domingo, 11 de fevereiro de 2018

O QUE NÃO CONSIGO PENSAR?

José Paulo

Heidegger diz que o gravíssimo é o não pensar a sua própria época. Não pensar a época da atualidade que começa na década de 1950? Uma época só existe se há o pensar dela. Gramsci diz: não há prática sem teoria.

Uma época não existe como o impensado e/ou efeito, somente, de práticas não-discursivas. Como relações primárias, a prática social e a prática institucional não abrem a clareira de pensar de uma época. O livro Filosofia da história de Hegel é o pensar de épocas passadas ao alcançar a época moderna. Trata-se da teoria das práticas não-discursivas de várias épocas. Portanto, continua útil para pensar o gravíssimo do presente que se subtrai como pensar do século XXI.

Heidegger escreveu uma bela e complexa, multifacetada, teoria da sociedade de comunicação de massa. A cultura de massa estabelece opiniões niilistas sobre a sua própria época. Trata-se de uma época como fim da civilização ocidental ou decadência do Ocidente antes do Oriente asiático se aventurar na exploração do domínio econômico e político da Terra.

O pensar não é uma atividade científica, pois, a ciência não é capaz de pensar o que é a ciência. Com a linguagem da história não se consegue pensar a história assim como com a linguagem da psicanálise não se consegue pensar o que é a psicanálise; com a linguagem da matemática não se pensa a matemática. Porém, as ciências do homem, a matemática e a física fornecem a estrutura de conteúdo para se pensar uma época.

O relativismo da física é uma estrutura cultural que possibilita ao saber pensar, pensar a época que começa com a física relativista. A ideia de verdade relativista tem como suporte um saber da física do século XX. Se a verdade é relativa, ela não é a essência de uma época; se ela não é a essência de uma época, ela não serve para nada, pois, chegamos a ideia de que existe uma verdade para cada sujeito: em cada cabeça uma sentença.

Em cada cabeça uma sentença, trata-se de um niilismo anárquico que Marx e Engels combateram no livro A ideologia alemã. Com Marx, Lenin define que a prática é o critério da verdade. Lacan diz que a metabolização do verdadeiro pelas massas é a verdade de uma época. A verdade verdadeira traz riscos para qualquer época!

Retomando o início.

A época da cultura de massa é a época pensada por Heidegger, Adorno, Horkheimer, Marcuse, Umberto Eco, Baudrillard, especialmente. Baudrillard estabeleceu a teoria da sociedade de comunicação de massa como cartografia virtual antecipada da época do globalismo neoliberal. Pierre Lévy foi mais longe, pois, estabeleceu a teoria da sociedade virtual de massa da época do globalismo neoliberal da internet.

Heidegger antecipou na década de 1950 o caminho da cultura da sociedade de massa. Ela trabalha com a doxa (cultura de opiniões jornalística, em última instância) de que o mundo perdeu seu centro historial; caminha com a decadência ocidental; com a destruição; com a ameaça de aniquilamento do mundo provida factualmente pela Guerra Fria nuclear. Tal fenômeno se atualizou no século XXI.
Na cultura de massa, o mundo é desertificação de ideias e de pensar como profetizou Nietzsche e o nosso Guimarães Rosa parodiou no seu romance Grande Sertão Veredas: o sertão está em toda parte.

A cultura de massa é o lugar dos fenômenos niilistas, fenômenos indignos cuja raiz busca necessariamente o defeito, enquanto o defeito real é o não pensar a sua época.  

Na época do globalismo neoliberal, o único sentido do mundo é pagar a dívida dos países com o capital fictício. Na linguagem metafísica tradicional, o Banco é a essência do mundo ocidental. No comando do mundo, o Banco significa devastação além de aniquilamento e destruição. É o Significante gramatical devastação, pois, cultiva precisamente e propaga o obstrutor e o impedidor; obstrui o futuro crescimento industrial do capitalismo moderno nas nações subdesenvolvidas e desenvolvidas da Europa ocidental e impede a construção ampliada da sociedade pós-capitalista.

O Banco é a desertificação/sertão em toda parte.

Este meu texto caminha, pari passu, com o niilismo neoliberal do globalismo que dominou a cultura ocidental? Ele diz que não há saída fora do fenômeno supracitado? Ele é um texto pessimista? Gramsci diz: pessimismo na teoria, otimismo na prática.

Esta interpretação provém da minha indiferente relação com a história nacional e com o homem, ou melhor, as ciências do homem? Com Donald Trump, a América não se encontra em um beco sem saída; já o Brasil parece se encontrar em um beco sem saída diante das eleições 2018.

Se o gravíssimo é o não pensar a sua época como positividade descritiva, então, a penso como prescrição, ou seja, a partir da existência do gramático. O que o Brasil precisa e exige é um gramático na cultura que a abra a clareira do saber político para o rhetor percipio da política. Desesperadamente, Fernando Henrique Cardoso aposta em um apresentador da TV Globo, rechaçado, pela sua própria emissora, como seu candidato à presidente do regime 1988.

Já pensei o fim do significante Brasil 1988. A cultura brasileira não quis saber disso. Ela considerou mais radicalmente niilista do que o seu niilismo pragmático como técnica de dominação ou sujeição das massas grau zero gramaticalizadas pelo Evangelho Segundo o Sargento Paulo. A cultura da sociedade do espetáculo de massa (a anticultura segundo Eco) parece não saber sabendo que a minha radicalização do niilismo mass-media é um caminho para pensar o gravíssimo estado de sítio no qual o capitalismo criminoso mantém o país.

Na universidade pública, a burocracia acadêmica é uma força anônima que virou as costas para o estado gravíssimo do país? Não sei! Mas só desenvolvi o hipertexto virtual na internet Sargento Paulo depois que me aposentei. Até hoje não obtive visibilidade nas ciências do homem feitas no Brasil. Sei também que a cultura da USP foi desconstruída no movimento estratégico sargento Paulo.

Hoje, só pessoas desgramaticalizadas completamente ainda ouvem as opiniões delirantes dos “intelectuais” paulistas da USP e amigos. Delirante, pois, não fazem laço gramatical com a realidade dos fatos de nossa época. Eles continuam a habitar os programas de televisão e as editorias dos jornais carioca e paulista. Habitam como corpo sem alma intelectual, pois, o saber deles é como o saber dos zumbis dos filmes americanos: saber de canibalização dos verdadeiros corpos de saber.

O que não consigo pensar sobre a situação política brasileira? A época não se define somente pelo pensar dela como teoria; ela precisa da prática política para acontecer; consigo ver que não existe prática política séria para subtrair o país da época do neoliberalismo oligárquico do globalismo do Banco. A prática política é uma prática social (dominação, lutas, choques, conflitos abertos) em junção com o institucional (a norma como direito articulando a Ordem Constitucional aberta) que se inventa no não-discursivo, no não-pensado sobredeterminado pela prática discursiva tout court.

Por que não surgiu um candidato carismático reflexivo capaz de tornar nulo o niilismo da política da cultura de massa? Porque a dominação do jornalista na cultura em si é um fato inquestionável. Porque a dominação da oligarquia política criminosa em extensão (classe política ampliada antinação, em extensão, pois, abarca a sociedade do espetáculo de massa) é a devastação ou desertificação da política nacional.

Donald Trump é a prática não-discursiva da nação capitalista americana a qualquer custo para a Terra. A prática não-discursiva da China é dita pelo PCC como a dominação do planeta pela nação chinesa comunista que fez a sintetização do capitalismo industrial moderno ocidental com o socialismo asiático.

A situação do Brasil não é universal e nem excepcional; torna-se, com a solução niilista da cultura de massa da política (que tem como atores os grandes partidos como PMDB, PT, PSDB e os partidos satélites) uma situação insignificante no sentido de Hegel do livro Filosofia da história.

Tornar-se insignificante significa rumar ladeira abaixo para encontrar seu lugar no terceiro-mundo neocolonial africano da África profunda. Não se deveria falar em afro-brasileiro, e sim em brasileiro-africano. A ordem das palavras altera o sentido do significante africano. A África profunda deveria se mirar nos países do capitalismo subdesenvolvido, pois, é improvável dar um salto direto para o capitalismo moderno do primeiro-mundo. Mas primeiro é preciso desejar e transformar o desejo em práticas econômica e política.

A China saiu do terceiro-mundo maoísta não colonial para o subdesenvolvimento capitalista e agora caminha para se transformar em um país oriental (que ao sintetizar o ocidente capitalista) capitalista do primeiro-mundo. Na China, a oligarquia política criminosa não chegou a se constituir em uma classe dirigente da espécie teoria das elites.

O Brasil tem quase um ano para se reinventar como uma nação do século XXI. Então, o caminho do diálogo e luta de ideais e ideias (e do pensar a nossa própria época específica) no processo eleitoral procedural e prescritivo público precisa se constituir como clareira do gramático.

Não consigo pensar o que acontecerá com o país se ele evoluir naturalmente articulado pela cultura do espetáculo político de massa.                        

  


       
      


      




           

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