quarta-feira, 4 de abril de 2018

TEXTOS SELETOS


José Paulo


A FALSA CRISE DA ESQUERDA TEÓRICA

Há um debate no Sudeste sobre a crise da esquerda como efeito da derrocada final do bolivariano na América Latina. No Brasil, fala-se da desintegração do lulismo, pois, Lula está prestes a ser encarcerado. Sem Lula, o PT fica reduzido a um partido médio com grandes chances de se tornar um partido nanico nas eleições 2018.

Como PCdoB, PSOL, PCO, PSTU não possuem expressão prática na política brasileira, é fácil aceitar a crise prática da esquerda brasileira. Além da crise prática estes partidos (incluindo o PT) vivem um colapso teórico, pois, nada praticam do marxismo. Tais partidos não sabem manejar o marxismo do século XX russo ou asiático (ao qual eles naturalmente são filiados) e desconhecem (ou fingem desconhecer) a rica e deslumbrante herança marxista brasileira e latino-americana.

Ao contrário do que a sociologia rural do PSOL prega, não há crise teórica do marxismo brasileiro. O Rio é a sede do desenvolvimento de uma ciência da história marxista gramatical que faz pendant com as filosofias marxistas de Zizek e Alain Badiou. Marxismo só há: o de Marx e Engels. Os outros marxismos precisam de complemento como por exemplo marxismo-leninismo, marxismo maoísta, marxismo ocidental etc. O marxismo carioca é marxismo gramatical ocidental.

O marxismo ocidental gramatical age na internet (blog josé paulo bandeira e Facebook- Internacional Marxista gramatical) e tem vários livros recentes publicados na editora digital amazonan. O ensaio sobre o capitalismo profundo mundial (“Gramatologia do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo”) lança a discussão sobre a história brasileira (e a nossa política) para um outro patamar. Muitas ideias do marxismo gramatical estão sendo usadas como se fossem fatos pela esquerda partidária-universitária. Esta esquerda não cita o marxismo gramatical, não nomeia o marxismo gramatical como a única fonte intelectual de produção de ideias originais no país do lado esquerdo.

A produção universitária, o jornalismo dominante e os intelectuais em geral (os paulistas dominam a cena) fazem de conta que o Rio não é a sede da vanguarda intelectual brasileira. Há ressentimento, logo, niilismo cultural agindo nesta experiência de não tomar o marxismo gramatical ocidental como o gramático da cultura nacional em um país sem nação.  

Então, há uma crise prática da esquerda brasileira em um desenvolvimento desigual e associado com o desenvolvimento teórico do marxismo carioca. Ao contrário do que diz a esquerda partidária, não há crise teórica da esquerda, não há crise do marxismo das Américas.    
     
  
  “CENAS DO CRIME” 

À desorganização da cultura carioca nos últimos tempos podemos atribuir a passagem em brancas nuvens (para o grande público letrado) de um livro como “Cena do crime”, do professor de literatura da PUC, Karl Erik Schollhammer, de 2013.

O livro é uma obra erudita em marxismo sobre a estética do trauma e a cultura experiência do choque que define a própria modernidade – o choque perceptivo da mudança, da velocidade, da desagregação e da alienação. A estética do trauma aparece como uma arte e uma literatura que radicalizam a estética do choque e que, ao ativar o poder estético negativo, procuram romper a anestesia cultural da realidade da sociedade do espetáculo de massa, anunciando um choque do real, que já não pode ser integrado ou absorvido na percepção do homem comum do próprio espetáculo de massa.

Um passo adiante da estética em tela parece ser a estética forense da artista plástica mineira Rosângela Rennó na obra “Apagamentos”; e também a estética neocolonial do terceiro-mundo na obra de Artur Barrio “Trouxas ensanguentadas”. Com Barrio, a repressão violenta criminosa da ditadura militar adquiriu realidade material metafórica com as indicações dos pedaços de cadáveres desovados em inúmeros lugares. O discurso estético de Barrio põe e repõe o Brasil no caminho da realidade neocolonial da África profunda!   

O passo a frente dado por Rennó e Barrio se deve não mais a associação da estética com o capitalismo tardio de Habermas, ou a modernidade industrializada de um Benjamin. Ambos artistas já falam de um acontecimento (que eles antecipam em uma profecia estética) que só se revelaria por completo na segunda década do século XXI.

Barrio se filia a estética primitiva do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo presentes na literatura de um Graciliano Ramos e no filme “Deus e o Diabo na terra do sol”, de Glauber Rocha. Só que Barrio trata diretamente da violência santificada no cadáver como corpo despedaçado, em uma cena de crime a céu aberto, pela realidade do capitalismo mundial supracitado.

A estética forense de Rennó põe e dispõe sobre a relação entre imagem fotográfica, cena do crime da ciência forense, o real, a representação impossível da realidade morta e a história como estética da pós-história: “a fixação fotográfica do cotidiano oferece um fundo flagrante para a violência e o crime que aqui teve lugar”.

A estética forense se apropria criminalmente da ciência forense ao revelar o sigilo jurídico-policial dos arquivos e da arqueologia forenses. A quebra da percepção de mundo do legista remete aquele que olha a obra de Rennó para um platô que associa a ciência do legista na cultura da sociedade do espetáculo de massa com o desenvolvimento mundial do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo.

Na história da estética, o Brasil viu a evolução das artes plásticas (e a fotografia da arte) como um posto de observação das cenas de crime incompletas do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo. Hoje, o capitalismo em tela alcançou sua forma completa como a realidade mais pungente e vontade de potência dominante nas cenas de crime estéticas espalhadas inclusive no capitalismo desenvolvido do primeiro-mundo ocidental.

Talvez seja a hora de uma interpretação das artes plásticas desterritorializada do contexto empírico no qual elas foram geradas e reterritorializada na atualidade da presença presente do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo.

O ASSASSINATO COMO MÉTODO POLÍTICO

O assassinato de uma vereadora carioca da esquerda revela a profunda realidade primitiva do capitalismo atual?

A esquerda intelectual orgânica continua sua luta contra os estados de violência do homem que é um efeito intenso da espécie de capitalismo existente na América Latina. Tal capitalismo faz regressar a máquina despótica asiática (relação senhor-servoescravo político) que sustenta toda a violência contra a mulher.

Por um lado, estamos diante de máquinas de guerra militares no lugar do senhor; por outro lado, temos o escravo político como povo da favela se expandido como povo da cidade.

A máquina de guerra despótica quer impor sua ORDEM DESPÓTICA no morro e no asfalto, pois, agora ela faz suas operações militares no asfalto, na cidade. Ela selecionou sacrificar uma mulher negra, favelada, gay, com diplomas universitários e produção intelectual como um caso exemplar de instauração da ordem despótica do capitalismo profundamente primitivo neocolonial do terceiro-mundo.    

O assassinato da vereadora é uma operação de subtração típico de uma máquina asiática despótica. As massas reagiram no Rio e em São Paulo e fora do Brasil porque sabem que o capitalismo está reterritorializando os código e fluxos de uma ordem despótica asiática como capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

As lutas das massas de classe média contra a máquina despótica asiática podem se constituir em fluxo que abale a aliança do Estado real com a ordem despótica asiática? Há um certo ceticismo realista da sociedade civil progressista quanto isto. AS redes sociais funcionaram como máquina desejante despótica ao enxovalhar a imagem da vereadora e subtrair a importância do assassinato político como método de luta da direita canibal contra a esquerda ilustrada.

A morte de Marielle pode significar a militarização do campo de lutas entre direita e esquerda, pois, as redes sociais legitimaram o método do assassinato político como parte das lutas esquerda/direita. Podemos assistir um confronto entre a máquina despótica do capitalismo neocolonial (e suas massas da direita brasileira) e as massas progressistas de classe média aliadas às massas das favelas?    

DO NOSSO ESTADO REALMENTE EXISTENTE

O México é o país que tem a forma mais completa do Estado na América Latina? Não se trata de um Estado-nação; o aparelho repressivo é entrelaçado como o crime de fio a pavio; não há mais a divisão clara entre Estado legal e Estado real; o crime tomou conta dos de cima e dos de baixo. A grande cidade é um valhacouto da bandidagem privada e pública. A política se transformou em uma forma expressiva das relações de produção e formas produtivas do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo criminal.

O que está em cima é igual ao que está em baixo. Os lados do polígono da política não se sustentam mais como esquerda/direita, liberalismo/socialdemocracia, fascismo/socialismo. A ideologia política que era um véu diáfano que permitia aos sujeitos políticos falarem da política se rasgou.

Na economia, a economia política legal privada e pública encontra-se misturada com a economia lumpesinal criminal. O Estado detém o monopólio da fabricação e venda de munição. Só as forças armadas e policiais podem comprar tal munição. O Fim da separação entre Estado legal e Estado real significa que as forças militares e policiais fazem parte de um mercado de munição para os cartéis de drogas e outras organizações criminais. Não se trata de desvio de munição! Rigorosamente, o México só é um país geograficamente, pois, suas fronteiras ainda não foram invadidas por outros países.

O comércio estatal de munição faz da política representativa oficial mexicana uma farsa mantida pela minoria branca que domina o país. No México, a corrupção dos agentes estatais tornou-se uma segunda natureza da cultura política deste país. Organizações criminosas oligárquicas dominam territórios inteiros autônomos em relação ao poder central. Tais oligarquias tem suas frações criminosas dos de baixo que funcionam como poder policial de controle da população. O Kriminostat não é um conceito sociológico acadêmico, é a própria realidade dos fatos mexicanos.

Se o México é a forma mais completa de Estado latino-americano, isto significa que os outros Estados latino-americanos caminham na direção do desenvolvimento de um Estado mexicano? No México, a televisão e o jornalismo em geral são um efeito dos estados de violência do capitalismo profundamente primitivo neocolonial. Eles usam uma linguagem que não oculta mais a situação neocolonial do país. O mexicano perdeu a inocência, a ingenuidade e a esperança de um retorno aos tempos que o país não era dominado pelo capitalismo neocolonial.


O ATO DE COLHER O OBJETO POLÍTICO COM AS MÃOS

Zeus envia Mercúrio para dar uma inteligência política ao seu inimigo, o homem, a fim de que este não pereça desamparado da Providência (=Prometeu acorrentado tendo seu fígado comido por abutres). O começo do saber é a ação cognitiva como o ato de colher um objeto com as mãos como faz o detetive ao recolher os cartuchos de bala na cena do crime.

A inteligência política é o ato de colher o objeto político com as mãos. A elite política brasileira entende a inteligência como ato de recolher para si com as mãos o objeto político (=dinheiro público). Aí é o fim da nação!  

Tal inteligência política está se tornando o paradigma da inteligência política ocidental e mundial? Ela definiu a inteligência política colonial dos séculos coloniais na aurora da época moderna. Ela possuía uma forma de Estado (Estado patrimonialista), o Estado privado da casa real do império português ultramarino. Neste, a inteligência política é o ato de saber do rei ao colher com as mãos o objeto político riqueza imperial ultramarina.

A burocracia moderna já é uma abstração ou desterritorialização da espécie de inteligência real. O que significa o ato de colher com as mãos o objeto político pela inteligência burocrática moderna. É ao ato do racionalismo instrumental que faz igual a inteligência privada capitalista e pública estatal condensadas no aparelho econômico privado (capitalista) ou no aparelho político-burocracia-pública (do Estado-nação).

Ao domínio da ordem patrimonialista sucede o domínio da ordem capitalista. Nesta, o saber é o ato de colher com as mãos a riqueza das nações. Lacan define o rico como aquele que não quer pagar nada à Nação. Trata-se do trans-sujeito capitalista. Porém, a realidade capitalista é um processo objetivo de produção de mais-valia ou excedente. O excedente é o objeto recolhido pelas mãos do capitalista e da sociedade como Estado-nação. Há este antagonismo (confronto aberto ou oculto) pela disputa do colhimento do excedente entre o privado capitalista e o público estatal.

Há uma gramática em narrativa lógica na realidade capitalista que significa a redução do Estado-nação ao Estado mínimo no recolhimento com as mãos do excedente. Contradições clamorosas e fatais surgem nesta narrativa supracitada. Por exemplo: quem ou o quê (qual aparelho repressivo) vai garantir a segurança pública e privada do rico? O rico pagar privadamente pela segurança do rico não sai mais caro, e ineficiente, do que a segurança pública do rico?  

O rico tinha chegado à conclusão de desacorrentar Prometeu, colhendo com as próprias mãos um objeto político: o Estado Providência. Trata-se de uma inteligência política avançada que se afasta da inteligência primitiva do rico capitalista na aurora do capitalismo moderno. No século XXI, há um regresso à inteligência primitiva do rico capitalista original do início do século XIX.

Fazendo pendant com esta inteligência primitiva, uma nova era deslumbrante, sem ética capitalista weberiana, de acumulação primitiva de capital se define por não concentrar capital nas nações. Isto se chama a desterritorialização capitalista primitiva da nação. A ação cognitiva como o ato de colher um objeto com as mãos do rico se desfaz da inteligência burocrática (abrindo mãos do saber universitário civilizador) e busca se definir como ato cognitivo de colher o objeto da política com a mão do rico capitalista no lugar do Rei patrimonialista!   

 DA NOVA DIREITA 

O crime que sacrificou a vereadora negra do PSOL e seu motorista Anderson é um CRIME POLITICO? Nas redes sociais, uma certa direita fez propaganda de que se tratava de um crime comum envolvendo lutas de facções criminosas do tráfico, milícia, polícia. Trata-se de uma cortina de fumaça!

A polícia do Rio está confusa, pois, tem a cena do crime, o cadáver, mas não tem o motivo! A polícia não sabe investigar crime político, pois, o motivo do crime é muito complexo e extrapola a cena do crime, em parte.

Então resta trabalhar com hipótese científica da ciência da história.

O crime político Rio 2018 é um fato histórico. Ele produz um efeito cristalino na política em ano eleitoral. O efeito é o surgimento da NOVA DIREITA!

A Nova Direita surge como organização criminosa paramilitar (mais complexa do que a organização paramilitar da Colômbia da era Pablo Escobar até hoje) com redes criminosas civis na internet (redes sociais digitais).

O crime corporal físico foi cometido no asfalto de um bairro do Rio parece que sob domínio do Comando Vermelho. Trata-se, portanto, de uma verdadeira ousadia! No entanto, há a continuação do crime físico por outros meios, meios culturais (que assassinam o corpo da alma) quando uma desembargadora, um deputado federal civil, um delegado de polícia do Recife e Marcos Feliciano (pastor-deputado federal) fazem publicidade nas redes sociais do crime contra a esquerda como método político.

Para completar esta tela gramatical em narrativa lógica, o candidato real Jair Bolsonaro (primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos) manteve um silêncio sepulcral sobre o assassinato político. Na política, quem cala, aprova!

A eclosão da NOVA DIREITA significa uma inflexão na política em geral e na política eleitoral, em particular, pois, ela faz do assassinato um método político de subtração de intelectuais da esquerda, começando com os intelectuais orgânicos. Para completar este quadro macabro, a esquerda prática e teórica faz de conta que se trata de uma tempestade no deserto australiano e usa a tática canguru: enfia a cabeça debaixo da terra política, esperando passar a tempestade. 

Talvez, a tempestade australiana passe e não retorne, pois, ela não obteve o efeito que pretendia. Ela teve a pretensão de unificar toda a direita e o centro-direita com a palavra de ordem de que a esquerda está se autodestruindo por se encontrar envolvida nas lutas das facções criminosas e outras organizações criminosas. Neste final de março, a Nova Direita foi derrotada na internet graças à intervenção da grande mídia (papel, audiovisual, rádio) no acontecimento.

Agora, fica a expectativa de que a imaginação galopante ferrabrás da Nova Direita planeje um novo evento eleitoral!  

SOPHIA E ANJOS 

Uma ideia da antiguidade é aquela que diz que a “sabedoria” (Sophia) buscou morada entre os homens e não encontrando foi habitar com os anjos.

O uso capitalista do saber associa a Sophia a uma mercadoria, associa a sabedoria à ideia de interesse econômico. Tal ideia capitalista dá sentido à busca da sabedoria na idade moderna (como razão instrumental) em um contraponto a atividade angelical de Sophia.
Como professor público lecionei uma atividade de conhecimento e ganhava um provento para isso. Como nunca associei a busca do saber universitário ao meu interesse econômico, vivo com uma aposentadoria que é a metade da aposentadoria que a carreira universitária podia me proporcionar.

Hoje, a oligarquia quer substituir o trabalho assalariado universitário por trabalho voluntário não-pago. Trata-se de um modo tacanho oligárquico do extremo-Norte de ver a atividade universitária como Sophia angelical vulgar.

Dominando o Congresso de Brasília, tal Sophia angelical oligárquica caipira é, de fato, um efeito primitivo na mentalidade oligárquica do desenvolvimento - no terreno da cultura - do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Agora, tudo que é primitivo (primitivo, selvagem, bárbaro, civilizado) se refere a oligarquia neocolonial que vai tomando conta do país. Ontem, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu se tornar uma oligarquia por antecipar uma decisão que retira da cadeia todos os políticos e ricos corruptos condenados em Segunda-Instância.

O STF assim agiu para tornar Lula o candidato que vai para o Segundo-Turno com o antigo capitão do exército Bolsonaro militante direitista da era da Ditadura Militar 1968.  Bolsonaro é o agente político de uma mentalidade militar que define política como continuação da guerra por meios políticos que pode abraçar o terrorismo político de Estado ou paramilitar. A concupiscência política (ambição pelo objeto político como luxúria) de Bolsonaro e dos bolsonaristas (redes sociais digitais e famílias) faz pendant com o uso da violência política no processo eleitoral.

Curiosamente, os loucos batalhões bolsonaristas se veem como fruto de uma política angelical contra o dragão da maldade que trouxe o caos ao país. Bolsonaro é um primitivo cristão, mas não é um cristão primitivo!

Com Lula no páreo, a luta eleitoral 2018 ganhará contornos do “Apocalipse Segundo São João”?

MARCAS GRAVADAS SOBRE AS COISAS 

A invenção da incultura audiovisual dá um passo à frente da cultura linguística do rádio. O rádio ainda trabalhava com a palavra como meio de ação, como vínculo unificador dos entes sociais, e rede coesiva da sociedade do homem, mulher e criança. Ao menos no Brasil, a cultura do rádio não quebrou a cultura linguística oral popular que fazia poetas (como Cartola) no domínio da música popular, sem escolaridade. A cultura do rádio é organizada por uma gramática norma culta popular e o rádio chegou a se constituir como um gramático da física e metafísica da ação da cultura linguística da ação física e metafísica.

O audiovisual tornou-se hegemônico na sociedade de comunicação na segunda metade do século XX. É uma invenção desenvolvida nos Estados Unidos e metabolizada por uma infinidade de países. Segue-se aí o fim da hegemonia da cultura linguística. Os signos da língua deixam de articular as práticas na cultura de massa e na política. A imagem eletrônica assume o lugar da palavra. Esta é abandonada como unidade de investigação das ciências da língua ou da linguagem. O caos se instala no uso da língua e a palavra perde sua força de direito ou efeito de realidade. Diz o ministro Barroso do STF: “as palavras perderam o sentido, entre nós”.

O audiovisual é uma “linguagem” produzida segundo as leis da natureza da máquina de produção de imagens eletrônicas. As “palavras” do audiovisual não se produzem conforme o desejo (libido) do homem e que serviriam como etiqueta significativa dos seres. Não são, portanto, um meio de comunicação para vincular as pessoas entre si. De fato, as “palavras” do audiovisual “são marcas gravadas sobre as coisas”.

Tomando a violência como carro-chefe do audiovisual, as imagens da violência se constituem como marcas gravadas sobre as coisas, especialmente a cena do crime e o cadáver desta cena. Neste andar da carruagem, a violência é a coisa gravada como audiovisual. Tal fato significa o colapso da cultura linguística no século XXI?

A esfera da comunicação digital é uma retomada da cultura linguística por outros meios. No entanto, nesta esfera, o uso da língua culta convive com um uso da “palavra” digital que não obedece às leis da cultura linguística, às regras da gramática. Ao contrário do rádio de antigamente, o digital não se constitui como um gramático. Talvez, aí esteja a causa de o digital não assumir o lugar de demiurgo (rhetor percipio) da cultura linguística.

Como o digital é a incultura da juventude, esta continua a ser alfabetizada no aparelho escolar em termos de cultura linguística. Mas um certo caos está instalado na reprodução da cultura linguística. Por um lado, a cultura linguística durava milênios. Por outro, não é certo que o homem primitivo fosse incapaz de abstração. Mas ele desconhecia a abstração lógica, filológica e gramatical.

A incultura linguística do audiovisual e da esfera dominante do digital não significa uma regressão do homem, mulher e criança do século XXI ao estado linguístico do primitivo? Pode haver luta contra tal estado de homem primitivo?

A luta só pode se realizar na família (enquanto ela não é uma família do jovem gravado como coisa = jovem-milênio), na instituição escolar e nas instituições culturais linguísticas como a universidade, museus etc. Tal luta depende da organização consistentemente linguística de uma burocracia patriótica que tenha amor à cultura linguística nacional.

Nos EUA, há uma certa impressão de que tal luta cultural linguística sofreu uma derrota sem precedente. A América é o lugar onde o audiovisual faz pendant com o digital na articulação da dominação que se estende da sociedade civil ao mundo-da-vida alcançando o Estado federal tentando se reerguer como tal como poder imperial do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo, profundamente primitivo.  

No século XXI, cada povo está sujeito a fazer sua própria luta para não desaparecer como cultura linguística! 

LÍNGUA E IMPERIALISMO

Talvez, a relação política entre línguas tenha ficado mais claro com o imperialismo linguístico romano. A colonização romana dos outros povos incluía a substituição compulsória das línguas vernáculas pelo latim. Roma deixava aos povos uma certa autonomia política no domínio dos costumes políticos, mas obrigava a elite a falar e escrever em latim. O imperialismo é antes de tudo o estabelecimento de um Império linguístico político em latim na antiguidade.

Se Roma é um fenômeno linguístico cultural político tout court, o imperialismo da modernidade começa como um fenômeno de cultura linguística econômica. Por que é tão natural o inglês ser a língua cosmopolita do planeta? Porque trata-se de um fenômeno cultural político econômico que cria redes de comunicação econômica em inglês entre entes de diferentes povos. O imperialismo moderno é econômico antes de se transformar em um imperialismo político-militar.

No imperialismo econômico, a América tomou o lugar do Império britânico. Usando a cultura linguística do inglês industrial, os Estados Unidos continuam como a nação imperialista linguística imitada por uma China capital-socialista (que tem a vontade de se tornar um império econômico) que se comunica com o planeta em inglês.

Será que a China se tornará a Roma imperialista do século XXI? Será que ela após dominar a economia internacional das coisas irá impor o mandarim (economia política cultural linguística dos signos) como veículo de comunicação econômico entre os países satélites do imperialismo chinês?

Como não ver sentido político nas estranhas decisões de Donald Trump sobre o comércio dos Estados Unidos com as outras nações, especialmente com a China?

A história mundial atual é uma luta de imperialismos econômicos (um estabelecido, o outro se estabelecendo progressiva e aceleradamente) na era do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo. Nesta era, a cultura linguística passa necessariamente pelo audiovisual e pela linguagem digital.

O imperialismo do século XXI é uma combinação de imperialismo linguístico fazendo pendant com o audiovisual e digital do capitalismo dominante na terra, ou seja, o capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. A China tem boas chances de reinar com o imperialismo do capitalismo se
Este futuro do presente chegará nos próximos dez anos?     

FILOSOFIA POLÍTICA E AS MENINAS

A filosofia política é a filosofia que fala da política. Ela faz pendant com o direito no sentido do que o que se diz, se faz. No direito, o poder judiciário faz o que diz que vai fazer. E na política? Na era moderna da divisão do Estado em três poderes, o poder legislativo diz o que deve ser feito pelo poder executivo. No legislativo, a verdade é algo dito; mas as palavras precisam vir confirmadas pelos fatos do dizer pelo poder executivo.

De qualquer maneira, o dito precisa se transformar em fato. Isto lembra a conclusão litúrgica das orações, que termina com amém. Ao dizer amém se manifesta o querer de que o dito se transforme em fato. Falo aqui de práticas (ajoelhou tem que rezar) milenares.

Há fidelidade porque as palavras vêm confirmadas pelos fatos do que se diz. Então, fé no que se diz, fiel ao que se diz, fé no dito, eis as formas de um gramático milenar da filosofia política (e do direito). A essência da crise da política e do direito encontra-se na dissolvência do gramático em tela.

Se a política (e o direito) se articulam pelo interesse econômico, há a transformação do gramático supracitado em aparência de semblância. Pode ser esta em forma ideológica, mas não necessariamente. A ideologia oculta a fidelidade do dizer; a semblância cria uma superfície de aparências de que o dizer é fiel aos fatos.

Falando em fatos, a política atual pode ser fiel aos interesses capitalistas e o dito senatorial se transforma em fato capitalista. Um movimento de milhões de jovens americanos luta contra o sistema capitalista industrial de produção de mercadorias de armas de fogo. Tal sujeito gramatical (jovem americano) surge pela passagem dos escolares pelos estados de violência do homem americano ligado ao capitalismo militar. Os escolares são assassinados nas escolas por outros escolares que tem o porte de armas de fogo de guerra.

Os jovens escolares sobrevivente querem que o dito do movimento de massas contra a posse de armas por escolares se transforme em lei. Esta é a filosofia política do movimento escolar supracitado. Tal filosofia política se choca com o coração produtivo técnico e desejante do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

A indústria de armas de fogo mundial é a vanguarda do capitalismo profundamente primitivo neocolonial do terceiro-mundo. Ela trabalha com a vontade de matar do homem. Até agora nenhuma menina escolar providenciou assassinatos em série na escola americana. Tal fato passa despercebido pela mídia e a cultura em geral. Curiosamente, as meninas tomaram o comando do movimento de massas escolar contra o assassinato em medida serial.

O movimento de massas escolar encontra-se no centro tático do choque do sujeito gramatical (saídos da passagem pelos estados de violência) com o capitalismo mundial. Trata-se do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo que faz pendant com a dominação do planeta pelo Banco, pelo capital fictício mundial.

Depois da luta da mulher contra o uso capitalista de seu corpo sedutor, surge a luta do jovem escolar contra a destruição de seu corpo e alma pelo capitalismo militar neocolonial do terceiro-mundo. 

CRISE BRASILEIRA – COLAPSO DO PODER CIVIL

A crise brasileira passou por vários estágios até alcançar a substituição da democracia liberal por uma espécie de democracia representativa lumpesinal, versão avançada da democracia oligárquica. Na Grécia antiga, Aristóteles reservava o significante democracia para a democracia direta lumpesinal. Nesta democracia, o interesse econômico das massas determinava toda a política; os ricos sofriam uma expropriação de sua riqueza sem esboçar reação. Tratava-se do colapso do poder democrático da politeia.

A crise brasileira da democracia liberal se deve aos interesses econômicos da elite do poder determinar toda a política até 17 de março de 2014. Esta é a data da criação da Lava Jato. Trata-se da atividade jurídico-policial (com centro judicial federal em Curitiba) que passou a lutar contra a democracia representativa lumpesinal.

A Lava-Jato combate na esfera do domínio do antagonismo entre o poder civil e o campo de poder lumpesinal. Este é a corrupção do poder civil e, portanto, da democracia liberal.

O Rio de Janeiro se tornou o elo mais fraco territorial da corrupção do poder civil e da democracia liberal. O governador do Rio Sérgio Cabral e o PMDB fluminense (agora MDB negro para diferenciar do MDB original do bem comum político das lutas contra o Estado militar 1968) desenvolveram a prática da corrupção do poder civil, que acabou na aplicação do Capítulo VI (Da Intervenção), Artigo 34 da Constituição 1988 ao estado do Rio. O governo federal do PMDB escolheu como Interventor uma dúzia de generais do Comando Militar do Leste.

A Intervenção não se tornou um governo militar deixando o estado do Rio (e principalmente a capital carioca) sem governo civil, logo, sem governo algum formalmente e na prática da política territorial. Para o carioca, o colapso do poder civil é uma realidade palpavelmente carnal e cruel.

Hoje, o poder civil se apresenta como poder da política judicial que encarcerou centenas de indivíduos ricos, políticos poderosos e altos funcionários estatais envolvidos em diversos crimes, não só crime de corrupção. Este poder civil faz regressar do limbo da pós-modernidade a categoria de legitimidade. Como? Ele estabeleceu uma relação de legitimidade entre o poder do Estado e as massas. Assim, trata-se de um poder que se defini como aquele que surge a partir da relação dos cidadãos debaixo (poder da sociedade civil) com o poder da burocracia patriótica estatal.

A instituição jurídica-policial da prisão em Segunda Instância é a alavanca do poder civil brasileiro 17/março/2014. Tal instituição foi estabelecida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2016. Hoje, a oligarquia política criminal usa a indelével candidatura de Lula (condenado em Segunda-Instância) para fazer uma pressão colossal com o objetivo de alterar o estado jurídico do poder civil brasileiro 17-março. A oligarquia criminosa quer acabar com a prisão em Segunda-Instância lançando para as calendas gregas (condenação em Quarta-Instância) a prisão de mais de uma centena de políticos julgados no STF. Seria uma fuga legal em massa dos encarcerados em Segunda-Instância.

Trata-se da vitória da oligarquia política criminal (e seus aliados ricos criminosos) sobre a Lava Jato. Vitória da democracia representativa lumpesinal sobre a democracia liberal 1988. E por via lógica a dissolução do gramático poder civil.

A oligarquia política em extensão (participação do jornalismo e outras instituições da sociedade de comunicação) já faz propaganda da solução do poder militar no lugar do colapsado poder civil. Ela crê que um Estado militar (nos moldes da ditadura militar apoiada na oligarquia senatorial de 1964) pode se repetir na terceira década dos anos 2000.          

A gramática do STF decide no início de abril sobre o fim do poder civil 17-março. É um pequeno passo frugal, frutuoso, para os juízes e um passo ciclópico para a crise brasileira.



VIOLÊNCIA, NATUREZA E SOCIEDADE

A violência real é a protagonista da programação da televisão, jornal de papel, rádio e universidade, enfim, da cultura de massa (incultura) e da cultura acadêmica com sua abordagem da política brasileira. Nesta, o governo Temer se define como violência política contra o bolivariano petista.
No entanto, há discussão sobre a causa da violência criminal dos de cima e dos de baixo? O cineasta Padilha diz que a violência da corrupção tem como causa o que ele chama indeterminadamente MECANISMO. Em 1966, o marxista aristocrático Caio Prado Jr associou a corrupção à existência de um fenômeno objetivo: BURGUESIA BUROCRÁTICA.

A burguesia burocrática é o laço gramatical entre o mundo privado das empresas capitalistas e o mundo público dos interesses estatais. Para C. P. Jr trata-se de um fenômeno normal suportável pelo país até que a burguesia burocrática se constitua em um SISTEMA público/privado de alto grau de violência imoral, niilista e consciência burguesa cínica do país.

Atribuir a violência burguesa da corrupção ou a violência real armada dos de baixo contra a sociedade à natureza humana do brasileiro, eis um argumento que só o militarismo em ascensão usa para reivindicar uma disciplinarização (tentada no Estado militar 1968) conservadora e reacionária do país.

Foucault com Rousseau diz que não existe a natureza criminosa, e sim a criminalização dos sujeitos. A natureza não explica a violência em geral. A sociedade é a fábrica de produção e circulação de criminalização. Então, a sociedade brasileira é o processo de produção e circulação do criminoso. Porém, o que é a sociedade brasileira que nos últimos tempos amplia geometricamente a produção do criminoso em cima e em baixo?

A conjuntura da burguesia burocrática encontra-se ultrapassada. Ninguém fala mais em Caio Prado Jr. Fala-se em MECANISMO vazio de explicação da corrupção. Quanto a violência dos de baixo não se fala da tradição sociológica que a descortinou como violência lumpesinal.

Hoje, se fala em uma gramática da violência. A comunidade jurídica se refere a uma gramática da criminalização. Trata-se da sociedade gramatical que produz a criminalização dos de cima e dos de baixo. A vontade de poder de tal gramática já transformou a democracia liberal 1988 em democracia lumpesinal representativa 2016. O governo Michel Temer e o grupo de conjuntura do MDB neocolonial são a marca destes novos tempos.

Qual é então a gramática da sociedade política 2016?

Com o MDB neocolonial, a sociedade brasileira se transmutou em sociedade neocolonial do terceiro-mundo. Hoje se discute no Congresso a privatização das águas do rio São Francisco. Também, se debate os projetos do governo Temer que vão trocar a energia elétrica do Norte por energias alternativas, como se isso fosse possível.

Então, qual o gramático no comando da gramática da sociedade neocolonial? Há um gramático a partir do qual a sociedade brasileira se determina como neocolonial? Tal sociedade brasileira não é uma plurivocidade de efeito do gramático que se define como capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.

Eis um ponto-de-partida (que não é mais rousseauniano ou de Foucault) da reflexão sobre o ser da economia política produtiva da violência dos de cima e dos de baixo.    

A SUBJETIVIDADE DA CLASSE POLÍTICA E A CONSTITUIÇÃO DO POVO

Dissolver toda a linguagem da filosofia e das ciências humanas na cultura burguesa é uma realidade do século XXI?

Trocar a cultura burguesa (moral, estética, literatura etc.) pela incultura da sociedade do espetáculo de massa é um esforço do americanismo depois da II Guerra Mundial, por volta da década de 1960. No período da democracia 1988, o Brasil, acabou por imitar o americanismo inculto do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo?  

A Constituição 1988 é a Carta virtual narcísica de produção de uma classe política da cultura jurídica do terceiro-mundo?  A classe política passa a ter um Fórum Especial para ser julgada. Trata-se do STF (Supremo Tribunal Federal). Esta prática judicial gera a gramática do narcisismo neocolonial da classe política, pois, ela está acima das outras classes (inclusive do rico). Ela é melhor que os outros.

Está acima do homem comum da cidadania (inclusive seja ele rico) gera a vontade de subjetividade como prazer de ser classe política. Ao entrar na classe política pelo procedimento eleitoral, o sujeito passa a ser educado como ator político neocolonial.  

A educação da classe política é obra de uma cultura política que habita as instituições parlamentares e governos executivos de Brasília, dos estados e dos municípios e a soberania popular neocolonial.

Trata-se de uma educação autotélica narcísica que tem como gramática o enriquecimento público da classe política. A educação se baseia na ideologia política da ascensão social para os que vem de baixo e de mais enriquecimento para os que vem de cima. A soberania popular vê, ouve e tem sentimentos de empatia com aqueles que obtém êxito via carreira política neocolonial. Por quê?

O político se elege usando a sociedade do espetáculo de massas neocolonial. Para o eleitor, ele mente, faz publicidade enganosa, se diz do lado do bem. O eleitor tem sido, durante décadas, a gramática sociológica do “me engana que eu gosto”. Porém, a passagem da esquerda neocolonial pelo poder de Brasília parece ter alterada tal gramática.

A corrupção foi identificada com a esquerda neocolonial no poder “nacional”. As aspas significam que a esquerda no poder federal diluiu a cultura política nacional civil. Então, a ideia de nação se fixou nas Forças Armadas. Hoje, 47% da população quer um Estado militar. Quer um estado de militarização do país. Trata-se de uma opção conservadora que significa o desiderato ao poder policial-militar com toda a aplicação de violência real possível.

A subjetividade (ou trans-sujeito) da classe política neocolonial é a força dissolvente do que resta da democracia liberal 1988. Como já apontamos, a Constituição 1988 é um conglomerado de contradições virtuais que ao se atualizar desintegra parte por parte a democracia liberal. Trata-se de um Constituição do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. A Carta virtual antecipa o real.

Hoje, a defesa da democracia liberal é realizada por parte do poder judiciário que propõe (com sua prática judicial Lava Jato) a mudança da Constituição 1988 da classe política por uma Constituição de todo o povo. Para isto, o Congresso teria que acabar como Fórum Privilegiado para os políticos em geral.

O STF rema na defesa da Constituição da classe política neocolonial, na defesa do Fórum Privilegiado. O ministro Toffoli é o herói da classe política no STF. Outros juízes do STF defendem incondicionalmente (ou por ingenuidade ou por astúcia) a Constituição 1988 da classe política em tela. Trata-se do STF neocolonial?

A Constituição pode ser reformada para se tornar uma Constituição do povo. No momento, o STF neocolonial é o maior obstáculo a tal evento.  

DO ESTADO CRIMINOSO BRASILEIRO 

Dois episódios da história republicana mostram uma face criminosa do Estado brasileiro: Canudos e Contestados.

Uma versão metabolizada da Guerra de Canudos: latifundiários da região, unindo-se à Igreja católica mobilizaram o imaginário político republicano vulgar atacando Canudos como uma ameaça contra o poder local e o poder republicano no Nordeste. Na capital da república, o jornalismo fez uma campanha florianista de um povoado fortemente armado monarquista que se rebelara contra a recém-criada República. 

Canudos foi atacada pelo Exército brasileiro que após várias derrotas acabou destruindo o povoado do Bom Jesus. A guerra terminou com a destruição total de Canudos, a degola de muitos prisioneiros de guerra, e o incêndio de todas as casas do arraial. Um Estado militar assassino bárbaro assassinou quase vinte mil sertanejos e perdeu cinco mil soldados.

 A Guerra do Contestado foi uma guerra civil camponesa em luta contra os representantes dos poderes estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira, disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina. 

 A fronteira entre os estados do Paraná e Santa Catarina recebeu o nome de Contestado por ter os camponeses contestado a doação que o governo brasileiro fez aos grandes capitalistas madeireiros e à Southern Brazil Lumber & Colonization Company. Como região deflagrada ficou conhecida como Contestado, pois, havia disputas de limites entre os dois estados brasileiros.

A guerra civil do Contestado pôs de um lado o Estado brasileiro e de outro o povo rural. O Estado “nacional” republicano urbano voltou suas armas contra os camponeses em uma luta que fez do Estado um Estado fático, um Estado sem lei. Trata-se da versão republicana criminosa do Estado brasileiro.

O Estado fático criminoso agiu durante a democracia getulista na década de 1930. A perseguição ao jornalista Carlos Lacerda na democracia getulista da década de 1950 acabou em um atentado ao jornalista que desencadeou a derrubada de Getúlio e seu suicídio. A face do Estado criminoso republicano tomou o poder em 1964. A ditadura militar é a continuação do Estado republicano criminoso que destruiu Canudos e o Contestado.

Com o regime de democracia liberal 1988, o jornalismo e seus companheiros intelectuais universitários criaram a ideologia política que ocultava a face criminosa do Estado republicano. O fim da era petista desfez a ideologia do Estado republicano 1988 dos direitos humanos. Hoje, o Estado republicano criminoso age abertamente participando do assassinato de políticos de esquerda no Sudeste. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o Estado brasileiro criminoso usa o método do assassinato político para conter a ascensão da esquerda brasileira em um sentido amplo.

O fato que assinála a existência do Estado criminoso no Sudeste é o assassinato de uma vereadora do PSOL, no Rio, (uma emboscada feita em alta velocidade) em plena existência de uma paródia de governo do Comando Militar do Leste no estado do Rio de Janeiro. A face criminosa do Estado brasileiro se deixa entrever pela total incapacidade (ou falta de vontade policial) da polícia investigativa em descobrir os executores e os mandantes do crime. Um general encontra-se no comando da investigação policial.

O Estado criminoso brasileiro espera que o jornalismo esqueça o assassinato da vereadora Marielle e de seu motorista Anderson. Tal Estado quer fazer do jornalismo seu cúmplice no estabelecimento do método do assassinato político no Sudeste no ano eleitoral 2018.
A eleição 2018 começou com o velho Estado republicano assassinando Marielle Franco e Anderson.     

DA CONTRADIÇÃO PRINCIPAL DA POLÍTICA

Há uma luta entre a narrativa do jornalismo e a narrativa do marxismo gramatical ocidental.

Para a primeira, a contradição principal da política brasileira ocorre entre o aparelho repressivo de Estado (que quer a intervenção militar em todo o país decretada pelo governo de plantão) e a bandidagem armada que faz da vida urbana um inferno.

Para o marxismo gramatical, a contradição principal ocorre entre a DIREITA PARAMILITAR (que usa esquadrão da morte para assassinar militantes, no Sudeste inclusive, da esquerda em um sentido amplo) e a esquerda gramatical.

A contradição do jornalismo estabelece uma narrativa que oculta a existência de um Estado brasileiro que acaba por dar cobertura à ação da direita paramilitar. Nenhum militante de direita é assassinado no país, pois, o assassinato como método político passa por dentro do Estado brasileiro. Este se define por querer o monopólio ilegítimo das armas e da violência real que é usado (ativamente ou passivamente) na luta entre a direita paramilitar e a esquerda gramatical. 

O Estado brasileiro pode ser definido como um vasto conjunto de aparelhos de Estado (com contradições entre os aparelhos) que intervém nas lutas da contradição principal da política. Neste sentido, o aparelho repressivo de Estado é possuidor de uma gramática da política (racionalidade gramatical) que é o guia de seu agir. A gramática em tela age contra a possibilidade de eclosão de uma esquerda diferente do PT: esquerda da gramática neocolonial oligárquica.

Hoje, o PSOL (e o PCdoB) se tornou o alvo da direita paramilitar no elo mais fraco da política oligárquica neocolonial: o estado do Rio de Janeiro. Com o MDB neocolonial como corpo despedaçado no estado do Rio, a direita paramilitar usa armas de fogo para conter o avanço da esquerda liderada pelo PSOL e PCdoB.

A eleição para governador do Rio é o laboratório do elo mais fraco da contradição principal da política nacional. Eis o real motivo do governo do MDB neocolonial de Brasília pôr generais para governar o estado do Rio. Tal fato faz dos generais uma força política ligada (consciente ou inconscientemente) à direita paramilitar em sua guerra civil contra a esquerda gramatical.

A narrativa do jornalismo fala de um real que não é real da realidade dos fatos políticos!

GRAMÁTICO DA SOCIEDADE EM REDE

A teoria da conspiração pressupõe que há centro na política. Esta velha imagem topográfica da política remete para o imaginário político do partido bolchevique (depois Partido Comunista da URSS) na revolução russa.

A topologia do cume político ainda domina o imaginário da política neocolonial do terceiro-mundo. Toda criança de dez anos sabe que a comunicação se realiza pelo imaginário. Então, continuamos a falar de esquerda e direita como se fossem de uma topologia imaginária da linha reta.

No campo simbólico em junção com o real, a política existe em uma topologia de lados, do polígono mistilíneo. Há o lado da esquerda, o lado da direita, o lado do bonapartismo, do bolivariano, retas e curvas. Mas a política não se reduz a tal topologia poligonal, pois, a política é o gramático da sociedade em rede.

A gramática da sociedade em rede atravessa sociedade civil e sociedade política, público e privado, sociedade e Estado, dominação e hegemonia. Vejamos um exemplo.

A temporada de caça da esquerda militante antineocolonial oligárquica começou no Sudeste. Seria teoria da conspiração falar de uma direita paramilitar organizada verticalmente (a maneira leninista ou hitlerista), tendo um centro de comando. Não é assim que a coisa funciona.

A direita para militar é uma gramática da política como sociedade em rede. Trata-se de um gramático político. O que é isso?

O gramático da política funciona em redes do lado de fora em junção com o lado de dentro do Estado, sem centro político real (como as milícias fluminenses), pois, seus agentes ou são do aparelho repressivo do Estado ou já foram desse aparelho. Como parte da gramática da sociedade em rede que liga o lado de fora ao lado de dentro do Estado, os atores da milícia têm a proteção natural do aparelho repressivo de Estado.    

As milícias têm ligações com os agentes da política? A política fluminense é controlada pelo MDB neocolonial. Trata-se de um tradicional partido (antigo PMDB) da direita brasileira que domina o Estado brasileiro federal e o Estado local do Rio de Janeiro. Logicamente, as milícias se ligam ao aparelho de Estado do MDB neocolonial oligárquico.   

Estas observações acacianas teriam efeito de realidade se o imaginário político brasileiro não estivesse sob o monopólio da sociedade do espetáculo eletrônico (que coloniza as redes sociais digitais), da sociedade de comunicação de massa.

Os recortes na linguagem da sociedade são realizados, principalmente, pelo imaginário político comandado pela sociedade de comunicação de massa. Remar contra tal correnteza é uma questão de sanidade mental em uma época de decomposição da democracia liberal.
O que o leitor acha disso? 

DA CONSTITUIÇÃO 1988 A CONSTITUIÇÃO 2016

Algum filósofo do direito já disse que a Constituição é uma coisa viva. Ela não é um pedaço de papel preenchido por palavras-artigos fixadas em um quadro na parede do gabinete do juiz como a borboleta morta. A Constituição é a borboleta voando.

Como as instituições, a Constituição não é um raio em um céu azul, pois, ela é feita por homens definidos por uma gramática da cultura política de um país. No caso brasileiro 1988, é a gramática da cultura política oligárquica.

A Constituição 1988 foi obra de homens da oligarquia política do sim e do sim senhor. O sim era a oligarquia política de oposição ao regime militar. O sim senhor era a oligarquia política que governou com os generais em um Estado militar oligárquico que começa com o general Médici.

A soberania popular do regime pós-ditadura militar teve que votar nos militantes da oligarquia política para a Assembleia Constituinte 1987-1988. O resultado foi a feitura de uma Constituição oligárquica com uma gramática que contemplou os direitos do Estado popular getulista. Só ser preso em última instância (STF) e ter Fórum Privilegiado (no STF), eis dois direitos de uma gramática político-judicial oligárquica.

As lutas contra a gramática oligárquica da Constituição 1988 dividiu a comunidade jurídica em duas. Uma fração oligárquica de advogados criminais e juízes do STF lutando pelo instituto da prisão em terceira-instância (STF), e uma fração de juízes federais, procuradores da República e juízes do STF pela prisão em Segunda-Instância. Tal luta se desenvolveu com a crise da soberania popular oligárquica que é crise da democracia oligárquica. Aí ficou claro que o eleitor é refém do imaginário da gramática da cultura política oligárquica. 

Em 2016, O STF criou uma nova Constituição em estado prático. Trata-se da Constituição republicana democrática 2016 que se determina pelo estabelecimento da prisão em Segunda-Instância e o fim do Fórum Privilegiado para o pessoal do Estado, que afeta, principalmente, a oligarquia política criminosa.

Amanhã, a Corte Suprema se reúne para decidir sobre o Habeas Corpus do candidato à presidência Lula. Está nas mãos da juíza Rosa Weber a decisão sobre o H.C. A juíza pode votar de acordo com a Constituição Oligárquica 1988 ou de acordo com a Constituição republicana democrática 2016.

Será Rosa Weber da fração oligárquica da Corte Suprema? Nesta quarta-feira de 04 de 2018, Rosa Weber decide se faz parte da ação política de uma democracia republicana inédita em 2019.

No dia 04/04/2018, a juiza Rosa Weber decidiu  negar o Habeas Corpus de Luís Inácio Lula da Silva. Sob o comando do pulso forte da presidente do STF (Carmen Lúcia), Rosa Weber parece ter jogado a pá de cal na era do bolivariano na América Latina. 

No início da noite de 07/04/2018, o ex-presidente Lula se entregou à Polícia Federal.  

 POLÍTICA E INCERTEZA GRAMATICAL
Com a prisão decretada, Lula faz um discurso em um palanque em frente ao sindicato de São Bernardo em claro desafio ao mandato de prisão. Após atacar, furiosamente, o Estado legal brasileiro, Lula diz que logo será solto, pois, a verdade está ao lado dele, um Lula inocente.
As massas do lulismo se levantaram em quase todo o país com violência, especialmente contra os jornalistas. Nesta presença presente, as massas do lulismo evocam as massas do fascismo alemão na década de 1930. O lulismo de massa é um movimento de massas fascista do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. 
Lula se entregou à Polícia Federal no início da noite do 07/04/2018. Na manhã seguinte, um jornalista de Grupo Globo diz que Carmen Lucia acatara a questão de ordem do juiz Marco Aurélio (da família oligárquica de Fernando Collor de Mello) para pôr em debate no pleno do STF o princípio da reclusão em segunda instância adotado em 2016 por esse próprio plenário.
Na linguagem rala da política traduzida pelo jornalismo, a prisão em segunda instância é uma confusão que começou em 2009. Até este ano, a prisão em segunda instância estava em vigor. Ela caiu devido a aplicação de força da oligarquia política criminosa sobre o STF em 2009.
A mudança de posição do PT foi decisiva nesse evento em tela. De partido de massas líder do lado político do republicanismo democrático, o PT se transformou em um poderoso partido de massas do lado da oligarquia política criminosa. Com o PT e o lulismo, as massas do bolivariano passaram a ser massas gramaticalmente disponíveis para o poder oligárquico do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.
O comportamento violento fascista das massas petistas neocoloniais (elas passaram a perseguir corporalmente os juízes Carmen Lucia e Fachin) pode ser um fato que quebrou o juízo inflexível de Carmen Lucia, segundo o jornalismo carioca.
O que está em questão? A candidatura de Lula para presidente em 2018!
A esquerda quer governar o Estado brasileiro, mas não se deixa governar pelo Estado brasileiro. Para o PT, o Estado brasileiro não é um fenômeno político legítimo, a não ser quando governado pela esquerda.
Se Lula não tomar de assalto o Estado brasileiro em 2018, o efeito provável é a desarticulação do regime do bolivariano na América Latina, regime que tem o apoio do jornalismo do bolivariano na Europa e nos Estados Unidos.
Como a política não é geologia (ela não se materializa em matéria tectônica ao ponto de definir a política antecipadamente ao fato gramatical), e sim gramática, ela depende do estado gramatical da correlação de força do momento determinado como fato gramatical, incluindo as massas na rua.
Hoje, a nossa política vive um fatal princípio de incerteza gramatical.  
    

   
  
       
 
        
                           

                  
   

              

      
           

                      


                   
 
      

                            

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