não é o verdadeiro para as massas sujeito grau zero sgrammaticatura.

O discurso do mestre cede seu lugar de poder gramatical civilizacional para o poder unidimensional articulado pela violência simbólica da técnica industrial:
“Se discurso do mestre constitui o lastro, a estrutura, o ponto forte em torno do qual se ordenam diversas civilizações, é porque seu motor, afinal, é de uma ordem muito diferente da violência”. (Lacan. 2009: 25)          

O povo americano fala um inglês macarrônico, industrializado, tecnificado pela cultura de massa (e a publicidade), e não domina, minimamente, a gramática inglesa falada na América. O canadense Marshall MacLuhan trata diretamente deste problema:
“É de presumir ser impossível praticar um erro de gramática numa sociedade não-alfabetizada, pois ninguém aí jamais ouviu falar de algum. A diferença entre a ordem oral e a visual é que cria as confusões entre o que é e o que não é gramaticalmente correto. Do mesmo modo, a paixão pela reforma da ortografia, no século dezesseis, nasceu de novo esforço por conciliar a vista e o som”. (MacLuhan: 323).

A passagem para a sociedade de consumo visual de mercadorias é a mola propulsora do divórcio entre o americano e sua gramática inglesa. No entanto, a sociedade de consumo capitalista do americanismo persiste como uma máquina de guerra gramatical da via prussiana pelo uso industrial de sua violência no território trans-subjetivo econômico do mundo-da-vida americana:
“A propósito da juventude americana, Riesman refere-se a um estilo ˂Kwakutl> e um estilo ˂Pueblo>, mencionando assim os modelos culturais definidos por Margaret Mead. Os Kwakutl são violentos, agonísticos, competitivos e ricos, praticando o consumo desenfreado no ˂potlatch>. Os Pueblos são doces, benévolos, gentis, vivendo e contentando-se com pouco. Assim, a cultura actual pode definir-se pela oposição formal de uma cultura dominante – a de consumo desregrado, ritual e conforme – cultura violenta e concorrencial (o ˂potlatch> dos Kwakutl) e de uma subcultura laxista, eufórica e demissiva, dos hippies/Pueblos. Mas, tudo leva a crer que, assim como a violência depressa é reabsorvida em ˂modelos de violência>, assim também a contradição se resolve agora em coexistência funcional. O extremo da adesão e o extremo da recusa tocam-se, como no anel de Moebius, por simples torção. E os dois modelos, em última análise, desenvolvem-se em áreas concêntricas em redor do mesmo eixo da ordem social. John Stuart Mills exprimiu tal fenômeno em termos cruéis: ‘hoje em dia, o simples fato de dar exemplo de não-conformismo, a simples recusa de dobrar o joelho diante dos costumes, é já em si um serviço”. (Baudrillard.1981:224-225).

A trans-subjetividade do americanismo da via prussiana encontra-se realizada na cultura de massa:
“Da mesma maneira que a nova violência é ‘sem objeto’, também a fadiga é ‘sem causa’. Nada tem a ver com a fadiga muscular e energética. Não procede do desgaste físico. Fala-se, é certo, espontaneamente, de ‘desgaste nervoso’, de ‘depressividade’ e de conversão psicossomática. Este tipo de explicação faz parte da cultura de massas (mais precisamente da cultura de massa): aparece em todos os jornais (e em todos os congressos) ”. (Baudrillard. 1981: 225).   

Trata-se daquele uso industrial da linguagem do homem unidimensional, isto é, da trans-subjetividade gramatical da via prussiana do americanismo que, no século XXI, se mantem usual através da indústria farmacêutica-psiquiátrica e das clínicas que são uma mistura insana de manicômio com hospital psiquiátrico, alguns usando a psiquiatria fascista parisiense lacaniana na América Latina. No Rio e São Paulo elas podem ser usadas pela Okhrana (envolvendo a família) para fazer internação involuntária de intelectuais considerados inimigos de poderes políticos como televisão, senado, governo estadual e governo federal.

A propósito, Paris não é mais lacaniana, mas um epifenômeno da indústria farmacêutica-psiquiátrica da Prússia Americana.           
                                                                                            III

A questão do Estado era discutida como estando associada à identidade nacional e à consciência nacional:
“Por conseguinte, também o sentimento de identidade nacional, a consciência do valor próprio dos Alemães, muito particularmente na República Federal, são mais vacilantes, mais inseguros, numa palavra, mais problemáticos do que na maioria dos outros Estados europeus. Os Dinamarqueses, os Franceses, os Ingleses, apesar da perda de poder e status que sofreram todos os países europeus, ainda não têm, actualmente, grandes dificuldades com a sua identidade nacional. Os Alemães, e principalmente os alemães federais, têm dificuldades consideráveis. Não se fala muito disso, em parte, porque, devido à consciência nacional convulsivamente exagerada do Terceiro Reich, quaisquer tentativas dos Alemães para falarem publicamente da sua consciência nacional levanta a suspeita de que se estará a querer reviver a exagerada consciência nacional do Terceiro Reich”. (Elias: 55).

A questão do Estado fez a passagem para a via prussiana do americanismo com a alteração no conceito londrino de Estado sociológico:
“Todas as organizações têm perfis políticos, mas apenas no caso do Estado é que envolve a consolidação de um poder militar em associação ao controle dos meios de violência dentro de uma extensão territorial. Um Estado pode ser definido como uma organização política cujo domínio é territorialmente organizado e capaz de acionar os meios de violência para sustentar esse domínio. Tal definição é próxima daquela de Weber, mas não destaca uma reivindicação ao monopólio dos meios de violência ou o fator de legitimidade”. (Giddens: 45).

O Estado nacional se reparte em dois quanto ao usa da violência, ou real, ou simbólica, ou gramatical. O Estado torna-se o duplo Estado; um Estado constitucional, Estado legal; um Estado sem controle da Constituição, um Estado ilegal. A política mundial é governo constitucional do visível e governo inconstitucional do invisível; a classe política torna-se - por efeito da realidade política supracitada uma organização política sociológica, gramaticalmente, criminosa.

O Estado inconstitucional é o Criminostat (Virilio: 54-55). Foucault pensa o criminostat em junção com o capitalismo fictício e o campo de poderes gramaticais do governo do invisível. As ciências gramaticais da política englobam as transformações vistas por Paul Virilio e Foucault na ideia de Prússia Gramatical Americana.

Foucault diz:
“Podemos, ao contrário, situar os dois processos que na própria continuidade dos processos que a fizeram funcionar são capazes de restringir consideravelmente seu uso e transformar seu funcionamento interno. E eles já foram sem dúvida iniciados em grande escala. Um é o que diminui a utilidade (ou faz aumentar as desvantagens) de uma delinquência organizada como uma ilegalidade específica, fechada e controlada; assim, com a constituição em escala ou internacional de grandes ilegalidades ligadas aos aparelhos políticos e  econômicos (ilegalidades financeiras, serviços de informação, tráfico de armas, e de droga, especulações imobiliárias), é evidente que a mão-de-obra um pouco rústica e manifesta da delinquência se mostra ineficiente: ou ainda, em escala mais restrita, a hierarquia arcaica da prostituição perde grande parte de sua antiga utilidade, desde o momento em que previsões econômicas sobre o prazer sexual foram feitos de modo muito melhor pela venda de anticoncepcionais, ou através de publicações, filmes e espetáculos. O outro processo é o crescimento das redes disciplinares, a multiplicação de seus intercâmbios com o aparelho penal, os poderes cada vez mais amplos que lhe são dados, a transferência para eles cada vez cada vez maior de funções judiciárias; ora, à medida que a medicina, a psicologia, a educação, a assistência, o ‘trabalho social’ tomam parte maior nos poderes de controle e de sanção, em compensação o aparelho penal poderá se medicalizar, se psicologizar, se pedagogizar; e desse modo tornar-se menos útil a ligação que a prisão constituía quando, pela defasagem entre seu discurso penitenciário e seu efeito de consolidação da delinquência, ela articulava o poder penal e o poder disciplinar. No meio de todos esses dispositivos de normalização que se densificam, a especificidade da prisão e seu papel de junção perdem parte de sua razão de ser”. (Foucault: 267-268).

A visão do futuro de Foucault se realizou no século XXI ou como fantasia lacaniana do futuro, ou então, como profecia racional weberiana. (Weber: 316),          

A delinquência dos de cima (classe dominante e classe política) e a delinquência dos de baixo compõem as tropas do Criminostat e da Okhrana (sistema de vigilância, espionagem assédio, captura, tortura, das polícias secretas) expandindo permanentemente no planeta a articulação da hegemonia e dominação da lumpenburguesia e do lumpencapitalismo da ditadura mundial do capital fictício.
Trata-se da ditadura mundial da oligarquia financeira (capital fictício). Temos um salto do domínio da indústria (D-M-D’) para a fórmula capitalista fictícia D-D’. A primeira denota a articulação da hegemonia do capitalismo industrial no domínio da política planetária; a segunda significa a dominação do capital fictício caracterizando uma economia mundial prussiana gramaticalizável do americanismo

Marx viu o domínio do capital fictício como o domínio do fetichismo do dinheiro (aura sacra fames) no capitalismo mundial. Tal gramático dá a explicação, do método da economia política gramatical, para a expansão da corrupção em escala ciclópica no planeta:
“Avec le capital porteur d’intérêt, le rapport capitaliste atteint sa forme la plus extérieur, la plus fétichisée. Nous avons ici A-A’, de le argent produisant de l’argent, une valeur se mettant en valeur elle-même, sans aucun procés qui serve de médiation aux deux extremes. Pour le capital marchand, nous avons au moins la forme générale du moviment capitaliste: A-M-A’, bien qu’il reste confiné à l’interieur de la sphère de circulation et que le profit apparaisse donc comme le simple résultat d’une aliénation”. (Marx. 1977 :362).

A via prussiana do capitalismo ocidental se reflete na transformação do trans-sujeito capital industrial como soberano na Terra. Trata-se, também, da transição do inconsciente freudiano para o inconsciente lacaniano ou LALANGUE. 

Temos a passagem: “O inconsciente é estruturado como uma linguagem, eu não disse pela”. (Lacan. 2003: 490; 1975: 126)) para lalangue:
“Vous voyez qu’à conserver encore ce comme, je m’en tiens à l’ordre de ce que j’avance quand je dis que l’inconscient est structuré comme un langage. Je dis comme pour ne pas dire, j’y reviens toujours, que l’inconscient est structuré par un langage. L’inconscient est structuré comme les assemblages dont s’agit dans la théorie des ensembles sont, comme des lettres. (Lacan. 1975: 46-47).       

Lalangue é o inconsciente da via prussiana mundial do ocidente do século XXI. Há toda uma transformação na linguagem mais radical que significa o desaparecimento dela como tal: os americanos não sabem a gramática do inglês. Lacan diz com todas as letras:
“Si j’ai dit le langage est ce comme quoi l’inconscient est structuré, c’est bien parce que le langage, d’abord, ça n’existe pas. Le langage est ce qu’on essaye de savoir concernent la fonction de lalangue”. (Lacan. 1975: 126).

A transformação diz que lalangue ocupa o lugar da gramática e do gramático na articulação da hegemonia da política mundial? Lacan diz:
“Changement de discours – ça bouge, ça vous, ça nous, ça se traverse, personne n’accuse le coup. J’ai beau dire que cette notion de discours est à prendre comme lien social, fondé sur le langage, et semble donc n’être pas sans rapport avec ce qui dans la linguistique se spécifie comme grammaire, rien ne semble s’en modifier”. (Lacan. 1975: 21).

Lalangue é a matematização que invade o real compatível com o discurso analítico. O discurso analítico faz pendant com a gramática em narrativa lógica do domínio do real do capital fictício no planeta:
“La mathématisation seule atteint à un réel – et c’est en quoi elle est compatible avec notre discours, le discours analytique – un réel qui n’a rien à faire avec ce que la connaissance traditionnelle a supporté, et qui n’est pas ce qu’elle croit, réalité, mais bien fantasme.
Le réel, dirait-je, c’ets le mystère du corps parlant, c’est le mystère de l’inconscient”. (Lacan. 1975: 118).

Tal invasão produz efeitos na relação do discurso com o sujeito gramatical, em geral. O sujeito da via prussiana do capitalismo mundial fictício é superdeterminado pela ditadura mundial do capital fictício. O sujeito deixa de possuir a autonomia relativa necessária para a persistência no ser do real da sociedade democrática. É claro que tal acontecimento se faz no domínio das lutas de classes no Ocidente. Pelas lutas de classes, o gramático rethor percipio tenta resgatar a autonomia relativa do sujeito gramatical como lutas de classes na narrativa nacional, internacional e mundial.

Lalangue se traduz por um discurso do político no qual o sujeito é um epifenômeno do significante lacaniano:
“O que justifica essa regra é que, precisamente, a verdade não é dita por um sujeito, mas suportada”. (Lacan. 2008: 67).  

A soberania do significante matemático topológico é a invasão no território do trans-sujeito pelo fascismo lacaniano, pois:
“Mais de uma coisa no mundo é passível do efeito do significante. Tudo o que está no mundo só se torna fato, propriamente, quando com ele se articula o significante. Nunca, jamais surge o sujeito algum até que o fato seja dito. Temos que trabalhar entre essas duas fronteiras”. (Lacan. 2008: 65).

Para encerrar este enunciado, o sujeito lacaniano é um efeito do discurso como articulação no real de lalangue:
“O que enuncio do próprio sujeito como efeito do discurso”. (Lacan. 2008: 47).
                                                                                      IV

 O Kriminostat em associação com a Okhrana nasceu após a II Guerra Mundial por um agir político gramatical do Papa Pio XII, o Papa nazista. O Papa calculou que o PCI governaria a Itália. Então, fez uma coalizão do governo do invisível com a CIA, a máfia ítalo-americana, máfias italianas para governar a Itália. O uso da violência real simbólica e gramatical (RSG) está na origem do nascimento do Estado do governo do invisível. Percebam que o governo do invisível incluiu uma junção do campo científico (psicologia, não toda, psiquiatria, inclusive a psiquiatria fascista lacaniana em associação com a indústria farmacêutica) com o capitalismo do capital fictício.

 A propósito, na Prússia Topológica Americana lacaniana, a realidade dos fatos permanece subjugada à fantasia transformando a realidade objetiva em aparência da semblância:
A ce titre, comme l’indique ailleurs dans mes graphes la conjonction pointée de ce $ et de ce a, ce n’est rien d’autre que fantasme. Ce fantasme où est pris le sujet, c’est comme tel le support de ce qu’on appelle expressément dans la théorie freudienne le principe de réalité”. (Lacan. 1975: 75). 

Há muito que desenvolver sobre o domínio matemático-topológico digital do capital fictício. Assim espero!

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1981
------------------------    L’échange symbolique et la mort. Paris: Gallimard, 1976
-----------------------      Simulacres et simulation. Paris: Galilée, 1981
BENJAMIM, Walter. Paris. Capitale du XIX siécle. Paris: Les Éditions du Cerf, 1989
ELIAS, Norbert. A condição humana. RJ: Difel, 1991
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1977
GIDDENS, Anthony. O Estado-nação e a violência. SP: EDUSP, 2001
HEIDEGGER, Martin. Nietzsche. Metafísica e niilismo. RJ: Relume Dumará, 2000
LACAN. Jaques. Le Seminaire. Livre XX. Encore. Paris: Seul, 1975
-------------------  Outros Escritos. RJ: Jorge Zahar Editor, 2003
------------------    O Seminário. De um Outro ao outro. Livro 16. Paris: Zahar, 2008
------------------------------------    De um discurso que não fosse semblante. Livro 18. Paris: Zahar, 2009
LUKÁCS, Georg. El asalto a la razon. Barcelona: Grijalbo, 1972
MACLUHAN, Marshall. A galáxia de Gutenberg. SP: Companhia Editora Nacional, 1972
MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial. O homem unidimensional. RJ: Zahar Editores, 1973
MARX, Karl. Le capital. Livre troisième. Texte integral. Paris: Éditions Sociales, 1977
MILLS, C. Wright. A elite do poder. RJ: Zahar Editores, 1975
WEBER, Max. História geral da economia. SP: Mestre JOU, 1968
VIRILO, Paul. Vitesse et politique. Paris: Galilée, 1977

   

    
         


 






Nenhum comentário:

Postar um comentário